O curso anual de formação permanente do clero da diocese de Leiria-Fátima teve início no dia 17 de maio e prolongou-se até quarta-feira. Sob a orientação do padre Manuel Queirós, pároco da diocese de Vila Real e especialista em pastoral catequética, a ação formativa estuda a relação entre “Eucaristia, catequese e família”. Realizado por videoconferência, teve a participação de bispo diocesano e de cerca de 50 padres.
No primeiro dia, foi abordada a problemática atual da relação entre as três realidades mencionadas e apresentada a inovação recente da catequese familiar, que está a dar bom frutos, onde se tem desenvolvido. Com este modelo, já implementado em várias paróquias da diocese de Leiria-Fátima, estabelece-se uma relação fecunda entre a família e a comunidade cristã à volta da ação catequética e da celebração da Eucaristia.
Na sua introdução ao curso, o cardeal D. António Marto evocou o atual cenário cultural marcado por mudanças vertiginosas que afetam as relações entre as pessoas, a sua vivência religiosa e as ligações à comunidade. A vivência cristã já não pode simplesmente apoiar-se na tradição, mas precisa da formação de cristãos que o sejam por convicção. Tudo isto vem pôr novas questões à catequese, que deverá torna-se evangelizadora e de inspiração catecumenal, para levar ao encontro pessoal com Cristo e a uma experiência marcante na vida. Este modelo de catequese não pode ficar-se pela ação do catequista e do seu grupo, mas terá que envolver a família e a comunidade cristã numa relação, sintonia e colaboração recíprocas.
Além das conferências, os padres tiveram a oportunidade de fazer juntos oração e partilhar ideias e experiências, em grupo. O dia de amanhã será dedicado à apresentação do Diretório para a Catequese, recentemente publicado pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Nova evangelização. Na quarta-feira, a temática abordada será a conversão pastoral da comunidade paroquial e os desafios pós-pandémicos à Igreja.
Diretório propõe catequese como experiência espiritual com Jesus vivo
O segundo dia da formação do clero da Diocese de Leiria-Fátima foi dedicado à apresentação do Diretório para a Catequese, publicado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, no ano passado, e já com edição em português. Nele se definem as orientações para atividade da catequese em toda a Igreja Católica. Teve antecedentes em documentos semelhantes publicados em 1971 e 1997. Este situa-se numa continuidade dinâmica com os anteriores e justifica-se pelas mudanças culturais e eclesiais em curso, que afetam a vida das pessoas, as suas relações e as atitudes face à fé cristã e à Igreja.
O Diretório tem como grande preocupação a inculturação de fé nos tempos de hoje e nas variadas Igrejas locais. Digitalização e globalização são duas caraterísticas muito marcantes da cultura atual com incidência notória na identidade pessoal e nas relações com os outros, na linguagem, na conceção da verdade e da liberdade. Por outro lado, assiste-se ao avanço da secularização, do afastamento da fé por parte de muitos e da perda do sentido do sagrado.
Neste ambiente cultural, a catequese deverá tornar-se missionária: uma ação espiritual, um anúncio que provoca uma experiência de encontro com Cristo, uma emoção interior que marca a vida e motiva um caminho de relação pessoal e comunitário com Ele. Não se reduz a um ensino à maneira da escola. É um anúncio e testemunho que abre ao mistério, à experiência da fé e à iniciação na vida cristã. Os sujeitos desta catequese são a comunidade cristã e as famílias. Em ambas, todos são interlocutores, pois esta experiência de fé destina-se a todos, envolve cada um e não apenas as crianças e os adolescentes, em diferentes percursos e ocasiões, ao longo de toda a vida.
No modelo desenhado no Diretório, a catequese hoje deverá preparar os cristãos para serem “discípulos missionários”. Sujeitos ativos especiais serão os pais, os padrinhos, os avós, as mulheres e os jovens. Os catequistas são definidos como “guardiões da memória de Deus, mistagogos e mestres da fé”. A misericórdia, o diálogo, a beleza, a arte e o testemunho pessoal e comunitário, são elementos imprescindíveis no processo catequético.
A apresentação que fez o padre Manuel Queirós foi depois debatida em pequenos grupos, onde se partilharam ideias, experiências e desafios, para começar a perspetivar como pôr em prática o novo modelo de catequese, adequado aos tempos e exigências atuais.