A Igreja em renovação: caminhos de sinodalidade e corresponsabilidade

O texto final do Sínodo assinala um marco significativo para a Igreja, destacando conceitos como transparência, responsabilidade...

A aula magna do Seminário de Leiria foi palco, no passado dia 17 de dezembro, às 21h00, de uma sessão dedicada à apresentação do Documento Final da Segunda Sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos. Organizado pela Diocese de Leiria-Fátima, o evento reuniu uma plateia, com um especial enfoque nos membros dos grupos sinodais das paróquias, serviços e movimentos da Diocese. O encontro foi concebido como um momento de partilha e reflexão, destinado a aprofundar a compreensão das propostas do documento e a estimular o diálogo sobre o futuro da Igreja.

D. José Ornelas, Bispo de Leiria-Fátima, Leopoldina Simões, da Comissão de Comunicação do Sínodo dos Bispos, e Paulo Rocha, da Agência Ecclesia, foram os principais intervenientes, apresentando e refletindo sobre os temas centrais do documento, aprovado a 27 de outubro deste ano. O texto final do Sínodo assinala um marco significativo para a Igreja, destacando conceitos como transparência, responsabilidade, inclusão das mulheres em processos e ministérios, bem como o fortalecimento das relações autênticas na comunidade eclesial. Além disso, sublinhou a necessidade de maior participação dos leigos nos processos de decisão e uma abertura renovada à diversidade e à escuta ativa nas diferentes comunidades locais. Este foi também um momento de reconhecimento das transformações que já estão em curso na vida eclesial, trazendo maior corresponsabilidade e proximidade entre os diferentes membros da Igreja.

Um processo inédito e inclusivo

Paulo Rocha iniciou a sessão contextualizando o percurso que culminou no documento final, um texto aprovado no final da Segunda Sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos. Este documento, estruturado em cinco partes, reflete temas essenciais como transparência, inclusão, responsabilidade e renovação da vida eclesial, representando um marco significativo para a Igreja Católica. Segundo o jornalista, o Papa Francisco trouxe uma novidade ao transformar o texto em magistério da Igreja, dotando-o de força normativa desde a sua aprovação. Este gesto foi antecipado por iniciativas ao longo do pontificado do Papa Francisco, incluindo a Constituição Apostólica Episcopalis Communio (2018), que definiu que as assembleias sinodais poderiam ter um caráter deliberativo.

Paulo Rocha sublinhou a estruturação do Sínodo em fases sucessivas: diocesana, nacional, continental e universal. Esta abordagem permitiu uma ampla participação do povo de Deus, valorizando as contribuições das comunidades locais. O caráter consultivo destas fases possibilitou que muitas vozes fossem ouvidas, incluindo as de contextos sociais e culturais menos representados, contribuindo para um documento final que reflete a diversidade e riqueza das experiências eclesiais. Uma das grandes inovações deste processo foi a divisão em duas sessões da fase universal, permitindo mais tempo para amadurecer ideias e aprofundar o discernimento sobre os temas abordados, o que resultou num debate mais completo e representativo das diferentes perspetivas.

Ao longo desta caminhada, Paulo Rocha enfatizou que a metodologia sinodal foi marcada pela descentralização e pela escuta ativa, destacando que esta abordagem contribuiu para uma maior comunhão entre os participantes e, em última instância, para um documento mais coeso e significativo para o futuro da Igreja. Ele relembrou que este processo não se limita à criação de documentos, mas à transformação efetiva da vida eclesial em todos os seus níveis.

VÍDEO
https://youtu.be/VdRsaqT2Fvg

Olhar o Sínodo dentro dentro

Leopoldina Simões, membro da equipa de comunicação do Sínodo nas duas sessões, partilhou a sua experiência, destacando o seu papel na articulação entre os diferentes grupos de trabalho e na coordenação das comunicações oficiais, além de relatar os desafios e as aprendizagens numa equipa composta por membros de diversas culturas e proveniências. Destacou a diversidade dos participantes e a metodologia de trabalho, que privilegiou o diálogo e a oração em pequenos grupos organizados por mesas redondas, em vez do tradicional formato em anfiteatro. Esta configuração, inicialmente recebida com ceticismo, revelou-se uma mais-valia, fomentando a proximidade e a partilha autêntica.

Nas mesas, facilitadores e secretários guiavam as conversas, alternando momentos de reflexão e oração. Segundo Leopoldina, as intervenções individuais, embora limitadas em duração, traziam a riqueza das diversas realidades do mundo. Foram discutidos temas sensíveis como o papel da mulher na Igreja, a participação ativa dos jovens e a inclusão de comunidades marginalizadas. Este formato permitiu que vozes frequentemente excluídas fossem ouvidas e valorizadas, enriquecendo o processo sinodal.

