O Conselho Pastoral Diocesano de Leiria-Fátima fez a sua última reunião do ano pastoral no dia 26 de junho. Da agenda de trabalho constou a normal avaliação do ano que está na sua fase final, com incidência particular no impacto que a pandemia teve nas actividades eclesiais, e nas iniciativas do Plano Pastoral do triénio.
Os trabalhos começaram com a habitual oração, durante a qual o cardeal D. António Marto fez a sua reflexão a partir da breve leitura que se rezou. Em jeito de enquadramento para a reunião, o bispo diocesano chamou a atenção para “a tentação de olhar para o passado, pensando que ele foi melhor do que o presente”, e referiu a necessidade de visão para o futuro. Foi neste contexto que citou palavras do Papa Francisco quando afirmou que “quem não olha a crise à luz do Evangelho, limita-se a fazer a autópsia de um cadáver”. Um dos aspectos positivos que nasceram da crise pandémica é a crescente “tomada de consciência de uma vazio de interioridade” por parte das pessoas, acrescentou o prelado, chamando a atenção para que essa busca de espiritualidade não é necessariamente enquadrada em valores cristãos e evangélicos. A esse propósito, chamou a atenção para o facto da Igreja oferecer muito moralismo normativo no lugar de propor o que é essencial da sua missão e que tem a ver exactamente com oportunidades de crescimento espiritual na fé. Neste ponto serviu-se da analogia do óleo no motor do carro: sem o primeiro, por muito sofisticado que seja, o segundo não funciona.
Outro ponto assinalado por D. António Marto é a necessidade de misericórdia, enquanto aspecto que marca indelevelmente o pontificado actual. “A Igreja deve ser um hospital de campanha, que acolhe os feridos como Jesus fazia, sem juízos pré-concebidos. Este tópico foi reforçado pela necessidade de se fazer um “revolução da ternura”, que permite distinguir o verdadeiro cristão pela atenção que dá ao outro.
Na continuação da reunião, o momento seguinte foi preenchido por trabalhos de grupo a fim de possibilitar a intervenção e a respetiva avaliação de todos os conselheiros. O resultado da partilha em cada um desses quatro grupos foi apresentado em plenário.
O negativo
No que diz respeito ao impacto da pandemia e às oportunidades e dificuldades criadas, constata-se que, no campo sócio-económico, houve um notório aumento de pobreza. Já na vida eclesial, constatou-se uma quebra de participação nas Eucaristias a que se acrescenta a ausência de participação dos jovens. A catequese também sofreu bastante com a crise, sendo que a opção por fazê-la online apenas evidenciou as dificuldades da própria catequese presencial. Também foi referida a grande dificuldade que as famílias têm em funcionarem como Igreja doméstica, pelo que se exige uma nova reconquista das pessoas para viver a sua fé nos seus lares. Na prática, a pandemia veio aumentar ainda mais o fosso entre as comunidades que são dinâmicas e as que não têm tantas competências. Estas últimas são um pouco o reflexo de falta de liderança de um pároco presente e algum clericalismo por parte da Igreja.
O positivo
Em contraponto, houve aspectos positivos que foram destacados, nomeadamente no que diz respeito à execução de alguns pontos do Plano Pastoral. Os presentes são de opinião de que houve muitas e boas ideias que tiveram uma concretização bem conseguida, embora com alguns parcos resultados ao nível da participação. Um dos bons exemplos veio da paróquia de Santa Catarina da Serra: a representante da vigararia daquela paróquia afirmou que a participação no Retiro Popular rondou as sete centenas de pessoas. Também a paróquia da Marinha Grande foi bom exemplo apresentado no âmbito da catequese familiar. Outro aspecto positivo foi a criação de equipas de acolhimento que deve manter-se no futuro. Também foi recebida com bastante agrado a alteração do Plano Pastoral de dois para três anos e o acrescento de pontos relativos à Jornada Mundial da Juventude e ao Sínodo dos Bispos.
O Sínodo dos bispos
No momento seguinte, o bispo D. António Marto tomou a palavra para apresentar a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, os seus itinerários e implicações para a Diocese. Para ajudar a contextualizar, referiu que o Papa Francisco está a usar um novo método para a realização deste tipo de assembleias, a sinodalidade, que pretende envolver as pessoas, entusiasmá-las e suscitar a criatividade. “É um caminho que se faz de baixo para cima”, explicou. Concretamente, o Papa pede duas coisas: que o caminho se faça em cada diocese e que haja participação de todos. Recorde-se que esta reunião dos bispos de todo o mundo terá início no próximo mês de outubro. D. António Marto quer que todos os presentes estejam entusiasmados e que ajudem a criar o dinamismo pretendido. Informou ainda que a Diocese já tem um responsável que conduzirá os trabalhos neste âmbito, o padre José Augusto Rodrigues.
Conclusão
A concluir a reunião, o bispo diocesano alertou para “não nos deixarmos contagiar pelo pior dos vírus: o desânimo”. É de opinião de que ainda não há distância temporal suficiente para fazer uma avaliação correcta do período que atravessamos, já que ainda não passou a fase do medo. “Temos de vencê-lo e contribuir para que outros o vençam”, exortou. Referiu ainda que deve haver uma maior sintonia entre os leigos e os pastores, confirmando a existência de algum clericalismo que limita a ação da Igreja.
Em jeito de conclusão, o cardeal focou-se em duas ideias que deverão nortear os participantes no Conselho Pastoral Diocesano: a fidelidade ao Evangelho presente em todas as actividades pastorais, e a criatividade como desafio que ajuda a ultrapassar as limitações impostas pelo medo do erro com a ajuda da confiança no Espírito Santo. “Para mim, estar neste Conselho é um estímulo e dá-me ânimo”, finalizou.