Homenagem a D. António Marto: “vamos andar por aí consigo”

A aproximar-se o dia em que o prelado vai deixar o governo da diocese de Leiria-Fátima, um grupo de amigos organizou um serão em que estiveram presentes mais de 300 pessoas que, de alguma maneira, se sentiram marcadas pela sua personalidade.
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Mais de três centenas de pessoas juntaram-se um dos salões da Quinta do Paúl, na Ortigosa, para o jantar de homenagem ao cardeal D. António Marto. A aproximar-se o dia em que o prelado vai passar o governo da diocese de Leiria-Fátima para D. José Ornelas Carvalho, o que acontecerá no próximo dia 13 de março, um grupo de amigos organizou um serão em que estiveram presentes pessoas que, de alguma maneira, se sentiram marcadas pela sua personalidade.

O programa do dia 28 de fevereiro foi simples. Gente dos quatro cantos da Diocese, desde autarcas municipais e locais, sacerdotes e até simples cidadãos que, mesmo não conhecendo pessoalmente o bispo D. António Marto, quiseram marcar a sua presença a partir das 20h00. 

Depois da refeição, os habituais discursos marcaram a noite. Subiram ao palanque os dois principais promotores da iniciativa: Mário Rodrigues, presidente União de Freguesias da Boa Vista e Santa Eufémia, e Raúl Castro, presidente da Câmara Municipal da Batalha.

O edil batalhense aproveitou para elogiar “simplicidade e a profunda cristandade que constituem algumas das principais marcas do seu legado, sempre com especial atenção para as crianças, indefesos e peregrinos de Fátima”. Para Raúl Castro, D. António Marto é “alguém com um humanismo impressionante, uma humildade que o enobrece, sempre se manifestou disponível para ajudar a resolver algumas questões da sua Igreja”. Essa foi uma das razões que levou à concretização do evento que, embora o atual administrador apostólico não desejasse por preferir resguardar-se dos normais protagonismos do seu cargo, acabou por sensibilizar o cardeal. 

“É com enorme gratidão que lhe agradecemos todo o trabalho que desenvolveu, todos os escritos que nos vai deixar e, acima de tudo, o coração humilde com que sempre se apresentou”, referiu ainda o autarca, tendo concluído desta forma: “vamos andar por aí consigo”.

Durante o jantar foram entregues lembranças e prendas ao homenageado, tendo sido algumas delas adquiridas com a ajuda dos contributos de todos os presentes. Destaca-se, para além de um útil computador portátil, a oferta de um retrato do cardeal, pintado pela artista plástica Zinaida Loghin, natural da Moldávia e radicada em Portugal há mais de 18 anos, onde executa trabalhos de pintura em tela, iconografia sacra, policromagem de imagens talhadas em madeira, pintura e restauro de estandartes.

A ocasião foi aproveitada para a pré-apresentação da obra que, para além de retratar os momentos mais importantes do ministério de D. António Marto, reúne as cartas pastorais que foram publicadas ao longo dos 16 anos da sua presença em Leiria-Fátima. Este livro, que tem por título “Cardeal D. António Marto: Teólogo e Pastor” e que, no momento da homenagem, ainda não está impresso, vai ser apresentado e oferecido a D. António Marto no próximo dia 6 de março, no final da Missa ação de graças e da sua despedida da Diocese. Nesse dia, estará também disponível ao público, para quem quiser adquirir. 

No final da noite, era visível a felicidade estampada no rosto do prelado. As palavras que dirigiu aos  amigos presentes foram de natural agradecimento por tudo aquilo que recebeu durante a sua presença na Diocese, ”que é muito mais do que aquilo que vos dei ou vos ensinei”. Aproveitou para confidenciar que “entre vós, pude sentir-me sempre em família, um bispo irmão entre irmãos e irmãs”. A tónica da fraternidade esteve presente na maior parte do seu breve discurso: “se houve alguma coisa que eu tinha sempre presente, era fazer-me próximo, de todos, sem distinção, sem discriminação, sem olhar à condição social, sem olhar às diferentes crenças”. Não esqueceu “de maneira particular os mais pequenos, merecedores de ternura, e dos mais frágeis”. O futuro bispo emérito de Leiria-Fátima confidenciou que sempre teve uma “particular proximidade afetiva com os doentes, com os idosos e com os presos”. Acerca destes últimos, lamentou que não tenha podido ir mais à prisão durante a pandemia. “Gostava muito de ir lá, e lá assisti a verdadeiras mudanças de vida”, explicou.

O tom foi ainda marcado por uma análise pessoal do contexto atual. “Nós hoje vivemos num mundo muito complexo, difícil — como estamos a ver —, fragmentado, polarizado, dividido, onde vai imperando a lei do salve-se quem puder, a cultura da indiferença”, afirmou. Perante esta análise, D. António Marto fez um pedido: “é necessária a cultura do encontro, peço-vos para lançardes pontes para todas as margens. Temos de ter mais cuidado uns com os outros, temos de cuidar da “casa comum”; isso é a cultura da fraternidade”. E continuou com a proposta da mensagem evangélica: “se não nos sentirmos irmão e irmãs, desmorona-se tudo, e a fraternidade não se impõe por leis, nasce do coração; promovei sempre a cultura do encontro entre todos”. Quase no final da sua intervenção, o cardeal fazia a síntese do que tinha dito, referindo a necessidade de apostar nas duas culturas radicadas no cristianismo — a cultura do encontro e a da fraternidade — para responder à urgência da sociedade atual: “a cultura do encontro para fazer face à indiferença, e a cultura da fraternidade para fazer face à exclusão.

A finalizar, informou que continuaria a viver na Diocese, mais propriamente no Santuário de Fátima. “Não me despeço, nem vos digo adeus. Continuarei aqui perto, a morar em Fátima. Teremos ocasião de nos encontrarmos de vez em quando. Por conseguinte, só vos digo “até à vista” com um grande abraço de amizade.”

ÁLBUM FOTOGRÁFICO
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