Na última sessão de formação do curso da Escola Diocesana Razões da Esperança relacionado com o Sínodo dos Bispos 2021-2023, o coordenador da Equipa Sinodal Diocesana de Leiria-Fátima, padre José Augusto Rodrigues, apresentou alguns dados sobre a diocese, “uma radiografa incompleta e parcial” baseada na sua experiência de vida e de 25 anos de serviço à Igreja diocesana como padre.
Na sessão, intitulada “Sinodalidade na Diocese de Leiria-Fátima: passado, presente e futuro” e referindo-se à Igreja em geral, o padre José Augusto começou por sublinhar que “Nunca somos uma Igreja perfeita e por isso o nosso olhar também não é perfeito; aquilo a que somos convidados a fazer ao longo da história é a ir, na medida em que formos capazes, retirando as manchas que encerram e «escondem a beleza do Reino de Deus no meio do povo”.
No raio-x à diocese de Leiria-Fátima, geograficamente uma das mais pequenas do país, com 73 paróquias divididas em 9 vigararias, o sacerdote disse confiar que o discernimento e reflexão que a caminhada sinodal propõe possam levar à renovação de algumas áreas pastorais. Concretamente, referiu que o presbitério diocesano “há muito reflete” sobre a reestruturação das vigararias e a redistribuição do clero, questões interligadas e “de grande urgência”.
Numa diocese “com paróquias vivas que envolvem e atraem, que têm dinâmica em si próprias” e “com paróquias que, por diversas razões, estão envelhecidas e despovoadas”, o sacerdote constata que os “jovens estão longe da comunidade”.
Quer ao nível dos serviços diocesanos, quer nas paróquias, o padre José Augusto Rodrigues considera que o serviço mais estruturado é o da catequese. Em comparação, os outros sectores e serviços “são muito frágeis em algumas paróquias”, predominando muitas vezes “a carolice e a boa-vontade”.
“Ao contrário dos Conselhos Económicos Paroquiais que existem e funcionam, algumas paróquias não têm Conselhos Pastorais, ou, se os têm, não conseguem tirar proveito deles. Este dado é particularmente significativo uma vez que os Conselhos Pastorais são uma das estruturas mais caraterísticas desta Igreja sinodal a que somos chamados”, referiu o sacerdote que na sua radiografia também apontou a perceção “de que continua a notar-se que os serviços centrais da Diocese estão demasiado distantes das paróquias, daquilo que é o dia a dia das comunidades”.
A diocese carateriza-se também pela presença do Santuário de Fátima, “um espaço privilegiado de encontro com Deus, do qual todos somos convidados a usufruir, quer individualmente quer como diocese. Mesmo sendo um lugar que vai muito mais longe que as fronteiras da nossa diocese, mas nunca deixará de ser um pedaço da nossa terra. Termos os santos Jacinta e Francisco Marto como nossos diocesanos, é um orgulho e um desafio”.
Quanto às vocações presbiterais, considera-as “um problema grave, que não podemos colocar debaixo do tapete”, já que, num total de 88 sacerdotes, a diocese apenas tem 63 no ativo. Quanto a futuras ordenações, Leiria-Fátima tem apenas 2 seminaristas.
O sacerdote, também reitor do Seminário Diocesano de Leiria, vincou uma outra área a necessitar de ser refletida: a do diaconado permanente, ministério já implantado na quase totalidade das dioceses portuguesas e ainda inexistente entre nós.
Também a vocação matrimonial apresenta valores preocupantes e “os números ajudam a abrir os olhos”. “De 2010 a 2021 houve uma diminuição de mais de 40% de processos na Câmara Eclesiástica”, destacou o padre José Augusto. E esclareceu: “em 2010 deram entrada 804 matrimónios e em 2021 apenas 468 matrimónios.”
No que respeita às vocações religiosas e missionárias, a diocese tem uma presença “muito significativa a esse nível por causa de Fátima”. Ainda assim, o padre José Augusto Rodrigues comenta que “por vezes, vivemos perto, mas vivemos longe”.
A Eucaristia continua a ter um papel importante na vida das comunidades cristãs. “A parte menos boa da dimensão eucarística, é que ela se reduz, na maior parte das vezes, a uma celebração ritual aos domingos”. Além disso, descreveu, “algumas eucaristias são pobres em participação e em qualidade, por falta de preparação e de recursos humanos”.
O Plano Pastoral da Diocese tem sido um “marco importante na vida diocesana, está bem estruturado, apresenta objetivos e propostas pastorais a implementar”. “É, portanto, um sinal claro de que a diocese está unida no mesmo caminho”.
Respostas aos questionários começam a chegar
O processo sinodal na diocese “está a bom ritmo, as pessoas aderiram às propostas, temos centenas de grupos organizados”, avaliou o coordenador da Equipa Diocesana para o Sínodo dos Bispos. Por isso, importa agora “continuar o caminho de discernimento, que nos convida e examinar o que está dentro de nós e à nossa volta”.
Inspirando-se no Papa Francisco (Exortação apostólica Alegrai-vos e exultai, 166-175) afirmou que “discernir implica predisposição para escutar; inclui a razão e a prudência, mas supera-as; não requer capacidades especiais e educa-nos para a paciência de Deus e para os seus tempos, que nunca são os nossos”.
Nas respostas aos dois primeiros questionários sinodais, o padre José Augusto Rodrigues disse ter encontrado reflexões muito claras e esclarecedoras: “Ainda só espreitei as respostas ao primeiro inquérito, mas já lá encontrei traços fortes dos quais todos nos apercebemos”. “Somos o que somos, com potencialidade geográfica e recursos humanos, sejam sacerdotais sejam laicais, ainda por potenciar”.
O coordenador mostrou-se confiante na participação dos diocesanos e referiu alguns elementos que ajudam a compreender a adesão ao processo sinodal: além da equipa diocesana, constituída por oito elementos, incluindo o coordenador, a diocese conta com 77 delegados sinodais e centenas de grupos organizados; foram requisitados 3.241 livretes com os questionários, além dos que foram descarregados em formato pdf; já começaram a chegar à equipa diocesana respostas em número significativo ao inquéritos promovidos pelo Serviço Diocesano de Catequese e aos questionários 1 e 2, dentro dos prazos previstos.
“Como aspeto mais positivo deste processo destaco que a diocese está envolvida no Sínodo. Como maior desafio ainda a superar identifico o de chegarmos aos que não fazem parte das comunidades cristãs e estão de fora”, disse.