Há momentos grandes na vida de todas as pessoas. Há festas importantes em cada família ou comunidade. São “marcos” – que deixam marcas – na história da vida pessoal, familiar e comunitária que merecem e requerem ser evocados, celebrados, rezados e meditados à luz da fé, em Igreja.
Foi desta forma que o bispo da diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto, iniciou o seu convite aos casais, sacerdotes e consagrados que celebram durante o ano corrente os 25, 50 ou 60 anos da sua vocação. “Queremos continuar a iniciativa de celebrar, de um modo especial, o ‘Jubileu das Vocações’ ao matrimónio, ao ministério sacerdotal e à especial consagração na vida religiosa ou na vida secular”, explica o Cardeal, justificando assim a realização a iniciativa que ocorreu no seminário diocesano de Leiria no dia 1 de junho.
A organização deste evento envolveu a cooperação dos serviços diocesanos de Animação Vocacional, da Pastoral Familiar e da Vida Consagrada, bem como a direção diocesana da Conferência dos Institutos Religiosos. A celebração “será um momento alto para reviver e reavivar o encanto e a frescura do primeiro ‘sim’, para celebrar o caminho percorrido e correspondido ao longo da vida, para agradecer a Deus os frutos que, através destas vocações, suscitou ao serviço da vida e do amor, e para renovar os compromissos vocacionais”, como referia o Bispo de Leiria-Fátima na primeira vez que promoveu a iniciativa.
Histórias para contagiar
Para além de quatro sacerdotes e três religiosas, marcaram presença 46 casais, entre os quais se contavam três que fazem 60 anos de matrimónio. O programa iniciou na aula magna do seminário onde, logo pelas 10h00, o D. António Marto deu as boas vindas a todos e partilhava o seu contentamento por fazer parte da festa.
“Não é a data que é memorável, mas sim a história que foi vivida, com todas as suas alegrias e tensões”, afirmou o Bispo, explicando que os jubileus são uma benção para quem os celebra, mas também para os outros, pelo testemunho que dão e que, “por isso, não devem ser atos privados, mas vividos em Igreja, para que a história seja contagiante”.
Histórias para contar
Se o prato principal do programa era a celebração da Missa de acção de graças pelos jubileus, a entrada foi servida testemunhos dois casais — um com 25 e outro com 60 anos — uma religiosa e um padre.
A abrir as hostilidades, estiveram a Ana e o Martin, que festejam as bodas de prata de um percurso em que travaram conhecimento quando o Martin fazia Erasmos em Coimbra. A vida deles estabilizou, mas a distância que os separava também os afastou do sedentarismo que chegou com o primeiro rebento do casal. Até lá, foram-se conhecendo cada vez melhor na Alemanha e em Portugal, afinando projetos e aprimorando a comunicação. Hoje, vivem em Leiria onde com os seus três filhos numa casa que construíram ao lado da dos pais da Ana.
Ela, que por razões que facilmente se percebem assumiu as maiores despesas da comunicação, falou nas ajudas que tiveram durante a vida e que foram fundamentais para serem a família que são hoje. “A primeira ajuda, somos nós próprios”, começou por dizer, centrando a importância na vontade de capa elemento do casal em ultrapassar as dificuldades e sintonizar a mesma onda. “Não me importo que ele passe horas a ver futebol”, afirmou. O espanto da audiência foi evidente, mas o travão foi posto logo a seguir: “desde que esteja a passar a ferro”. Neste jeito de brincadeira, justifica que “são estes encontros que fazem a nossa vida”.
Depois enumerou mais três “pilares fundamentais”: a família, os amigos e a paróquia. Fazer parte das Equipas de Nossa Senhora (ENS) é fundamental e dão “um contexto familiar muito bonito”. Daí que tenha deixado um convite a que todos os casais procurem fazer parte de uma ENS.
