Esperança, sinais e efeitos do Codiv-19

A pandemia leva tanta gente a abraçar e fazer coisas diferentes e melhores. Os estudiosos têm campo imenso para avaliar esses efeitos sobre os indicadores da saúde, poluição, corrupção, prática religiosa, progresso progressista mal parado e mais mortífero, questões fraturantes.
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Há várias alternativas para ocupar o tempo de quarentena. Refletir sobre os efeitos secundários da pandemia Codiv-19; sobre vários efeitos diretos indesejáveis: sofrimento, ansiedades, pânico e perspetiva de morte. E desejáveis, haverá? Este inimigozinho obriga a muitas batalhas. Decifrar os seus inúmeros sinais não é fácil. Como fenómeno global dá sinais do tamanho do mundo e para lá dele. E pedem leitura sábia, hoje. Até parecia que quase tudo corria bem. Afinal…Atribuem aos judeus, talvez a partir da Bíblia, o ditado português: “Deus escreve direito por linhas tortas ou curvas”. Usa tudo com amor; é pai educador, usa os males da natureza e dos homens, não castiga, dá-nos leituras dos sinais para nos fazer melhores. As dores, incómodos, doenças e mortes tornam a leitura dos sinais difícil como se Deus jogasse ao esconde-esconde e, nas crises seus filhos, só vejam as torturas das linhas. Se os mais idosos são um dos alvos primeiros do contágio; se o sistemas de saúde entram em colapso; se a economia entra em crise; se os sistemas da produção de recursos, de formação, das práticas religiosas entram em desorganização, como ler esses sinais como coisas boas? Os vírus contagiosos, aluviões, derrocadas, terramotos, tesumanis, matam aos milhares, desorganizam, deixam marcas de luto doloroso…Podem lá ser mais que desgraças? Será? Tentar negar ou dar-lhe a volta só pode indispor quem está a sofrer esses males. Contudo os jornais, rádios, tvs e mais redes de comunicação enchem-se de leituras de efeitos bons: unidade, mais coesão social, mais colaboração, menos guerras. Sem negar os seus males, esta pandemia convida a ler o positivo nas linhas tortas dos seus efeitos.

A pandemia leva tanta gente a abraçar e fazer coisas diferentes e melhores. Os estudiosos têm campo imenso para avaliar esses efeitos sobre os indicadores da saúde, poluição, corrupção, prática religiosa, progresso progressista mal parado e mais mortífero, questões fraturantes. Como alguma conspiração atrevida sugere, será que alguns esfreguem as mãos por ver reduzir a população mais doente, fraca e idosa como auguraram Darwin, Friedrich Nietzsche, Hitler, estalinistas e outros donos do mundo, para atingir a estética mundana e o paraíso de super-homens? Em concreto, espera-se a redução dos níveis de consumismo e desperdício, do CO2, dos danos das bebidas alcoólicas, do tabaco, drogas, obesidade. E não só. Vai crescer a prática das virtudes (se ainda se pode falar delas): a solidariedade, voluntariado, ajuda, inteireza moral, partilha e distribuição mais justa dos bens comuns? E as teologais de fé, esperança e caridade que nos ligam a Deus? Bom efeito já é que alguns ajudem outros a ver com os olhos do coração como ensina o Principezinho. O alastrar dos efeitos pedagógicos leva a ganhos preciosos, se reduzem egoísmos, individualismos egocêntricos, cultura do vazio, consumismos destruidores, indiferença pelos pobres e miseráveis. Ganhos preciosos seriam ainda a cultura da esperança perante o desespero, medos e pânico dos infetados.

Mas, atenção, há esperanças a prazo. Como viver a esperança quando a morte bate à porta com este vírus maldito? Importa esperar sempre. E se vem a morte de cada um, não a dos outros, não fica mais nada? A saúde, bem humano precioso, mantém a esperança, como a deste em quarentena assintomática. Quando um dia se aproximar o fim da vida terrena, só outro nível de esperança pode valer, se a pessoa o quere, como dizia a agência Zenit: “nós desejamos transmitir uma mensagem de esperança e fé para também levar a fé a florescer e a “espalhar-se”, se cada um quiser” (cf.26.03.2020). Os discursos sobre a esperança de literatos, por bem escritos que sejam, com estilo e rodeios esquivos, podem ou não ser passos para uma esperança mais duradoira, caso signifiquem que mesmo morrendo nem tudo é desgraça porque nada de essencial se perde. Para isso somos convidados a alimentar-nos com fontes de esperança resistente a contingências. Não há fontes como os evangelhos e o seu autor. Sem Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, os caminhos de desgraças atacam cada homem e cada mulher, a ti e a mim, como vírus mortal que também mata a esperança a prazo. Só resiste aquela que se fundamenta em Cristo, morto e ressuscitado, e ressuscitador. Qualquer outra esperança é 0=Z-E-R-O, como já S. Paulo testemunhava a sua fé (I Cor 15). Como cobaia espiritual em quarentena legal, penso: agora sem sintomas; amanhã, como? Pode vir a doença e a morte. Por isso volto uma e outra vez à oração: Pai, estou nas tuas mãos, como a criança se sente ao colo dos pais, cheia de paz. Hoje (26) um hino de Laudes, em francês, dizia: “quando morreis, perdeis tudo… mas Deus vos dá [novo) nascimento”. Esta a minha esperança.

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