Advento deriva da palavra latina “adventus”, que significa “chegada”: é tempo de preparação e alegria contida, na expectativa do nascimento de Jesus Cristo. Porque remete para a esperança na segunda e definitiva vinda do Messias, é também tempo de arrependimento e de promoção da fraternidade e da paz.
Entrámos no Advento, um dos tempos fortes do Ano Litúrgico, em que nos preparamos para o Natal, isto é, para acolher a vinda de Deus, encarnado no seu Filho Jesus Cristo. Começando anualmente na véspera do domingo mais próximo de 30 de novembro, inclui a solenidade de Nossa Senhora da Conceição a 8 de dezembro, ganha especial intensidade na oitava de 17 a 24 e termina nas primeiras vésperas do dia 25.
Desde muito cedo, a Igreja celebrou este tempo especial. É precisamente na península Ibérica, no Sínodo de Saragoça, no ano 380, que encontramos a primeira referência a uma preparação de três semanas para a Epifania, data em que se celebrava o Natal. Diversos outros relatos aparecem posteriormente, variando na sua duração e, muitas vezes, testemunhando o seu caráter ascético, com jejum e abstinência tal como na Quaresma, dado que era tempo de preparação dos catecumenos para o batismo na festa da Epifania. No final do século VII, em Roma, surge associado ao Advento um cariz escatológico, ligando-o à preparação da segunda vinda do Senhor.
Celebrado também na Igreja Ortodoxa e nas Igrejas protestantes, é para todos os cristãos um tempo de esperança e vigilância. Na Igreja Católica, as duas primeiras semanas são viradas para a expectativa da vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, no fim dos tempos, e as duas últimas visam mais especificamente a preparação para a festa do Natal, a primeira vinda de Jesus.
Teologia e espiritualidade
O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e insere-nos na dimensão missionária da vinda de Cristo. O primeiro aspeto é trazido pelos textos bíblicos do nascimento de Cristo, em que Deus se faz homem e entra na história da humanidade, para a salvar. Por outro lado, mostra-nos que a sua vinda não foi apenas passageira, mas permanente e anunciadora da Redenção que virá no fim dos tempos, quando Ele vier de novo “salvar os vivos e os mortos”. Daí surge o caráter missionário do Advento, transmitido como missão à Igreja de anunciar o Reino a toda a criatura.
Assim, a liturgia do Advento leva-nos a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza e a conversão. Na certeza de que as promessas de Deus serão cumpridas, o brado da Igreja nesse tempo é “Maranatha” (vem Senhor Jesus)! Porque a esperança é na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados e fraquezas, na vida eterna. Por isso, é tempo, também, de conversão, de preparação do caminho do Senhor, através da oração e da escuta da Palavra. Tempo de despojamento, pobreza e partilha fraterna com os irmãos, pois Cristo é a única riqueza que leva à posse do Reino.
“Alegria contida”
As celebrações do Advento são de sobriedade e discreta alegria: não se canta o Glória, para que na festa do Natal esse seja o hino novo, cantado em coro com os Anjos em louvor a Deus pela salvação que realiza no meio de nós. Pela mesma razão, recomenda-se uso moderado de flores, ornamentações e instrumentos musicais.
As vestes litúrgicas e ornamentos do altar são de cor roxa, em sinal de conversão e penitência. A exceção é o terceiro domingo – ou “domingo gaudete” –, como que um breve intervalo a meio deste tempo, em que se permite o cor-de-rosa como tom de alegria pela proximidade da vinda do Salvador.
Símbolos e tradições
São diversas as tradições nascidas da piedade popular e associadas ao Advento, multiplicadas na diversidade das culturas e no decorrer dos séculos. As mais universais serão a montagem do presépio e da árvore de Natal, mas a mais significativa é a coroa do Advento.
A coroa é feita de galhos verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual são colocadas quatro grandes velas, representando as semanas do Advento. Tudo nela tem significado: a sua forma circular, sem princípio nem fim, bem como a fita e o laço vermelhos, revelam a aliança e o amor eterno de Deus; os ramos verdes apontam para a esperança e a vida que Deus traz até nós; as bolas simbolizam os frutos do Espírito Santo que brotam no coração do cristão.
No início, está sem brilho, recordando a experiência de escuridão do pecado. A cada domingo, acende-se uma das velas: a primeira lembra o perdão concedido a Adão e Eva, a segunda simboliza a fé de Abraão e dos outros Patriarcas, a terceira recorda a alegria do rei David ao receber de Deus a promessa da aliança eterna, a quarta representa os profetas que anunciaram a chegada do Salvador.
Figuras do Advento
Isaías
O profeta que, durante os tempos difíceis do exílio, anuncia ao povo a libertação e lhe fala de um nova e gloriosa Jerusalém.
João Batista
O último dos profetas, percursor de Jesus Cristo e modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a serem profetas do Reino.
José
O esposo de Maria, o homem justo e humilde que aceita a missão de ser o pai adotivo de Jesus, modelo de fé dos que querem acolher Deus na sua vida.
Maria
A grande personagem do Advento, a mãe de Jesus, cujo “sim” foi a chave da vinda de Deus até nós. Nossa Senhora da Conceição é a grande solenidade celebrada no Advento.
[Nota do Editor: este artigo foi publicado no jornal Presente, em 5 de dezembro de 2013]