Um dos momentos altos da sessão foi a explicação sobre a participação das mulheres e leigos, incluindo o impacto de novas formas de liderança no futuro da Igreja. Leopoldina também destacou a abordagem transparente do Papa Francisco, que optou por publicar os resultados das votações, reforçando a responsabilidade partilhada. Essa transparência foi vista como um sinal de compromisso com a inclusão e a corresponsabilidade no seio da Igreja. Segundo ela, esta abertura à participação não apenas fortalece a confiança, mas também incentiva maior colaboração entre os fiéis e os responsáveis pela missão pastoral.

A visão pastoral de um bispo

Na sua intervenção, D. José Ornelas destacou a sinodalidade como um caminho de conversão e comunhão. “A sinodalidade é mais do que uma metodologia; é uma forma de ser Igreja, enraizada no Evangelho e orientada pelo Espírito Santo”, afirmou o bispo, sublinhando a importância de que este estilo seja vivido de forma concreta nas paróquias e dioceses. Para o bispo, o Sínodo representa uma mudança de estilo na forma como a Igreja se organiza e vive a sua missão, promovendo maior participação de leigos e abertura a novas perspetivas. Exemplos concretos incluem o fortalecimento de conselhos paroquiais, a implementação de processos de escuta mais abrangentes e a ampliação do papel das mulheres em cargos de liderança e decisão.

“Não se trata apenas de abrir portas, mas de criar estruturas e relações que permitam que todos contribuam com os seus dons para a missão da Igreja”, explicou D. José, enfatizando que a sinodalidade é um processo dinâmico e em constante evolução, que exige um compromisso renovado por parte de todos os membros da comunidade eclesial.

Um ponto destacado foi a conversão relacional, com foco na dignidade humana e na promoção de relações saudáveis. Neste âmbito, o documento reflete sobre temas como a participação das mulheres e a discriminação. “Estas questões não são meramente sociais; são profundamente espirituais, porque revelam como vivemos o Evangelho nas nossas relações”, afirmou o bispo. Além disso, destacou a urgência de criar espaços de acolhimento e diálogo que promovam a inclusão e a construção de pontes entre diferentes realidades culturais e sociais.

O bispo também abordou a necessidade de descentralizar a gestão das dioceses e paróquias, delegando responsabilidades a conselhos paroquiais e económicos, além de promover a formação de lideranças. “A corresponsabilidade não é opcional; é essencial para que a Igreja seja verdadeiramente comunitária”, disse. Para D. José, a sinodalidade requer uma Igreja unida na diversidade, comparável a uma orquestra onde diferentes instrumentos se harmonizam. Ele destacou ainda que a formação de lideranças leigas e o fortalecimento dos conselhos paroquiais são passos fundamentais para garantir a corresponsabilidade e a eficiência pastoral. Estes esforços, segundo o bispo, são cruciais para revitalizar as comunidades locais e assegurar que a Igreja se mantenha relevante e conectada com as necessidades contemporâneas.

Impacto e próximos passos

A sessão foi marcada com a abertura ao debate, incentivando os participantes a refletirem sobre como implementar o documento nas suas comunidades. Uma das questões centrais levantadas foi como operacionalizar a visão renovada de Igreja sugerida pelo texto. D. José destacou a necessidade de escuta ativa e oração, acompanhadas por ações concretas que promovam maior transparência, inclusão e corresponsabilidade. Salientou que o sucesso desta implementação depende do envolvimento ativo de todos os fiéis, desde os mais jovens até aos mais experientes.

No início do ano, representantes das dioceses portuguesas reunir-se-ão em Fátima para avaliar a receção do documento, partilhar experiências sobre a sua implementação inicial e definir estratégias concretas para promover a sinodalidade em diferentes contextos locais. Este encontro terá como objetivo principal identificar boas práticas, resolver dificuldades e criar um plano de ação conjunto que responda às especificidades de cada região. Como sublinhou D. José, este processo exige uma Igreja centrada em Cristo, com relações transformadas pelo Evangelho e comprometida com a missão de servir o mundo.

A sessão foi um apelo à ação, desafiando todos os presentes a acolherem as orientações do Sínodo como um convite à transformação das suas comunidades e a viverem a sinodalidade como um estilo de vida eclesial. Neste contexto, a implementação das diretrizes sinodais é vista como uma oportunidade única para renovar a vitalidade das paróquias e reforçar o papel da Igreja enquanto instrumento de comunhão e missão no mundo contemporâneo. Foi reafirmado que a participação ativa de todos é essencial para o êxito deste processo, pois é através da cooperação e da fé partilhada que a Igreja pode continuar a trilhar o caminho sinodal.

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