Li com agrado o articulado de Afonso de Melo publicado no Jornal “Sol” de 24 de maio de 2024, acerca das memórias que guarda do Oriente e da grande importância que o tio Carlos de Melo, tropa na India em Panjim nos anos 1956/1957, teve na gravação na sua memória, de mãos dadas com a imaginação do menino que então era, de um cenário de «templos, elefantes e tigres escondidos na floresta tal como os li nos livros de Emílio Salgari». Escreve Afonso de Melo que, quando pegou no livro de Borges da Cunha, veio-lhe de imediato à tona do pensamento o Tio Carlos que, tal como o autor de “Memórias do Oriente”, um apaixonado pela Índia, o fez escrever que «quando fui mobilizado para prestar serviço militar, no antigo Estado da Índia portuguesa estava longe de pensar que este passo involuntário seria o início da maior e mais frutuosa aventura da minha vida, do ponto de vista cultural e humano (…)»
Toda a ambiência cultural da Índia seduziu a alma destes dois homens apaixonados pelos caminhos percorridos por Albuquerque. Tiveram que voltar lá várias vezes inebriados e embevecidos pela cultura hindu. Borges da Cunha teve que revisitar, uma, duas, três e quatro vezes amigos e antigos colegas de escola e lugares que ainda traduzem bem as marcas dos portugueses. E tirou fotografias, muitas fotografias a monumentos antigos e descreveu costumes, cerimónias e rituais que fez constar do seu valioso livro sobre a India de então e dos nossos dias, que ficará para a presente e futuras gerações. Borges da Cunha, autor da Barreira de Leiria, é poeta e um verdadeiro historiador…. Pôs em prática na sua vida adulta um certo inatismo para a investigação histórica, tão bem patenteado naquele dia em que passava com o pai muito perto da Quinta do Barão. Este informou-o que o “Barão foi morto na Pederneira quando vinha da Nazaré”. E mais tarde escreveu a história do Barão de Porto de Mós.
Qual destes dois homens é o mais apaixonado pela Índia? Afonso de Melo foi à terra dos seus encantos mais de quarenta ou cinquenta vezes desde 1990, Borges da Cunha escreveu um belíssimo livro que encanta o leitor que, não saindo do lugar onde se encontra a ler, o faz passear e ver «lugares e monumentos como igrejas, museus, palácios e outras pedras centenares, nos mesmos estilos arquitetónicos de Portugal, mas aqui, no Oriente “banhados” da luz, cor e tradições locais», palavras de Alberto Faria no prefácio do livro “Memória do Oriente”.