A fechar a intervenção do casal, o Martin revela uma pequena surpresa. Tira do bolso um pacote de açúcar que tinha trazido de um café do dia anterior. Só porque tinha escrito: “25 anos a fazê-lo sorrir”. Um breve beijo entre o casal deu a vez ao próximo testemunho.
A irmã Lídia Branco pertence à congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima e é freira há 25 anos. “Ainda a missa vai a meio”, brincou, como parece ser típico numa bragantina nascida numa pequena aldeia que deu à Igreja cinco padres e 4 religiosas. Para ela, e porque “a fé não cresce por proselitismo, mas por atração”, o testemunho de outras pessoas foi o mais importante na sua descoberta vocacional.
Tirar pedrinhas do sapato
Com bem mais experiência nestas coisas da vida, apresentou-se o casal Márcia e Augusto. Vieram da Marinha Grande, onde viveram os últimos 44 anos dos 60 de casamento. Conhecem-se desde os 14 anos de idade, mas o seu percurso ficou definitivamente marcado pela participação num Cursilho de Cristandade há 52 anos. Hoje, fazem parte das ENS que, segundo eles, “foi a coisa mais extraordinária que nos aconteceu”. Por não poderem ter filhos biológicos, a participação nos serviços da paróquia foi a resposta para a tristeza que isso lhes causava. O Augusto, depois de se reformar, passou a integrar a Conferência de São Vicente de Paulo. “Para ajudar os outros”, disse, porque “não sei se amanhã não são os outros a ajudar-me”.
Antes de terminar, não quis deixar de revelar um segredo da longevidade do seu casamento: “não quero ir dormir de costas voltadas; já quando namorava não gostava de deixar as coisas com a pedrinha no sapato”.
Ser graça de Deus
O último testemunho da manhã esteve a cargo do padre José Baptista que, actualmente, é pároco do Souto da Carpalhosa e Monte Real. Ao passar em revista a sua história pessoal, deu a conhecer que a sua decisão de entrar para o Seminário foi feita aos 16 anos. “Na altura era uma idade avançada” e, por ter deixado de estudar há vários anos e trabalhar numa serração, isso obrigou a equipa formadora do Seminário a uma ginástica acrescida.
Nascido numa família com dez filhos, explicou que nunca teve muitas dúvidas acerca dessa opção. “Provações, existiram, mas cada vez gosto mais de ser padre”, afirmou, explicando que “quando corremos riscos, Deus intervém quase diretamente, através das pessoas”. Falou do seu grande defeito que também é uma grande virtude: “gosto de andar sozinho, procuro a solidão, porque é aí que me encontro com Deus”. Mas esclarece que, simultaneamente, “tenho necessidade das pessoas” e que, por isso mesmo procura estar presente nas atividades diocesanas “para estar em comunhão e ser graça de Deus para os outros”.
Irradiar o testemunho por contágio
Depois dos testemunhos e uma breve pausa para o café, os participantes celebraram a Eucaristia presidida por D. António Marto.
Durante a homilia, o Bispo diocesano fez uma referência particular à leitura dos Actos dos Apóstolos (Actos 18, 23-28) que fala do casal Priscila e Áquila, amigos de São Paulo, por terem sido dos primeiros cristãos evangelizados por ele. É um trecho do novo testamento que “apresenta a família como primeira escola de amor de de fé, para além de ser célula da sociedade”.
A partir deste episódio, D. António Marto explicou que “não há competitividade entre as diferentes vocações, mas cooperação e comunhão”. Por detrás das vocações existe sempre um chamamento de Deus que é discernido “pedindo a Ele que ajude a trazer ao de cima o melhor de si mesmo”. Nas palavras dirigidas aos jubilados, deu-lhes conta da responsabilidade e da graça que é o seu testemunho: “a vossa vida não foi fácil, mas arriscaram e confiaram no Senhor, através da oração, que é a alegria de sentir que Ele caminha connosco”.
Depois da celebração, o encontro encerrou com o almoço partilhado entre todos os presentes.
Galeria de fotos
https://photos.app.goo.gl/ALEgmX5DbPXSGuet7