O Coração de Jesus: um registo autobiográfico do amor de Deus tem pelo mundo

A profundidade do golpe que a lança disfere no Coração de Jesus é equivalente ao seu denso sentido teológico que o Papa explora no terceiro capítulo da sua encíclica. Este trabalho de sistematização dos pressupostos teológicos que balizam a devoção ao Sagrado Coração de Jesus permitem ao leitor sentir-se orientado, acompanhado e conduzido no seu encontro pessoal com o Senhor Jesus. Neste sentido, Francisco começa por clarificar que a devoção ao coração de Cristo não é o culto a um órgão separado e morto, ao jeito de uma relíquia pelo meio da qual se venera um exemplo de santidade, mas definitivamente a totalidade da pessoa de Jesus vivo, humano e divino e presente no meio de nós e para o qual a sua imagem de coração sobre o peito sempre aponta (cf DN 49). Este Cristo vivo, adorado no sacramento da eucaristia, é a fonte de todas as bênçãos deve receber de nós todo o amor que lhe possamos tributar, pois ao cultuar o coração de carne de Jesus fisicamente presente na hóstia consagrada somos transportados para a constância da eternidade e que remete sempre para Cristo inteiro, Deus verdadeiro e homem com a mesma carne da nossa (cf. DN 50). A importância e urgência desta consciência leva o Papa a consagrar à temática da veneração da sua imagem alguns números da sua reflexão (52- 58) onde aborda temáticas tão sensíveis como aprender a passar da devoção à imagem, «que de maneira nenhuma possa ser objeto de adoração, não é uma imagem qualquer» (DN 52), ao amor à pessoa de Jesus, o Deus que caminha connosco, e por essa via, merecedor de uma adoração profunda. Neste sentido a imagem do amor descreve na perfeição não só o ato de entrega total de Jesus como a devoção que ele nos merece daí que acredite que a realidade de amar é sempre física e química desenhada concretamente por Deus para mexer com a totalidade do ser humano daí que «quando uma pessoa se apaixona e está perto da pessoa amada, o batimento cardíaco acelera; quando alguém sofre um abandono ou uma desilusão por parte da pessoa amada, sente uma espécie de forte opressão no coração» (DN 53). Assim, prossegue Francisco, «é inevitável que, ao longo da história, o coração tenha alcançado uma força simbólica única, que não é meramente convencional» (DN 53) como a restante mole dos símbolos é antes biológica, natural e ontológica porque predica o ser humano de modo exímio que mais nenhuma realidade é capaz de traduzir. O caráter unitário que lhe está subjacente serve de um modo ímpar à causa do Coração de Jesus, pois, ao celebrar numa só realidade conceptual a profundidade do amor de Deus, perfura até ao mais íntimo da pessoa de Cristo (cf. DN 54). Nesta linha de pensamento acreditamos ser útil pensar no Coração de Jesus como modo único de ser pessoa e, nesse sentido, dotado de um pendor paradigmático de ação, que pela novidade e dinamismo que instaura comporta no seu «ADN» um conjunto de características operativas, que brotam da nascente do lado aberto fervendo de amor e que podemos elencar como principais: atenção, a presença, o testemunho, a escuta, a empatia, a simpatia e na medida que caminha connosco para nos ensinar a ser melhores uma sinodalidade que lhe está inerente (DN 54).

Esta conceção do coração como centro da pessoa e exemplo perfeito de unidade provém da conceção semita deste conceito que encontra eco nos textos bíblicos sobretudo do Antigo Testamento. O Papa alerta ainda para uma consciência de que a imagem do Coração de Jesus é sempre veículo para um aprofundamento da relação, e que por mais que a tentação de contemplação nos queira impelir a um movimento de abstração, concentração simbólica no coração e nas consequências do golpe da lança, nunca podemos deixar que a corporeidade do crucificado, que é a mesma do ressuscitado, fique posta em causa, pois, ao proceder deste modo, «poderíamos facilmente desnaturalizá-lo caso o contemplássemos separado da figura Senhor» (DN 55). Assim a imagem do coração deve ser o princípio, isto é, a ignição para que as labaredas do amor ao Coração de Jesus adorado verdadeiramente no sacramento da eucaristia, e que possa promover o ardente desejo de «re»descoberta de uma pessoa concreta que é Jesus nosso Deus e Senhor que revela o amor o «Coração de Deus» ao nosso coração extraído da terra ao terceiro dia da obra da criação (cf. DN 58).

Em jeito de síntese podemos dizer que o Coração de Jesus é o registo autobiográfico do amor Coração de Deus escrito pelo dedo de Jesus nas páginas da terra que somos e habitamos. Um coração que não ama está murcho e não faz mais do que a erva daninha que gasta os recursos do solo sem produzir qualquer fruto. Escolher aprender do Coração de Jesus é por isso o apelo urgente do Papa Francisco, acolher as suas palavras é, por isso, muito mais que as escutar ou ler concordando com elas com um irrefletido aceno de cabeça. É antes ter coragem de permitir que encarnem no nosso modo de ser cristãos em diálogo com o mundo em que vivemos, com todos as suas oportunidades, feridas e desafios.     

Como a riqueza das propostas do Papa Francisco neste capítulo III, necessitam uma leitura mais atenta, progressiva e tranquila guardaremos as notas da leitura dos números 59 em diante para a partilha da próxima semana onde abordaremos as temáticas do «amor sensível», da cristologia, das perspetivas trinitárias bem como os desafios da espiritualidade e devoção para os nossos dias.  

Formação para catequistas sobre ambientes seguros
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Retiro 24, para jovens
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8 de Março
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Formação sobre administração de bens da Igreja
22 de Fevereiro
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