O recreio estava a começar e o padre António, capelão do colégio, dirigiu-se para o espaço adaptado a campo de jogos. Pedrinho, com cerca de sete anos, avistou-o e, ainda aos saltos, aproximou-se dele. Queria fazer-lhe uma pergunta.
Logo explicou que ia fazer anos no dia seguinte, e que os pais o costumavam levar ao cemitério nesse dia. O sacerdote estranhou tal comportamento de uns pais no dia do aniversário do filho, mas procurou não manifestar o seu espanto. O rapazito continuou a falar:
– Sabe, é que eu não nasci sozinho. Tive um irmão, mas ele morreu. No dia dos nossos anos, vamos levar flores ao meu irmão e rezar.
Agora se percebia o comportamento deste casal. No cemitério, a família reunia-se, estava completa, e o Pedro preparava-se para o futuro. A sua pergunta já revelava esse interesse. Disse que tinha pena de não conhecer o seu gémeo e gostaria de saber se, depois de morrer, no Céu, o iria conhecer.
O padre António disse-lhe que sim e que teriam muitas coisas em comum como o seu amor a Deus e aos seus pais. Além disso, o seu irmão iria dizer-lhe que costumava vê-lo a jogar futebol e ir à praia no Verão e que ficava muito contente quando o via todos os anos com os pais, a rezar por ele, no cemitério, no dia do seu aniversário. Estava muito feliz por ter nascido e de já poder estar a gozar a felicidade do Céu.
A campainha tocou e os rapazes voltaram para as aulas deixando o o capelão a sós com os seus pensamentos. Nunca mais se esqueceu do episódio, servindo-se várias vezes dele nas suas pregações sobre os fins últimos do homem .
Admirou o comportamento destes educadores que não escondiam de Pedro a verdade sobre a morte, vivendo o seu desgosto num acolhedor, e sereno, dia de “Aniversário em Novembro”.