Os trabalhos da Assembleia Sinodal realizada no dia 21 de maio foram marcados pelas três reuniões que cada um dos dez grupos fez durante o dia para debater temas muito específicos, escolhidos a partir das centenas de respostas enviadas à comissão.
Um dos temas que estiveram em cima da mesa para refletir, e que acompanhámos mais de perto, pretendia que se abordasse de maneira mais concreta as celebrações comunitárias, muito concretamente as Eucaristias dominicais.
D. José faz visita de surpresa
No entanto, e ainda começava a partilha entre os participantes neste grupo, quando tiveram de fazer uma pausa nos trabalhos para uma visita surpresa do bispo D. José Ornelas, que fez questão de visitar todos os grupos durante o dia.
“Vim aqui só para vos saudar”, começou o prelado, depois de ter pedido licença para entrar. D. José sentiu-se agradecido por aquelas pessoas estarem ali reunidas, quando podiam estar em casa com as suas famílias de origem. “Alargar-se da própria família, à família da Igreja, também faz bem e é importante; apostar nesta família que é a Igreja é também um sinal de sinodalidade”, continuou. O bispo de Leiria-Fátima manifestou a sua alegria por “estarem aqui tantas comunidades diferentes: isso faz-nos sentir ainda mais Igreja”. D. José referiu-se ainda a São Paulo para apresentar uma das imagens mais bonitas da Igreja que, curiosamente, tinha sido rezada momentos antes pelo grupo. Antes de se despedir, deixou o convite a “amassarmos aquilo que nós somos com a realidade em que nos envolvemos”.
“Somos uns tristes”
A reunião continuou com a partilha dos presentes acerca das suas próprias experiências relativamente às celebrações litúrgicas, focando-se principalmente na Eucaristia dominical. Nesta área da vida comunitária verificou-se um consenso generalizado de que ainda há um longo caminho a fazer.
“Estamos todos no mesmo espaço, mas isso não significa que estejamos juntos”, começou por afirmar uma das senhoras presentes. Para muita gente, a experiência doméstica de celebração que se verificou durante a pandemia, acabou por ser melhor que a participação numa assembleia comunitária, e isso será um sinal de que algo não está bem e que passa, sobretudo, por não haver espírito comunitário. Por sua vez, isso reflete-se na forma como a assembleia participa e, também, nas expressões que adotam nas celebrações. A este propósito, alguém desabafou que “estamos sempre muito tristes e não manifestamos a alegria de Cristo ressuscitado, que devia ser natural”. Acrescentava, ainda a esse propósito, que “vamos comungar de forma estranha, e quem vê fica um pouco assustado com isso”.
Rejeitar o improviso
Um dos sintomas de que as coisas não estão bem e com o qual todos concordaram e deram exemplos, é a “pressa de que a Missa acabe e o padre se despache”. Talvez uma das razões dessa atitude seja a falta de aposta na qualidade. “Não se pode improvisar”, foi afirmado. Mas também se aproveitou para fazer um ‘mea culpa’, pois “todos falhamos um bocadinho nessa falta de preparação”. Essa falha pode ajudar a explicar que algumas celebrações mais tradicionalistas são mais bem recebidas por um franja de cristão: “ali, está tudo pensado e assim é mais fácil, porque não é preciso serem preparadas e pensadas para a assembleia”.
Também foram sugeridas orientações muito práticas para quem vai à Missa ao domingo. Uma delas é deixar o telemóvel em casa e, um dos presentes partilhava que fazia isso, porque acha que “é importante parar e todos ganhamos com isso”.
Se não fossem as mulheres…
Outro tema paralelo à questão celebrativa, foi o papel das mulheres na Igreja e nas comunidades. Derivou-se para a falta de padres, mas constatou-se que, não fossem as mulheres, algumas comunidades estariam completamente estagnadas. Aliás, foi referido que há falta de homens em muitas comunidades. “As mulheres é que têm sido o pilar da vida comunitária”, defendeu-se. Neste assunto, existe uma perceção de que os homens é que assumem os cargos de relevo na maior parte dos serviços, mas as mulheres é que executam as tarefas práticas.
O diaconado em suspenso
Ainda houve tempo para se discutir sobre a questão do diaconado permanente. A esse respeito, e por a Diocese estar com esse processo parado há muito tempo, umas das senhoras presentes confidenciava: “o meu marido candidatou-se, mas o pároco nunca deu resposta e esteve sempre a adiar”. Embora a questão do diaconado não seja uma solução para a falta de vocações sacerdotais, todos são de acordo de que, pelo menos ajudava a colmatar algumas deficiências na Igreja diocesana e a libertar alguns padres para as suas funções ministeriais.