Parece mentira. Não parece que as memórias daqueles dias estão meio difusas e estranhas? A perceção do tempo completamente errada, talvez como se fosse uma outra vida. “Vamos todos ficar bem” ouvíamos e queríamos acreditar que diante da tragédia que se abateu entre nós, seríamos capazes de construir novos caminhos, novas pontes, que ligariam quem eramos ao que gostaríamos de ser.
Depressa caiu por terra. Mas ainda demos luta! Compras passadas pelas janelas, companhia à distância, horas no zoom, criatividade, celebrar de igreja vazia, mas cheia de povo.
Mas o desejo e o sonho de uma nova oportunidade mantem-se.
Estamos a meio dos festejos. Uma leve pausa entre os festejos Natalícios e a festa do novo ano, o bolo Rei ainda não está demasiado duro.
Estes são dias propícios ao sonho, à expectativa, do que virá lá no novo calendário, o que nos espera. Um novo começo tem sempre algo de bom. Imagino que já todos tenhamos tido a mesma fantasia: um novo começo, uma nova oportunidade, “voltar a ter 20 anos e saber o que sei hoje!”.
É verdade que essa esperança pode ficar soterrada no espírito negativo do desânimo e do cinismo: “nada de novo debaixo do sol” diria o amigo Qoelet.
Mas apesar de tudo, se fomos capazes de sobreviver ao Covid somos capazes de tudo. Não foi como gostámos? Nunca é.
Nestes dias é inevitável olhar para trás, olhar para a frente.
O arrependimento e o que ficou por fazer tendem a falar mais algo. Mas como diz o S. Paulo: “não seja assim entre vós”.
Olhemos com misericórdia, com os olhos de Deus para o ano velho e com esperança para o novo.
Não será tempo oportuno para arrumar gavetas e cantos do coração que protelamos há tanto tempo? Se não agora, quando?
Temos a oportunidade de alinhar o nosso sonho com o sonho de Deus para nós. Ele que permanece apesar das voltas da história e das nossas trapalhadas e continua a desafiar-nos a tentar de novo, uma e outra vez. O Rocky Balboa diz que o que nos define não são as vezes que caímos, mas sim as vezes que nos levantamos.
A terra gira (em contramão) damos mais uma volta ao sol, e somos demasiado preciosos para protelar, para deixar para um dia que dê mais jeito.
Feliz ano novo!