A vocação do padre: o sorriso que liga os luzeiros celestes – O que é um padre para ti

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Sendo criança de visita assídua às aldeias das suas origens, o encontro com o padre da paróquia era frequente, por isso ficou registado o sorriso com que recebia aquele núcleo familiar como se também lhe pertencesse. Intrigava-a a alegria daquele acolhimento. Aquela permanente boa disposição dava ideia de ser o anfitrião da comunidade, uma atitude de braços abertos convidando todos para a “sua” casa. Ah, então era por isso! Tão grande e de portas abertas, havia lugares sentados para todos cantarem e o ouvirem. Porém, a inquietação elevou-se quando se apercebeu do espaço por cima daquelas cabeças. Afinal, quem iria para lá? Tanto Céu ali dentro para quê? Para sentar não era de certeza. Foi esta interrogação que levou para a adolescência e não tardou a saber que estava na Igreja de Jesus Cristo e toda aquela gente era o povo de Deus, mas a questão das alturas só mesmo em adulto se começou a resolver.

A negação do homem no mundo em contraste com a missão sacerdotal

Por mero contraste, percebemos que nas ruas onde circulamos ninguém é convidado a entrar numa casa, encontrar-se com alguém, reconhecerem-se irmãos e partilharem uma refeição no mesmo desejo de nunca mais deixarem de estar juntos. Pelo contrário, descobrimos que o homem é negado no mundo, como se expulso da vida. E se isso já é evidente, vendo a facilidade com que se monta uma guerra para espalhar a morte pela terra, também reparamos como ele, no comum trato quotidiano, se considera estranho em relação ao outro. De facto, estão mais perto de se verem como inimigos do que como semelhantes. Sem se dar conta, o homem não está capaz de si mesmo e ainda menos de cuidar da natureza que o envolve tão perfeitamente. Parece uma criança que não sabe brincar e estraga o que lhe põem nas mãos. Bastando-se com vistas curtas, satisfaz-se a calcar o próximo para se sentir maior do que as pedrinhas no chão. É ele que se anula a si mesmo e se lança no vazio. Apercebendo-se de vastidões quando inadvertidamente ouve a voz de Deus, não se consegue libertar da condição de ser mais uma coisa produzida e consumida no meio do que compra e vende. Por fim, queima o tempo que lhe resta sem nunca conhecer a vida verdadeira revelada por Jesus Cristo.

Ora, é esta a missão do padre: reunir todos no mundo, como se ligando os luzeiros celestes um a um, para conhecer o rosto de Deus. É nele que está a vocação mais genuína do homem, sabendo quem é, não apenas aqui na terra, mas em existências que nem consegue descortinar. Só assim ele se realiza plenamente, fazendo parte de um conjunto que não alcança de imediato, mas relacionando tudo, desde a circulação sanguínea até às órbitas mais distantes do universo, acaba por se inscrever na eternidade de uma dança fraterna de mãos dadas às estrelas e os pés no soalho da Igreja de Jesus Cristo.

A importância da escuta na vocação e o papel do padre

Na verdade, não há falta de vocações. Há é barulho a mais, impedindo os jovens de escutarem onde de facto nasceram e de quem são filhos. Se notarmos, não se começa por querer ser padre, mas antes por participar em dimensões que não cabem nas acanhadas burocracias e estatutos do mundo. Segue-se à bolina do sopro original, diante da luz do primeiro dia no horizonte, confiando em preservar a humanidade única derramada pelo coração de Jesus, de modo a que os homens nunca desistam de se completarem como seres realmente humanos. Ainda que os tempos sejam de escuridão, um padre é quem aponta o caminho da vida.

Conclusão

Concluindo, ser padre é dar um passo maior do que as pernas e… conseguir. O sopro de Deus enche-lhe a alma, torna-se Igreja, levanta o telhado e, de repente, tudo é Céus. O coro canta, os irmãos estão em paz e partilham o pão à mesa com Jesus Cristo.

Peço desculpa aos jovens da diocese de Leiria-Fátima por me intrometer na vossa reportagem “Padres, o Quê?”, mas achei a iniciativa tão arriscada que não resisti a participar. Só não posso contribuir com a parte do vídeo. Geralmente apareço desfocado, mas o texto cumpre um minuto a ler calmamente. Portanto, não estranhem um padre por não ter as calças rasgadas nos joelhos. O que o distingue é o sorriso com que vos recebe já nos Céus, assim todos juntos com Jesus na terra.

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