Igreja e fronteiras: a perceção de um jornalista ateu sobre a mensagem de Jesus

João Miguel Tavares, jornalista e cronista assumidamente “estruturalmente ateu”, partilhou a sua visão singular sobre os Evangelhos e a vivência cristã, destacando o impacto universal das mensagens de Jesus, mesmo entre os que não professam a fé. Para o jornalista, apesar das controvérsias e crises enfrentadas pela Igreja, Jesus permanece uma figura intocável e profundamente admirada.

“A Igreja pode ter muitos problemas, como os escândalos de pedofilia, mas Jesus Cristo tem ótimas relações públicas. Ele permanece quase sempre intocado. Mesmo os ateus reconhecem que o que está escrito nos Evangelhos é revolucionário e espantoso, com uma reverberação de verdade que atrai”, afirmou em declarações à Agência ECCLESIA.

Para João Miguel Tavares, as parábolas e narrativas dos Evangelhos não se aprisionam nas linhas do catecismo. Em vez disso, revelam algo profundo e misterioso que transcende interpretações rígidas. “O mistério é vivo e está sempre presente. Quando tentamos prendê-lo, ele solta-se, e as histórias de Jesus continuam a iluminar o nosso ser”, sublinhou. A partir desta perspetiva, o jornalista identifica uma “fonte de trabalho” nas “fronteiras do ateísmo”, onde acredita residir um espaço de interrogação e busca espiritual.

O cronista confessa que encontrou respostas e sentido em autores e teólogos que marcaram o seu percurso. Destaca Richard Kearney, com a sua expressão “anateísmo”, que descreve a busca por Deus após a ideia da “morte de Deus”. Para Tavares, a visão de um Deus frágil é particularmente apelativa: “O cristianismo pode ser entendido como uma religião nas fronteiras do ateísmo, algo que pode interessar a muita gente. Um Deus que nasce frágil e morre na cruz é uma imagem poderosa e transformadora”.

Apesar de se identificar como ateu, o jornalista celebra semanalmente a Eucaristia em família. “Lá em casa, os ateus também vão à missa”, afirma, explicando que encontrou na celebração uma estética singular, onde “a palavra é levada a sério” e a “arte fala de Deus”. João Miguel Tavares considera que a experiência litúrgica oferece uma dimensão de interrogação e beleza que o interpela.

O seu percurso de aproximação à fé foi marcado por encontros e amizades significativas. Depois de ser batizado em criança, celebrou a Eucaristia e o Crisma apenas em adulto, após uma fase que descreve como “conversão”. Entre as figuras que o influenciaram estão um professor de Educação Moral e Religiosa Católica, Moisés Esteves, e o padre Armando Alves, que o conduziu ao movimento Convívios Fraternos, em Portalegre. Estes encontros abriram-lhe as portas para experiências marcantes, como as viagens a Taizé, uma comunidade ecuménica em França que frequentou com regularidade.

Sobre Taizé, descreve uma espiritualidade essencial e despojada. “Lá vive-se a fé no osso, sem grandes estruturas teológicas ou discordâncias. O que permanece é a simplicidade evangélica, o chão comum entre protestantes, ortodoxos e católicos”, partilhou.

Hoje, João Miguel Tavares sente-se confortável na participação regular na Eucaristia. “Tenho problemas com o próprio credo, mas nunca me senti tão em paz como agora”, concluiu. Para o jornalista, a fé é também uma forma de inspiração e questionamento, um ponto de encontro entre o mistério e a humanidade.

A entrevista completa poderá ser ouvida esta noite no programa ECCLESIA, emitido na Antena1, após a meia-noite, e estará disponível no podcast «Alarga a tua tenda».

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