Na tarde de domingo, 5 de outubro, a igreja do Seminário Diocesano de Leiria acolheu a segunda parte da Assembleia Diocesana da Diocese de Leiria-Fátima, desta vez aberta a todos os que quiseram assistir. Entre as 17h00 e as 18h00, após o trabalho intenso em pequenos grupos realizado na Aula Magna, foram apresentadas as conclusões sobre o percurso das Unidades Pastorais, numa sessão marcada por um clima de reflexão, com o bispo D. José Ornelas a encerrar o encontro com uma intervenção que procurou unir reconhecimento, crítica construtiva e esperança.
A sessão plenária começou com a apresentação de Luís Miguel Ferraz, que contextualizou o momento: “Ouvimos o nosso Bispo dizer-nos que todos somos chamados a dar contributo, a fazer caminho, a trabalhar em equipa, a ouvir os outros e, sobretudo, a ouvir o Espírito.” Lembrou ainda que a Assembleia pretendia avaliar o caminho percorrido na implementação das Unidades Pastorais, partilhar perceções e recolher sugestões concretas para o futuro.
Aspetos positivos: união, colaboração e dinamismo
O casal Ana e Nuno Gordalina apresentou a síntese do trabalho de grupo, iniciando pelos aspetos positivos. “Devemos começar com a parte mais fácil, que felizmente é mais longa”, começou Ana. Entre os pontos destacados, a vida litúrgica surge como elemento central: “Hoje temos celebrações mais participadas e vividas em conjunto. O Crisma e a Catequese Familiar já se realizam em unidade pastoral, e isso fortalece o sentido de pertença.”
Nuno acrescentou: “Os padres têm mais tempo para acolher os fiéis e grandes celebrações são feitas com todas as comunidades e sacerdotes. A unidade e a colaboração tornaram-se realidade: as paróquias mais desenvolvidas apoiam as que enfrentam dificuldades.”
Outro aspeto valorizado foi o envolvimento dos leigos: “A sinodalidade não é só uma palavra bonita. Os leigos estão mais presentes e assumem responsabilidades, participando em grupos de diálogo e equipas de coordenação pastoral”, sublinhou Ana. A gestão de recursos e a mudança de mentalidades também mereceram destaque: “Há mais abertura, vontade de transformação e reconhecimento das mudanças. A união bem conduzida traz inovação, estimula a comunhão e reforça a partilha de experiências”, concluíram.
Desafios e aspetos negativos
Marco Daniel apresentou depois os pontos mais críticos. “Esta parte é mais difícil, mas essencial. Precisamos ouvir onde as coisas não correram bem”, introduziu. Entre os desafios, destacou-se a resistência ao processo, quer por presbíteros quer por comunidades: “Há paróquias que não quiseram aceitar mudanças e padres que não se sentiram preparados. Faltou testemunho do clero em alguns casos, o que criou desconforto e dúvida.”
Outro ponto foi a comunicação e a oportunidade: “O processo começou de forma turbulenta, a implementação foi rápida e, em muitos casos, sem preparação das comunidades. As mudanças foram feitas a meio do ano e, por vezes, a orientação sobre quem era responsável não estava clara.”
Marco Daniel salientou ainda a perda de identidade de algumas paróquias: “Em centros de culto mais pequenos sente-se a diminuição da participação. Há rivalidades, falta de coesão e atividades de unidade pastoral que ainda não acontecem. Muitos leigos e sacerdotes sentem sobrecarga de trabalho.”
A reflexão sobre o papel dos padres revelou tensões e dificuldades: “Alguns resistem a uniformizar critérios, não delegam responsabilidades e a proximidade com as comunidades diminuiu. É preciso ajudá-los a reorganizar o tempo para se dedicarem mais à vida pastoral e menos à burocracia”, explicou Marco.
Propostas e sugestões
Ana Silva e Lara Pereira apresentaram as sugestões dos grupos, focadas na união entre paróquias, valorização dos leigos, estrutura pastoral e comunicação.
Entre as propostas apresentadas, salientou-se a criação de momentos de encontro, oração e celebração que envolvam paróquias e movimentos, fortalecendo os laços de comunhão entre todos. Destacou-se também a importância da formação contínua dos leigos, incentivando a assunção de novos ministérios e responsabilidades pastorais. Foi apontada a necessidade de organizar conselhos pastorais e secretariados com autonomia, mas sempre articulados com os sacerdotes, de modo a melhorar a coordenação e a eficiência da vida comunitária. A comunicação interna e externa surgiu como prioridade, propondo-se o reforço de boletins, redes sociais e reuniões regulares para garantir informação clara e constante. Por fim, sublinhou-se a implementação de formações descentralizadas, mais próximas das comunidades, permitindo um acompanhamento mais efetivo e adaptado às realidades locais.
Outra sugestão proposta pelos participantes foi substituir padrinhos por testemunhos de fé nas celebrações, promovendo um maior envolvimento da comunidade.
Intervenção final de D. José Ornelas
O bispo encerrou a Assembleia com uma intervenção longa, direta e próxima, sublinhando a importância de reconhecer conquistas e desafios. “É bom termos falado. Saber onde estão os problemas é fundamental para chegarmos a soluções. Foi positivo percebermos os pontos que funcionam bem, mas também os que precisam de atenção”, afirmou.
D. José Ornelas falou sobre a humanização da vida dos sacerdotes: “Temos menos padres. Precisamos que possam dedicar mais tempo aos sacramentos e à vida pastoral. As unidades pastorais devem ajudá-los a equilibrar horários e responsabilidades, sem sobrecarregar ninguém.”
Sobre os leigos, o bispo destacou: “A participação deles é fundamental. Precisamos de organizar melhor os quadros, de forma a que possam assumir responsabilidades sem sobrecarga, e para que o padre tenha liberdade para acompanhar as pessoas.”
O bispo falou ainda sobre a importância de acompanhar cada unidade pastoral individualmente, de valorizar a liberdade e a corresponsabilidade: “Não estamos aqui para encobrir problemas. É preciso criticar e construir, com caridade fraterna. Só assim a nossa Igreja será unida e missionária.”
Para concluir, D. José Ornelas propôs uma oração de consagração a Nossa Senhora, pedindo auxílio para que todos possam responder com generosidade e disponibilidade à missão da Igreja, tal como Maria o fez.
Um olhar sobre o futuro
A Assembleia Diocesana evidenciou um caminho claro: unir, escutar, partilhar e caminhar juntos. Entre êxitos e desafios, a Diocese de Leiria-Fátima reforça a importância da sinodalidade, da corresponsabilidade e do envolvimento de todos — padres, leigos e movimentos — para que as Unidades Pastorais se tornem verdadeiros espaços de crescimento espiritual e comunitário.