NAMORO?

Afinal, o que se passa? O significado de namoro já não é o mesmo em português. Para uns significa uma coisa, para outros significa algo mais, mas sempre em relação com o amor. A palavra namoro vem da expressão castelhana “en amor“. Daqui evoluiu para “enamorar” e, depois, pela perda do e, para “namorar“.

Como entender, então, esta palavra no nosso país e no nosso tempo? Permitam-me que use uma interpretação pessoal, sem fundamento linguístico, mas possível na atualidade. Ei-la:

Um sentido desta palavra namoro podia ser “não moro… (com)“, mas sem esquecer o amor, contexto em que é usada. Esta era a ideia com que se ficava no século passado quando se apresentava o “namorado” ou “namorada” a alguém. Assim, era costume “não morar” juntos durante o tempo de namoro, e até durante o noivado. Se na conversa, os namorados (ou noivos) percebessem que não tinham condições para concretizar os seus ideais, a conversa acabava com algum desapontamento ou tristeza, mas, por ter havido respeito por si, pelo namorado e, sobretudo, pelos filhos, não se fechava a porta ao amor.

Recordo aqui o cuidado de um apaixonado, este já do séc. XXI. Disse à rapariga que queria namorar com ela, mas com três condições, caso contrário não valia a pena começar. A primeira condição era a de se encontrarem sempre em lugares públicos. A segunda, a de nunca se encontrarem à noite, a não ser na companhia dos pais ou irmãos dela. “E qual é a terceira?”, perguntou ela. “A terceira é teres um par de estalos preparados para o caso de eu me esquecer de alguma das duas anteriores.” Vamos satisfazer a vossa curiosidade, reproduzindo a resposta da jovem: “Olha, assim, eu não quero namorar contigo! Eu quero é casar contigo!”

O outro sentido que se dá ao “namoro“, o mais recente, pode significar “n(ão) amor”, que quer dizer “sem amor”. Na vida real, os factos não são certezas matemáticas. O amor é um mistério para os próprios que se amam. Por que razão uns matam, e outros se deixam matar “por amor”? Usam a mesma frase, mas será verdadeira? Não será que os primeiros matam por amor a si próprios, porque a sua vontade está acima do bem dos outros? E os segundos, não preferem eles que os outros sejam felizes embora tenham eles de sofrer? O “morar com” durante o tempo de “namorar” pode levar à geração de um filho. Será que estes “namorados” estão em condições de o criar, têm a maturidade suficiente, a generosidade necessária e a capacidade económica para se responsabilizarem pela sua criação e educação? Irá o pai abandonar a futura mãe? Irão os pais da “namorada”, ou o próprio “namorado”, exigir que ela aborte? É doloroso seguir este raciocínio tão triste. Tomemos outro caminho.

Jesus, sendo Deus, chamava-se a si mesmo, enquanto viveu na Terra, “Filho do Homem”. De facto, nesta só pessoa há duas naturezas: a divina e a humana. Por outras palavras: o modo divino de Jesus amar é o exemplo que os homens devem seguir, pois também foi um modo humano de amar. Deus ama infinitamente os homens e não quer que pereçam para sempre; não deseja que sofram, mas deseja que saibam amar plenamente, como Ele amou. Faz parte do amor confiar no ser amado e na sua capacidade de amar, pois o segredo da felicidade do amor está na sua reciprocidade: o marido amar a mulher e ela amar o marido; o pai amar o filho e este amar o pai; o irmão amar cada irmão; o amigo gostar do amigo e este manifestar-lhe também amizade.

Com a vinda de Cristo à terra, o amor de Deus pelos homens ganhou em dimensão e em ternura. Antes, estava dirigido a um povo, o povo escolhido, os judeus; e a uma porção de terra. Depois, destinou-se a todos os povos do mundo e já não como a cidadãos de um povo, mas como a filhos, filhos de Deus. Além disso, Deus confia na nossa capacidade de amar: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, dando a nossa vida pelos outros, do namorado/a, do cônjuge, dos filhos…

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