Jovens entram na batalha por uma vida com sentido

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Nos longínquos e desusados anos 80 do século passado a escolaridade obrigatória já configurava grande parte do quotidiano de qualquer jovem com base numa politica educativa que criou escolas na meia periferia de cidades grandes para despejar os alunos que nas escolas do centro eram considerados impróprios ou deslocados do aproveitamento requerido para aquela coqueluche urbana, tratava-se então de arremessar os alunos repetentes e maus rapazes num recinto vedado onde se entrava passando por um corredor de gandulos que tratavam de cumprimentar os mais novos com pontapés e “calduços” sem que os funcionários pudessem dizer algo tal era a fama dos ditos, claro que lá dentro se sabia de prostituição, droga à descrição e suborno para estar isento dos tais suplícios, resultava assim que nas turmas se convivia ou maltratava consoante a troca de olhares com colegas já mães, bandidos que levantavam os professores pelos colarinhos, professoras que se queixavam de furos nos pneus e todo tipo de destruição do equipamento escolar mas se as aulas eram autênticos circos de feras em casa já se temia o dia a seguir não deixando pregar os olho nos livros, conclusão em turmas de 35 alunos passavam 5, o insucesso escolar associado aos vícios daquela época reproduzia marginais como ninhadas saídas destas escolas parecidas a penitenciárias onde não faltava a visita da policia em situações de verdadeiras batalhas campais por alturas do carnaval.

Passadas várias décadas muito felizmente não é esta a realidade da escola atual graças ao empenho de professores e funcionários e a grandes investimentos dos fundos europeus para requalificar o parque escolar, tudo combinado para qualificar as novas gerações com competências que lhes dão acesso a um mercado de trabalho global, porém se o tipo de entrave à aprendizagem era físico e material naqueles loucos anos percebemos como hoje os apelos à dispersão são iguais ou maiores reparando como apenas se alterou o cenário, de fato a violência e outras solicitações já não estão presentes nas escolas mas os desajustes que vivemos hoje revelam-nos dificuldades com outro tipo de complexidades a começar pelas disputas politicas no setor da educação não se percebendo os motivos de conflitos tão prolongados dando ideia de não se saber que matérias privilegiar, segue-se o anacrónico paradigma que fecha os jovens na necessidade de ir à escola para terem uma profissão um emprego e uma reforma como se entrassem logo na calha sombria que abandona os idosos em becos sem saída, acresce como é o próprio do conceito de trabalho a sua transformação exigindo competências alargadas e responsabilidades em diversos domínios, vemos ainda a inevitável presença dos meios tecnológicos requerendo um posicionamento cada vez mais critico e flexível não compatível com a tal ideia de estar fixo a um emprego uma tarefa e um horário, dentro e fora da empresa é preciso ter presente os constrangimentos que definem cada pessoa implicando-a numa relação com os outros comprometendo-a ainda em contextos mais alargados num mundo dramaticamente a encolher.

É inegável o potencial de crescimento a todos os níveis das crianças e jovens estão na idade ideal para descobrir e compreender como podem mudar no mundo, a escola é uma imensa alegria quando eles vão para casa entusiasmados porque aprenderam algo de novo e até conseguem ser mais espertos que os pais deixando-os confiantes afinal o futuro fica entregue em boas mãos, porém a batalha que eles têm de travar não se avizinha mesmo nada fácil naqueles anos 80 a realidade era objetiva sem filtros crua talvez chocante até mas não suscitava duvidas sobre as escolhas a realizar para dar um sentido à vida as consequências eram explicitas muito diferente de hoje considerando o aparato de meios destinados a simular e encenar ilusões criando expetativas nos jovens para logo depois gerar uma desilusão e desespero pensados para os deixar à deriva confusos permeáveis às ofertas que tão oportunamente surgem a seguir. São os jovens que têm de lutar por condições de reserva e proteção de modo a manterem capacidades que lhes permitam avaliar a realidade em todas as escalas e deste modo intervirem no espaço e momento certos sem desperdiçarem energias em ruídos que só servem para os incapacitar em embates decisivos. É um erro o dramatismo em torno dos meios tecnológicos e só se compreende porque são vistos como objeto de lazer/prazer em vez de descoberta/aprendizagem a vertente lúdica sobrepôs-se porque os pais assim o quiseram estar a culpar e a vedar os jovens ao seu acesso é injusto e muito contraproducente mas cabe-lhes a responsabilidade de procurar zonas de silêncio e concentração para discernirem e conseguirem ouvir-se a si mesmos enquanto escutam os outros e auscultam o mundo, de resto agarrem-se aos livros e não se fiem em facilidades, o conhecimento foi sempre denso e pesado e continuará a sê-lo é ele que melhor define a sociedade em que vivemos e só ouvindo o silêncio ele ganha mais espessura do que a IA.

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