Formação online reflete sobre a sinodalidade na história da Igreja

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Mais de 230 participantes marcaram presença na segunda sessão de formação online sobre a sinodalidade, um tema que continua a despertar grande interesse nos agentes pastorais da Diocese de Leiria-Fátima. A iniciativa, enquadrada na preparação para a visita do Bispo a cada unidade pastoral, visa avivar a consciência da pertença eclesial e dos seus fundamentos, à luz da sinodalidade proposta pelo Papa Francisco.

Organizada pela Diocese, a sessão decorreu na noite de 24 de novembro de 2025 e contou com a participação de 235 participantes, demonstrando o interesse nos temas da sinodalidade e da conversão pastoral. O padre Armindo Janeiro, vigário geral, expressou uma “grande alegria” por ver o interesse em “fazer caminho” na transformação que a nossa Diocese deseja.

O voo histórico da sinodalidade na Igreja

O tema central da noite foi a apresentação de Fernando Perpétua, que fez uma retrospetiva histórica da sinodalidade, um “voo retrospectivo” e “rápido” sobre mais de vinte séculos da Igreja através desta ótica. A sinodalidade não percorre um trajeto linear na história, sendo marcada pela tensão pendular entre a tendência hierárquica e o impulso sinodal.

O palestrante abordou o percurso em três etapas cruciais:

Sinodalidade no primeiro milénio: Na Igreja primitiva, a sinodalidade era um modo de ser essencial dos cristãos, traduzindo-se na forma de conviver e em comum unidade. O Concílio de Jerusalém é paradigmático desse estilo , demonstrando que todos são corresponsáveis pela vida e missão da comunidade. Fernando Perpétua destacou as figuras de Inácio de Antioquia (século II), para quem “Igreja e sínodo são sinónimos”, e Cipriano de Cartago (século III), que estabeleceu o equilíbrio essencial: nada deve ser feito sem o bispo, mas também “sem o conselho dos presbíteros e dos diáconos e sem o consentimento do povo”. A queda do Império Romano, no ano de 476, levou a Igreja a assumir o papel de força unificadora no Ocidente, acentuando a hierarquia e o papel de liderança universal do Papa.

Intermitência no segundo milénio até ao Vaticano II: Neste período, o Ocidente viveu uma maior e mais frequente tensão entre sinodalidade e centralidade hierárquica. O Cisma da Igreja do Oriente, em 1054, e a Reforma Gregoriana (século XI) fortaleceram a autoridade do Papa. Em contrapartida, o Conciliarismo (séculos XIV e XV) foi uma doutrina que defendeu a superioridade de um concílio ecuménico sobre o Papa. O Concílio de Trento (1545-1563), em reação à Reforma Luterana, acentuou a visão hierárquica da Igreja como “sociedade perfeita, mas de pessoas desiguais”. Atingiu-se o topo da centralidade e poder papal no Concílio Vaticano I (1869-1870), que consagrou a infalibilidade do Papa.

Sinodalidade do Vaticano II aos nossos dias: O Concílio Vaticano II (meados do século XX) constitui um “marco importante de atualização da Igreja e, de regresso, a sua essência sinodal” , valorizando o conceito de Povo de Deus. O Papa Paulo VI instituiu o Sínodo dos Bispos , e os Papas subsequentes consolidaram esta prática. Fernando Perpétua sublinhou que o caminho sinodal atual, impulsionado pelo Papa Francisco, é uma evolução natural do Vaticano II e o caminho que “Deus espera da Igreja no terceiro milénio”. A chave para o sucesso é o amor, que é o modo de ser sinodal, de ser cristão e de gerar unidade.

VÍDEO da 2.ª SESSÃO
https://youtu.be/PuTas-YQBe8

Replicar o Sínodo nas comunidades

D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, deu as boas-vindas e agradeceu a apresentação, que considerou “muito elucidativa”. O Bispo realçou que a Igreja deve envolver-se nos caminhos da humanidade, mas deve ser crítica em relação a eles.

“Tantas vezes muitos esquemas da Igreja não foram tirados do Evangelho, foram tirados precisamente dos contextos políticos, das formas de organização política, e isso tem sempre muito bom, tem algo de muito bom, mas também é preciso fazê-los sempre com o discernimento próprio do caminho sinodal que nós estamos precisamente a tentar readquirir para dentro da Igreja.

O Bispo pediu que a formação e a memória dos esforços de renovação da Igreja sejam replicadas em todas as comunidades, paróquias e vigararias, para que a Diocese seja “cada vez mais unida e mais missionária”.

A próxima sessão será a última

O padre Armindo Janeiro, vigário geral e anfitrião da formação, referiu que esta sessão foi a segunda de um ciclo e que o caminho percorrido ajuda a compreender a dinâmica que está a ser vivida. Agradeceu as contribuições de Fernando Perpétua, que ajudam a alargar os horizontes sobre o caminho que a Igreja está a percorrer.

A terceira e última sessão desta formação realiza-se na próxima segunda-feira, 1 de dezembro. Neste último encontro, o foco será a concretização do caminho sinodal na Diocese, “recordando o caminho feito até aqui, o que estamos agora a fazer e o que se prevê nos próximos tempos”.

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