O périplo que o Bispo da nossa Diocese começou no princípio do ano, teve a sua última etapa no passado dia 23 de março. Na noite desse sábado, o salão paroquial da Batalha recebeu cerca de 250 jovens da vigararia do mesmo nome para poderem ouvir as respostas que o D. António Marto deu às perguntas que foram discutidas em diversos grupos juvenis das várias paróquias: Aljubarrota, Alpedriz, Batalha, Calvaria, Juncal e Reguengo do Fetal.
A Joana e o João foram os condutores do serão e não disfarçaram o nervosismo inicial que quem tinha a responsabilidade de fechar com a chave de ouro os nove encontros vicariais que foram programados para o primeiro ano do biénio dedicado aos jovens. Já o convidado principal, resultado também do traquejo arranjado nas edições anteriores, desde o primeiro momento mostrou o à vontade necessário para colher as simpatias da assembleia. Cada paróquia apresentou a sua questão ao prelado, num total de seis perguntas a que o Bispo diocesano fez questão de dar respostas sucintas e objetivas.
— Para ser cristão é preciso ser praticante?
À boa maneira jesuíta, D. António devolveu a pergunta com outra pergunta: “para ser desportista é preciso ser praticante?, para ser casado é preciso ser praticante?”. Claro que estas “provocaçõezinhas” foram a resposta mais elucidativa, mas o Cardeal quis explicar ainda melhor a necessidade que um cristão tem de transpôr para a sua vida a fé em que acredita. No fim resumia que “ser cristão é um caminho que se assume”, exortando os presentes a um verdadeiro compromisso.
— Como se motivam os jovens a rezar?
Na sua resposta, o D. António usou a metáfora que tanto gosta: “a espiritualidade é para a vida do cristão como o óleo para o motor; se o óleo falta, o motor gripa”. No entanto, a oração não deve ser aquilo que o Bispo apelida de “oração do papagaio” que se caracteriza pelo débito de um conjunto de fórmulas que se sabem de cor. E admite que pode ser fácil motivar os jovens a rezar desde que lhes sejam feitas as propostas adequadas. E essas não faltam, pelo que se apresentam vários exemplos que têm provas dadas de sucesso entre os mais novos: orações shemá, peregrinações, retiros para jovens. A citou mesmo dois exemplos ligados às novas tecnologias: o “Click to Pray” e o “Passo a Rezar”.
— Como é que a Igreja convence os jovens a seguir a vida cristã?
“A vida cristã é boa, bela e bonita, a nossa fé é uma história de amor”, começou assim o Cardeal que deu o exemplo da vida familiar onde existe gosto por viver quando cada um tem o seu tempo e o seu espaço. Na Igreja sucede da mesma forma: tem de haver espaço efetivos para os jovens das comunidades. Para além dos exemplos dos diversos serviços paroquiais onde cada um pode aplicar os seus dons, o Bispo fez uma referência especial ao voluntariado social enquanto campo privilegiado de ação das camadas mais jovens. Projetos de sucesso como a “Missão País” e o grupo Ondjoyetu “são projetos que ajudam a sentir o gosto da vida cristã no mundo”.
— Por que é que a Igreja não aceita os homossexuais, a eutanásia e os contracetivos?
A esta questão que, supostamente, poderia ser a mais problemática, D. António afirmou que “nós tratamos todas as questões com todo o à-vontade”, acrescentando que, por isso, “a premissa está errada”. Ou seja, partir do princípio que a Igreja “não aceita”, é, no entender do Bispo, mais uma “das teias de aranha que importa limpar”. No desenvolvimento da respostas, ficou patente a complexidade do tema, sobretudo porque verifica-se que as pessoas estão muito pouco informadas sobre aqueles assuntos. Resumindo a atitude da Igreja deve ter presente três palavras: respeito, acolhimento e acompanhamento.
— Com as recentes notícias de escândalos, como pode um jovem continuar ligado à Igreja?
D. António diz que esses escândalos nem deveriam ter explicação, de tão ignóbeis. Admite que, já nos evangelhos são registados atos de traição, como a de Judas e a da negação de Pedro, “mas isso não justifica os escândalos”. Diante deles há, efetivamente, gente “que bate com a porta e saia, mas também há os que sabem distinguir que não são todos iguais”. Concluiu que “nós todos também somos responsáveis por criar o clima para que isto nunca mais aconteça”.
— O que pode trazer a fé em relação ao futuro?
À última questão da noite, o prelado disse que “quem tem fé, nunca está só”, explicando que a confiança em Deus é uma vantagem que os cristãos têm para ajudar a conseguir a ultrapassar as dificuldades da vida e a ter mais esperança no futuro. A finalizar, convidou todos os presentes a repetir: “a beleza que eu descobri é também para ti!”.
