Ouço muitas vezes esta frase.
Em “psiquiatrês” diria que a pessoa está com pensamentos ruminantes ou perseverantes. Num tom de informalidade gosto de lhe chamar “pensamentos-martelo”.
Estes pensamentos que não nos saem da cabeça é porque são marcantes pela positiva ou pela negativa. Diz-me a experiência de vida e profissional que maioritariamente os pensamentos foram marcantes pela negativa.
Mas fica a pergunta, como é que tiro estes pensamentos da cabeça?
Provavelmente alguém responderia de imediato “Não pense mais nisso!”.
Mas o nosso cérebro não entende esta ordem. É simples perceber, se eu agora disser ao leitor “não pense num copo de leite frio”, e de imediato e sem grande controlo o pensamento irá criar um pensamento exatamente daquilo que eu lhe pedi para não fazer – pensar num copo de leite frio. E nesta frase já induzi o leitor a pensar em 3 áreas: o objeto, a sua função e a sensação associada. Começo achar que o leitor terá até ao fim deste artigo, uma imagem de um copo de leite frio, no qual eu lhe tinha pedido para não pensar!
O que lhe quero transmitir é a dificuldade de qualquer ser humano tem em parar o pensamento e de o reestruturar. Mas é possível, por isso gostava de dar ao leitor algumas estratégias:
– Desfocar (para algo longe do foco do seu pensamento-martelo, usando o exemplo do copo do leite frio, que tal pensar na lareira com lenha a arder). A desfocagem deve ser feita todas as vezes que a pessoa tenha consciência do seu “pensamento-martelo”.
– As atividades físicas (trabalho, exercício físico) também são boas estratégias pois permitem muitas vezes o desfocar físico e psicológico.
Mas estas estratégias são superficiais, servem para aumentar o controlo momentâneo da pessoa sobre os seus pensamentos, mas não servem para a sua reestruturação.
São necessários outros passos.
É preciso expor estes pensamentos a quem confie (um profissional de saúde mental, uma pessoa da sua confiança). Outro passo será também com a ajuda de outra pessoa (profissional ou não), para perceber as raízes dos “pensamentos-martelo”. Em jeito de comparação digo que os pensamentos são a copa de uma árvore e eles estão ligados a um tronco e raízes.
Há que perceber a árvore do seu pensamento.
Muitas vezes as raízes são medos, culpas, falta de afeto / amor, injustiças, rejeições, incapacidade para o perdão, ressentimentos.
Na minha vida profissional e pessoal é com alguma frequência que me deparo com pessoas que de tanto “martelarem” sozinhas nos seus pensamentos, os transformaram em crenças doentias e até mesmo delírios. Essas pessoas já há muito se afastaram de conseguir confiar em alguém, vivem sós dentro de si (independentemente de poderem estar rodeadas de muitas pessoas). E com este caminho de solidão e de afastamento vem a criação da sua própria loucura, e deparo-me com o sofrimento de quem se sente incompreendido. E depois, aliena-se de si e do mundo. É perder-se dentro de si próprio. Enquanto houver vida há esperança, e sei que estas pessoas que se perderam todas deixam uma pequena porta aberta nas suas mentes.
Os pensamentos-martelo exigem-nos ação, mudança, por isso mudar é o caminho, e será sempre uma escolha! Hoje desafio-o:
– PEÇA (ajuda)
– CONFIE (em várias pessoas)
– PARTILHE (os seus pensamentos)
– ACEITE-OS (sem culpa)
– APRENDA (a conhecer as suas raízes)
– ENCORAJE-SE (para aquilo que quer ser).