É urgente nos tempos de hoje uma verdadeira e séria reflexão sobre a educação ecológica nas escolas. O tão conhecido programa Eco-Escolas, necessário e importante, carece de uma abordagem mais profunda e integral, voltado para uma mudança de paradigma no pensamento dos jovens. A grande questão centra-se na importância de uma educação que promova a consciência de que somos parte integrante de toda a Criação, através da assimilação de valores como a solidariedade, a empatia e a responsabilidade. Precisamos de uma educação que forme não apenas para o fazer, mas principalmente para o ser, a fim de formar uma sociedade mais sustentável, cuidadosa, e consciente de que “Tudo está interligado”.
Que Ecologia para a escola de hoje?
Hoje, de certa maneira, o ser humano está desperto para a questão ecológica e sua problemática. Quando muito não seja, porque vão sendo cada vez mais evidentes as alterações climáticas, calor e frio fora de tempo, chuvas repentinas que provocam cheias e secas extremas em determinados territórios do Planeta. É inegável. O debate ecológico não é uma ideologia, é antes a constatação de uma verdade do nosso tempo. Por muito que se tente negar, ou harmonizar o grave problema com micro soluções que poucos contributos trazem, o problema é evidente, está à vista de todos. Se de alguma forma no século passado se projetava o problema para o futuro, hoje já estamos a viver esse futuro, no aqui e no agora.
Sendo este um problema transversal a todos, e sendo a Educação um pilar fundamental da nossa sociedade, a questão ecológica chegou às escolas já há uns anos, e alguma coisa se vai fazendo. Mas será o suficiente?
Desde 1996 que existe em Portugal o programa internacional Eco-Escolas, desde aí tem-se implementado nas escolas portuguesas, ficando naturalmente ao critério de cada escola. Hoje a maioria das escolas de ensino básico e secundário têm a funcionar o programa Eco-Escolas no seu estabelecimento. É um passo importante, fica bem às escolas e aos municípios apoiarem o programa, mas não é o suficiente, sobretudo porque este poderia ir mais longe e mais a fundo em muitas das questões e não vai. Tem a metodologia necessária para ser aplicada, mas falta conteúdo.
Hoje a questão ecológica não pode continuar a ser abordada como há uns anos, em que se tinha de ensinar as pessoas a separar lixo e a reciclar, a poupar água no uso doméstico e a reaproveitá-la tanto quanto fosse possível. Hoje a questão é mais de fundo, deverá passar por uma educação do Ser e do Reconhecer-se no meio dos outros. Hoje a questão deverá passar pela consciencialização de que o mundo é a nossa Casa Comum que nos foi dada não para nos empossarmos dela, mas para a cuidarmos porque depois de nós outros virão. Somos seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus. É urgente o ser humano reconhecer-se criatura entre as criaturas: não vive sozinho, o mundo não é só dele, é nosso, e por isso, fomos criados para o cuidado da criação, mundo e pessoas, a Casa Comum e os que nela habitam. Esta é vocação própria do ser humano, faz parte da sua génese aquando da Criação: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gn 1, 28). No livro do Génesis encontramos este mandato dado por Deus ao Homem, pelo Criador à criatura. No entanto aqui não podemos entender o termo “dominai” como um tomar posse de forma egoísta, num domínio de todas as criaturas. Não, é um dominar com responsabilidade, ou seja, como também encontramos na Sagrada Escritura, um “cultivar e guardar” (Gn 2, 15), como também nos lembra o Papa Francisco na Encíclica Laudato Sí, nº67. Portanto o ser humano é e deverá ser o centro da questão ecológica, porque na verdade é ele o causador do problema, e deverá ser ele também o solucionador do mesmo. E a solução passa por uma forma não apenas individual, mas sobretudo por uma solução a nível global que envolva todos os países, e toda a sociedade. Se não nos envolvermos todos, dificilmente conseguiremos evitar danos ainda mais dramáticos, pois como nos volta a dizer Francisco na exortação apostólica Laudate Deum: “Tudo está interligado e ninguém se salva sozinho” (cf. LD 19).
É esta educação humana que hoje, mais que nunca, tem de passar pelas nossas escolas. É urgente termos uma escola do ser e não apenas do fazer. Os programas Eco-Escolas, por mais ações de recolha de lixo na floresta, por mais separação de resíduos nas escolas através de ecopontos, por mais mecanismos de formas de poupança de água a nível de estabelecimento se façam, se não trabalharem a nível de uma mudança de paradigma no pensamento dos jovens, de pouco valerá. Pois no dia em que para um dos nossos jovens, poupar água, reciclar, entre outros, deixe de ser prático, deixará de o fazer, porque não o ensinaram a ser ecológico, a pensar ecológico, que se traduz em nada mais, nada menos que a consciencialização de que somos criaturas entre as criaturas, que habitamos o mundo que é de todos, a Casa Comum. Trata-se aqui de uma certa coerência entre o que somos e onde vivemos, e não precisamos de ser muito crentes, muito menos católicos para entender este ponto. Esta Educação Ecológica tem de passar pelo sentido de solidariedade, de empatia, de compaixão pelo mundo e pelos outros, pelo sentido do cuidado, que nos leva ao amplamente divulgado pelo Papa Francisco, o conceito de ecologia integral, cuidar da terra e cuidar dos outros.
Neste ponto, a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica tem um papel absolutamente central na formação e no crescimento integral das nossas crianças e jovens, pois naturalmente com os programas curriculares extensíssimos das restantes áreas do saber, muitas vezes, a formação humana fica para segundo ou até mesmo, terceiro plano.
Muitas vezes vou a passar nos corredores da escola, cruzo-me naturalmente com alunos e tenho pensado que se perdeu muito o sentido de delicadeza. Não há delicadeza entre os alunos. De uma maneira geral, são brutos uns para os outros e para os adultos, passam por nós no corredor da escola, na rua, seja onde for, e já não se cumprimenta, não se dá o bom dia e boa tarde. Tenho pensado muito nisto, falta delicadeza pelo cuidado do outro, e falta porque muitas vezes não se ensina os jovens a cuidarem dos outros, a darem-se aos outros de forma fraterna. E falta tantas vezes porque também não há em casa, porque tantas vezes os pais não são pais, não o sabem ser. Falta-nos hoje nas escolas uma verdadeira educação Integral que leve consequentemente a um verdadeiro crescimento integral. Isto só é possível, quando tivermos uma muito boa e estreita relação casa-escola, uma relação de confiança e corresponsabilidade, pois ambos temos um propósito comum, o crescimento integral dos nossos filhos e alunos. Só assim conseguiremos educar hoje para mudar a sociedade de amanhã. Uma sociedade mais ecológica, mais cuidadora, mais humana e mais solidária. No fundo, uma sociedade mais sustentável a todos os níveis e em todos os meios, pois como repete várias vezes o Papa: “Tudo está interligado”.