Depois dos bispos portugueses terem proibido as celebrações comunitárias no território nacional, um dos sacerdotes da diocese de Leiria-Fátima aproveitou as redes sociais para questionar a opção da Conferência Episcopal, que caracterizou como “verdadeiramente impensável, altamente lamentável, no mínimo muito triste”. Numa lista de sete perguntas, começa por questionar se, “com a referida suspensão, não se está a manifestar que a celebração da Eucaristia ou da Santa Missa é algo irrelevante, ou que o povo de Deus não precisa assim tanto da Santa Missa e esta não é a maior fonte de graças e bênçãos do Céu, quer temporais e espirituais”.
Esta mensagem, de acordo com o próprio autor, para além de divulgada na internet, foi enviada a bispos e sacerdotes de todo o país, acompanhada do pedido para, “dentro dos parâmetros racionais e da paz, que os senhores bispos levantem a referida suspensão”.
Um dos recetores deste texto foi o próprio bispo diocesano, o cardeal D. António Marto, que aceitou enviar-lhe uma resposta formal, tendo sido também publicada na página do Facebook da Diocese.
O prelado começa por perceber “a preocupação com o acesso dos fiéis à celebração da Eucaristia neste tempo extraordinário e doloroso”. Explica que a medida tomada pelos bispos e também pelo próprio Papa Francisco, foi assumida “por exigência de saúde pública para salvar pessoas da doença e da morte por causa do contágio nos grupos de pessoas”, pois também “Jesus veio para curar e salvar e deu à Igreja a mesma missão”.
Outra questão levantada pelo padre foi que “se Jesus Cristo está real e sacramentalmente presente na Eucaristia, será que não tem poder para nos libertar de uma pequena criatura, o coronavírus”.
D. António Marto diz claramente que “a Igreja não pode, por uma fé e zelo mal entendidos, contribuir para que pessoas sejam contagiadas e morram por falta de cuidado e prudência de algum pastor”. O bispo de Leiria-Fátima deseja que os cristão sejam responsáveis nesta hora de incertezas, e que não proporcionem oportunidades de alastramento do contágio: “não podemos permitir que por nossa responsabilidade o contágio alastre aos outros”. Afirma que “o vírus não permanece fora das portas das igrejas” e que “a confiança em Deus, a oração e a comunhão eucarística são uma realidade muito diferente do tentar a Deus e desafiá-l’O com a pretensão de milagres, os quais permanecem sempre um dom gratuito e imprevisível”. Argumenta ainda que, na lógica do raciocínio do sacerdote, o cristão poderia até prescindir dos cuidados médicos.
O bispo chamou ainda a atenção do clérigo para o seu dever de obediência, que também se estende a todos os fiéis, consagrado no número 212 do Código de Direito Canónico.
D. António Marto não quis deixar de reiterar algumas das orientações que têm sido emanadas das autoridades eclesiásticas. “Os sacerdotes devem continuar a celebrá-la [a Eucaristia] todos os dias em privado, oferecendo o santo sacrifício de Cristo pela salvação e pelo crescimento espiritual de todos os fiéis e implorando ao Senhor que nos livre deste terrível mal”. A este conselho junta a possibilidade e o dever de “usar com criatividade e zelo os meios de comunicação social para se fazerem próximos dos fiéis e os ajudarem”.
E finaliza: “para te ajudar na meditação, envio uma fotografia com exemplos bíblicos de pessoas que souberam aliar confiança e prudência cumprindo a Palavra de Deus. Entre eles está S. José, ‘servo fiel e prudente’, cuja solenidade celebrámos ontem [19 de março, dia do pai]”.