Deus está de férias

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Com os meses estivais, chegam as férias, as festas e as folgas. Até os tradicionais três efes, pedem que lhes arranjem substitutos. E o fado de quem faz mester nestas coisas da comunicação é, por estes meses, mais aligeirado. Não há muito que se conte, porque os anos — os letivos e os pastorais — acabaram por estes dias e a loja fecha para balanço. Ou ganhar balanço, sei lá. Não admira, pois, que hoje já tenha chegado à fala (não acredito que usei esta expressão só porque tem efe) com alguém com quem acabei por tergiversar sobre o assunto a fazer tema no editorial desta semana. É caso para dizer que até todas as musas, que poderiam arriscar uma inspiraçãozita aqui na pena, tenham dado de frosques para uma estância balnear bem mais quentinha.

O interlocutor lá disparou que podia falar daquele tema de que nunca, mas nunca se fazem férias de Deus. Ora que rico “cliché”. Deixa-me ir só aquecer as ideias para servi-las com o requinte da comida requentada. Com um empratamento à maneira, é capaz de disfarçar. Mas, nunca dês tampa a uma ideia que possa parecer disparate, pelo que a conversa começou a ganhar contornos interessantes: será que Deus vai de férias?

Imagino que vá… O livro do Génesis diz que foi, um dia, depois daquela canseira de uma semana inteirinha a fazer a criação: “Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado” (Gn 2, 2). Mas, assim de repente, não me lembro de que Ele tenha tirado mais alguns dias de folga. A bem dizer, aquele dia, para Ele, é bem capaz de ter valido por mil, e isso não sou eu que o digo: “Mas há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um só dia” (2Pe 3, 8). Há lá coisa mais natural que é o Senhor do Tempo perguntar ao tempo quanto tempo o Senhor tem, e o tempo responder ao Senhor que o Senhor tem tanto tempo quanto tempo o Senhor tem?

O tempo de Deus tem a medida do Amor que Ele é. Quem ama tem tempo e gasta-o a amar. Se Deus é Amor, faz todo o sentido que seja também o Senhor do tempo. O melhor dom, o presente perfeito de quem ama, é o tempo, tempo para o amado. Em boa verdade, Deus tirou a eternidade de férias para ter tempo para ser Ele próprio, o Amor. É este o Seu sétimo dia: amar a Criação, ter tempo para nós. 

Se Deus está de férias? Sim, sempre. Tirou os dias para estar connosco. E nós? Tiramos os dias para estar com Ele?

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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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