Após um mês de interrupção retomo as minhas notas. Da peregrinação organizada pelos Missionários Combonianos com cerca de três dezenas de participantes ofereço estas primeiras leituras de sentido mais marcante da Lituânia, Letónia e Estónia. Leituras dos títulos de algumas páginas da sua história. O grande teólogo Von Balatasar escreveu que Cristo é o Senhor da História. Os cristãos são convocados a ler a sua presença por onde se deslocarem; e com mais razão em ano de Jubileu da Redenção. Será que se pode captar o sentido do amor redentor de Cristo? Não faltaram belezas e marcas de sentido: originalidades, florestas, microclimas, planícies e searas infindáveis, e joias de âmbar feitas rosários na Colina das Cruzes. Os guias ajudaram a fazer leituras sobre as igrejas históricas das três capitais: Vilnius, Riga e Talin.A Lituânia é o país mais católico, Letónia o mais luterano e Estónia o mais pagão e, íamos verificar, que seria o mais comercial com a capital apinhada de turistas, dos ferries, e cruzeiros; e é, ainda, o mais fortificado pelas altas muralhas e torres colossais, ainda levantadas, construídas pelos Cavaleiros da Espada e os Teutónicos. A Lituânia manteve sempre mais relações com a Polónia e até fusões com ela. Todos os três foram países católicos desde o séc. XII até à divisão luterana cismática do século XVI. Os três estiveram sempre sujeitos à cobiça Russa do Czares e dominados pelo comunismo soviético depois da II Grande Guerra até 1991. E agora?
A leitura cristã de Vilnius foi facilitada pelo guia e pelo opúsculo “Vilnius Churches. A Guide”, de 56 pp., sobre 36 igrejas, paroquiais, conventuais, luteranas, ortodoxas… Notei que a de Santa Cruz a partir de 1635 foi também uma dos hospital-conventos dos Irmãos de S. João de Deus (Bonifratres).O grupo de peregrinos visitou, orou e celebrou a missa nalgumas das capitais. O guia convidou a conhecer com mais atenção a de S. Pedro e S. Paulo, construída, em 1668, pelo governador maior da Lituânia, Miguel Casimiro, pio e devoto que quis no seu epitáfio o nome de “pecador”. Têm muitas figuras de gesso em baixo relevo de artistas italianos com expressões da astúcia do demónio disfarças e escondidas que exigem muita atenção para serem desvendadas: Nelas se mistura o mitológico, o demoníaco, o filosófico e o sentido bíblico sob o olhar de Deus representado na cúpula. Deixo para outra nota a colina dos soldados mortos de Napoleão e a colina das Cruzes.
A visita à universidade deu a conhecer o colégio dos Jesuítas que tinham em Vilnius ainda o noviciado e mais duas igrejas. A igreja luterana é de 1555, reconstruida no século XVII, e no tempo soviético feita lugar de desporto e interior quase inteiramente danificado. Em 1991 foi devolvida e renovada. Na rua da Porta Aurora contemplou-se a Madona de Vilnius, a “Mãe de Misericórdia, à vossa proteção recorremos” e, na mesma rua, visitámos o convento das Carmelitas onde a imagem da Divina Misericórdia revelada a Santa Faustina Kovolska foi exposta durante algum tempo. O grupo orou por momentos diante de Jesus Eucarístico exposto. Recorde-se que Faustina viveu vários anos em Vilnius e aí começou o seu “Diário” por indicação do Pe. Sopocko:1929 e 1930 e tal. Em 1933, a pedido deste sacerdote, o pintor Eugenio Kasimirowski pintou a imagem de Jesus Misericordioso como a Irmã Faustina lhe ia indicando.
Em Riga, a maior das três capitais, impressionou logo a visita aos quatro pavilhões colossais do mercado, ao lado da estação central e do porto onde se via uma fragata. Espanta vê-los recheados de tudo e faz pensar no que nos dizia o guia, são países que se bastam com a sua produção. Também dá nas vistas o parque de carros novos topo de gama. A catedral luterana dedicada à Virgem Maria é a maior dos três países com um claustro-escola imenso e uma cúpula altíssima; e a catedral de S. Tiago, ao lado, passou aos católicos em 1923. Apesar ser o país mais luterano há igrejas ortodoxas gregas e russa, e católicas. A guia fez questão de nos mostrar o bairro de dezenas de fachadas de prédios em “arte nova”: assimétricas, com abundância de caprichos curiosos.
Nesse dia a missa do grupo foi na igreja de S. Maria Madalena em que o Pe. Jorge pediu ao Pe. Aires para presidir e fazer uma reflexão em que evocou a ação de graças pelos dons recebidos ao longo da sua vida no mês de agosto: nascimento, primeiras comunhão e peregrinação a Fátima (1937), ordenação, entrada nos Irmãos de S. João de Deus, nascimento. Mal pensava que nesse dia 23, já deitado, no hotel, ia receber o telefonema de D. Nuno, a comunicar que o D. Teodoro de Faria tinha falecido. Prometi que no dia seguinte em Talline ia celebrar por Ele.