Comunicar com pobres e frágeis

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Os pobres são pessoas. E as crianças? A comunicação na Igreja e no mundo apresenta problemas novos de comunicação elitista que desafina a harmonia sinfónica da vida e fé cristã dos pequenos. O discurso erudito é pouco claro e evangélico, e destoa nas relações com os simples e a vida dos fiéis mais carenciados e pobres. As distâncias entre o saber da maioria do povo simples e o saber da classe erudita de ciências, racionalidades e altas teologias são abissais. As desinformações e confusões são assunto de constantes notícias, ensaios, conferências em encontros de formação e comunicação. O “Dia Mundial dos Pobres”, instituído pelo Papa Francisco em 2016, vem lembrar os carenciados de bens materiais, de marginalização e de comunicação pouco clara para eles, pequenos e crianças. Nos anos pós-Vaticano II incomodava-me a falta de pastoral à medida destes fiéis fragilizados, que representariam 40 ou mais por cento dos batizados. Hoje, será diferente? A formação e catequese de testemunho e exemplo são desvalorizadas por não se apoiarem na racionalidade erudita. Esquecem-se as palavras de Cristo: “quem não se tornar simples como uma destas crianças não entrará no Reino de Deus”. A criança vive a sua fé na entrega total nos braços da mãe e do pai com confiança total, desarmada das ferramentas do ego de saber científico, racional e da fé académica. E o mesmo acontece com muitos adultos menos dotados. Os cientistas e os cultores da razão tendem a acreditar nas revelações da fé se esta passar nos crivos do seu saber, da sua razão, da sua procura da fé com razões e a desvalorizar a fé “do camponês”. A confiança da fé tende a ser posta no seu alto saber e não na palavra que Deus revela. Sim, a racionalidade da fé é importante para não cair no fideísmo vazio. Contudo, não se pode desprezar a fé dos que não dispõem desse saber, razão e erudição teológica. A fé simples, vivida pelos pobres e povo simples também conta. 

Se tudo tem que ser explicado pela ciência do “ver para crer”; e pela racionalidade, para cada um aceitar crer porque compreende a explicação epistemológica erudita; e se por sua falta, os fiéis de fé e vida cristã simples são desclassificados ficam, ainda, mais pobres. Contudo, muitos sabem por crença humana nos cientistas e nos estudiosos. A fé humana de uns confia nos outros e esta fé todos os dias se torna regra do saber viver da maioria das pessoas. O elitismo de uns não anula a fé e a praxe dos que vivem, e bem, terra a terra, à base da confiança no saber dos outros se este é de confiança e real. E a vida das crianças à base dos saberes vicários dos pais serve para elas desenvolverem a sua vida desde bebés; e porque não havia de valer para irem evoluindo do batismo recebido entre choro e sorriso para a vida de fé infantil no outro Pai que a mãe e o pai lhe revelam? Revelam por testemunho claro de afetos e amor. A evangelização com gestos e palavras tão simples como o respirar, alimentar, cuidar, abre a mente e o coração para a realidade invisível e indizível ensinada pelos pais. É diferente de chuchas sedativas adocicadas e alcoolizadas. Não criam dependência que impeça o despertar para o alto e o transcendente. Ou será que o anúncio evangélico tem que ser feito com guloseimas e jogos de habituação? O Cardeal Ratzinger (Papa Bento XVI) terá dito que o Evangelho é sal e não açúcar.

Abunda na educação da fé o excesso do secundário porque o fundamental nem sempre dá prazer. Como toda a gente, os pobres precisam do que é básico para o seu viver integral. E não devem ser privados desses meios. Nem devem, tão pouco, ser privados do que dá qualidade humana e espiritual à sua vida por se considerar que a sua iliteracia os tornará incapazes de acreditar que viverão para além da morte, como Cristo ensinou.Não há nada tão fundamental como o próprio Cristo, a Palavra do Pai. Nenhum conteúdo utilitarista substitui o Evangelho, como tanta comunicação populista de esquerda e direita pretendem. Como se o fundamental não tivesse sido anunciado há dois mil anos: ser e vida para lá do nada da morte.O cientês e racionalês da ciência e da razão só se tornam problema de fé para as comunidades cristãs e os frágeis que não entendem o dialeto; e para os que usam esse linguajar, e em vez de os levar a acreditar porque Deus lhes fala e os ama se ficam pelo “creio porque confio no que sou capaz de ver”. O Papa Leão, em 9 novembro, foi claro: como pequenos do Evangelho, “os pobres podem agir como mestres silenciosos para nós despertando-nos para a nossa presunção e inspirar-nos um justo espírito de humildade”. E diz ainda: “a pior discriminação que os pobres sofrem é a privação de cuidados espirituais’” (cf.Dilexi te”,“Amei-te”).

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