Celebra-se neste domingo o Dia das Missões, e no dia 18 foi S. Lucas. Missões não só as dos missionários que a partir das viagens marítimas do séc. XIV eram enviados (mensageiros) para países distantes onde a fé cristã e o anúncio do Evangelho ainda não teriam chegado. Eram chamados missionários ad gentes, por irem evangelizar os gentios não cristãos. A festa de S. Lucas foi convite a folhear o Evangelho que ele escreveu quando, já médico e erudito nas culturas gregas e romanas, terá tido a surpresa de se encontrar com S. Paulo, Timóteo, Silas em Filipos, no Norte da Grécia e Macedónia, e com algumas mulheres a que se juntou a comerciante de púrpura chamada Lídia. Lucas de tal modo se tornou seguidor de Cristo que veio a escrever um dos relatos estimulantes do que foi ouvindo aos outros apóstolos e testemunhas diretas sobre a vida terrena de Cristo. Escreveu sobre o nascimento e a infância de Jesus. Um dia perguntaram ao D. Teodoro de Faria, bispo emérito do Funchal como Lucas teria tido conhecimento do que escreveu sobre a infância de Jesus. D. Teodoro de Faria respondeu que terá sido por ter falado com Nossa Senhora. A tradição atribui a Lucas uma certa proximidade da Mãe de Jesus que até terá pintado o seu retrato. Ela foi a Primeira Missionária que o anunciou Jesus na Visitação a Isabel e continua hoje nas suas aparições pelo mundo.
Mas S. Lucas com os apóstolos e outros discípulos, foi missionário evangelizador pela escrita conhecido como o o evangelista das parábolas mais marcantes da misericórdia, entre elas, a do Pai de amor incondicional ao filho revoltado e arrependido, se me é permitido mudar o título em vez de “Filho pródigo”. Um dos modos de ler S. Lucas em Dia das Missões é o de escolher os relatos em que Jesus foi o Missionário ou Mensageiro do Pai, ao anunciar e explicar o Evangelho do Reino de Deus. Às multidões foi Ele que disse: «Tenho de ir anunciar a Boa Nova do Reino também às outras cidade porque para isso fui enviado» (Lc.4, 43). Relata no cap. 9 a missão dada aos Apóstolos como Lucas diz: «Enviou-os a proclamar o Reino de Deus e a curar os doentes» e acrescenta: «eles puseram-se a caminho e foram de aldeia em aldeia e anunciaram a Boa Nova e realizando curas por toda a parte»; e pôs as condições para falar d’Ele: «Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, deles se envergonhará o Filho do Homem». E no cap.10 S. Lucas relata a missão dos setenta e dois discípulos unindo-a à oração: enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares a onde Ele devia ir e recomendou: «A messe (a missão) é grande»; e a seguir, Jesus pede que rezem pelas missões e para que o Senhor convide mais missionários porque são poucos e os envie para sua messe a evangelizar e colher os seus frutos. Eram poucos no tempo de Jesus. E hoje? Será que Jesus também diz para alguns batizados de hoje, esquecidos de que o são: «quem não me tiver reconhecido (me tiver negado) diante dos homens também não será reconhecido diante dos anjos»? (Lc.12, 8-12). E Jesus profetizou claramente que a vida dos seus enviados não seria um mar de rosas e facilidades (como também não foi para Ele), nem há dois mil anos, nem é hoje, como às vezes se faz crer: «Quando vos levarem às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não vos preocupeis com o que haveis de responder nem com o que haveis de dizer em vossa defesa. O Espírito Santo vos ensinará naquela hora o que haveis de dizer». Foi precisamente no fim do seu relato evangélico que Lucas deixa o aviso que ia valer para todos os missionários de ontem e de hoje ao dizer-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e ressuscitar de entre os mortos (…) Vós sois as testemunhas destas coisas» (Lc.24, 46-49).
Os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, já teriam esquecido o que ouviram dizer a Jesus como Lucas relatou no cap. 12 (acima) e, por isso, certo dia pedem o incrível, sentar-se um à direita e outro a esquerda de Jesus no seu reino, mas era no reino do suposto messias temporal de muito poder, dinheiro e glória. Já teriam esquecido, mas Jesus lembrou-lhes que o seu Reino de Glória era só para depois da morte e ressurreição d’Ele e também da deles, Tiago e João. Foi para morrer por toda a humanidade que Ele incarnou e se os tinha chamado para O seguir; e morrer para testemunhar a sua divindade com o martírio, também lhes estava reservado se eles respondessem que aceitavam beber o cálice da sua paixão e morte que Ele ia beber e serem batizados com o batismo com que Ele ia ser batizado (morte). Responderam que sim, aceitavam. Mas Jesus foi claro, que nem assim lhes podia garantir os lugares que ambicionavam, nem aos outros apóstolos que já estavam indignados com Tiago e João. Esses lugares já estavam reservados para outros (Lc.21, 12-21). Claro, eles teriam outros lugares na Glória. Ser testemunhas, mensageiros e missionários é dar a vida ao serviço de Deus e do próximo; e viverem a esperança de peregrinos da vida eterna e não apenas esperança de glória temporal efémera.
O Papa dá o título da sua mensagem para o Dia das Missões: «Ide e convidai a todos para o banquete (cf. Mt. 22, 9)» . Este banquete foi iniciado na primeira Eucaristia e consumado na cruz, precisamente o banquete da entrega esponsal de Jesus Cristo com toda a Humanidade. E é um banquete de festa, mas final ou escatológico, diz o Papa (nº 2), mas já após a “aniquilação da morte” e não durante a evangelização. A dos primeiros séculos e as Missões posteriores em tantos países frutificaram até ao presente em milhares de batizados mártires que testemunham a divindade de Cristo como Lucas e os apóstolos.