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Alta Pressão
Como foi habitual nos outros encontros, também este teve um momento mais descontraído com perguntas e respostas rápidas.
Sagres ou Super Bock? Sagres.
Fátima ou Roma? Fátima.
Braga, Viseu ou Leiria? Leiria.
Carne ou Peixe? Peixe. Grelhado.
Benfica ou Sporting? Sporting.
Ronaldo ou Messi? Ronaldo.
Professor ou Bispo? Bispo.
Tinto ou Branco? Tinto.
Prosa ou Poesia? Prosa.
Tv ou Rádio? Rádio.
Calor ou Frio? Calor,
Sofia de Mello Breyner ou Tolentino Mendonça? Sofia de Mello Breyner
Doce ou salgado? Salgado.
Praia ou Campo? Praia e campo.
Instagram ou Facebook? Instagram.
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Obrigado, Sr. Bispo!
No final do encontro, os apresentadores fizeram um agradecimento ao D. António pela sua disponibilidade para ouvir os jovens. O texto, que transcrevemos já de seguida, também fez um apanhado de todos os encontros realizados.
Alguém disse: “temos as coordenadas como a pedagogia de Jesus: a aproximação, o caminho e o acompanhamento, o entrar no mundo deles, da escuridão que os envolve e na perceção dos seus dons, talentos, inquietações e busca interior, o abrir diálogo, a escuta da Palavra e o discernimento, o encontro e a descoberta que Ele está vivo.”
Na verdade não foi alguém que disse, foi o Sr. Bispo. Abrir ao diálogo, diz ele.
E foi isso que o Sr. Bispo fez, aproximou-se dos jovens da diocese; cerca de 2000 jovens, em 9 encontros, mais de 20 horas desse diálogo, e mais de 92 questões respondidas, algumas das quais de difícil resposta.
Por estes diálogos, por esta aproximação e pela certeza de um acompanhamento da sua parte, só nos resta agradecer em nome dos jovens que participaram nestes encontros, o seu carinho, a sua preocupação em vir até nós, para estar, ouvir e ajudar.
Obrigado por dar este protagonismo e atenção aos jovens da nossa Diocese em sintonia com o Papa Francisco que, na Jornada Mundial da Juventude no Panamá, afirmou «Queridos jovens, vós não sois o futuro, mas o agora de Deus».
Sr. Bispo muito obrigado.
O que disse quem esteve…
Como já sabia que os jovens iam fazer perguntas que não eram deles mas do grupo, já se previa que iam fazer algumas perguntas mais polémicas e imaginei que isso fosse acontecer. A bem dizer, as perguntas não eram polémicas, embora fosse desejo de levantar alguma discussão. A Igreja tem as suas bases e temos de saber respeitá-las, não pode ser à vontade de cada um e, nesse sentido, o D. António deu as respostas que devia ter dado, sem grandes alaridos. quando estamos inserido num grupo, devemos respeitar as regras desse grupo, e quem está à frente do grupo indica o caminho. Eu gosto do D. António enquanto bispo, é uma pessoa muito “terra a terra”. Achei que o encontro poderia ter tido mais participação, mas isso também precisaria de muito tempo. Destaco a questão da eutanásia que é um pouco sensível e que pode criar algumas confusões nas pessoas que só sabem do que se trata por ouvir falar superficialmente. Ruben, da Calvaria
Vim por ter sido convidada pelo grupo da Calvaria [nota da redacção: este grupo esteve a animar musicalmente o serão]. Foi melhor que aquilo que estava à espera. Foram feitas muitas perguntas pertinente aos Sr. Bispo e ele soube responder e esclarecer as dúvidas que havia. Eu não tinha grandes expectativas, não fazia a mínima ideia de como iria correr. E também nunca pensei que fossem abordar temas como a homossexualidade, achava que os jovens não iriam ter coragem de fazer essas perguntas. Pensava que a Igreja não estivesse à vontade para dar respostas a algumas perguntas, embora o Papa Francisco esteja a criar abertura para falar desses temas. A sociedade está a mudar e se a Igreja quer continuar a ter crentes tem que se abrir e perceber melhor o que se passa à sua volta. Não conhecia o D. António pessoalmente e acho-o muito amigo, muito afável, fácil de compreender e chega facilmente aos jovens. Retive a última frase: a beleza que descobri é também para ti. Pensei que, à pergunta sobre a homossexualidade, a resposta fosse que não era aceite. Afinal, a Igreja também percebe que os homossexuais são pessoas como nós e que não devem ser rejeitados, mesmo que a Igreja tenha uma visão diferente da sexualidade humana. Ana, da Batalha