Papa Leão XIV e a inteligência artificial: a ameaça de o homem se despregar de si próprio

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O impacto da Inteligência Artificial no consumo e na pobreza

Aproveitando a deixa de mais um oportuno artigo da ACEGE, é importante que o tema da Inteligência Artificial (IA) se mantenha próximo das nossas preocupações, para não nos assustarmos com teorias conspirativas, mas pouco a pouco ficarmos com a noção das suas implicações positivas e negativas no mundo.

Como sabemos, a IA não é uma expressão nova, data da década de 40 do século passado, e as suas aplicações são bem conhecidas naquilo que é mais comum na nossa sociedade de consumo: conhecer tendências e preferências, suscitar necessidades e logo apresentar o produto que vai fazer a felicidade suprema daquele segmento de mercado.

É aqui que entra a questão ética, considerando como os consumidores esquecem, ou não querem mesmo saber, como lhes chega de bandeja aquilo que nem pensavam precisar e aparece logo ali, prestes a saborear. Os mais desprevenidos acabam incluídos num ciclo de consumo imparável que os toma por mais um produto a ser consumido.

É claro que este aproveitamento tem implicações na pobreza, pois as populações acabam por desperdiçar os seus fracos recursos naquilo que dispensariam, mas de repente se torna urgente, graças à tal produção de gostos e rápidas satisfações. Por este motivo, torna-se particularmente útil pensar num recurso que permita às pessoas escolherem o que compram em função das suas necessidades básicas, prioritárias e supérfluas, considerando como essas opções têm sempre uma carga emotiva associada e por isso perceber que o indicado para uma família pode não ser para outra. A pobreza tem de ser vista com este pormenor, e a IA ajudaria a definir o padrão de necessidades de cada agregado familiar.


Do Papa Leão XIII ao Papa Leão XIV: a tecnologia e a essência humana

Numa perspetiva alargada sobre os temas que nos pressionam atualmente, a Inteligência Artificial podia passar despercebida. Por isso, é com surpresa que reparamos como o Papa Leão XIV recupera a encíclica Rerum Novarum do seu antecessor com o mesmo nome e a atualiza como Rerum NovAlrum.

Somos remetidos ao século XIX para vermos a evolução da relação do homem com a tecnologia e compreender como ele se está a despegar de si próprio. Cada vez tem menos contacto com o que é ser humano. A indiferença, falta de empatia, distanciamento e isolamento que definem as nossas sociedades têm origem no fascínio que as novidades saídas de fábrica têm no homem, a ponto de desistir de si mesmo em proveito de coisas que lhe simplificam tanto o quotidiano que acaba por nem dar conta que tem uma vida muito maior do que tudo o que possa produzir para se convencer que existe.


A velocidade da IA e a limitação da compreensão humana

Ora, este deslavar do homem, ou desprezo até pelas competências tão delicadas e especiais que o distinguem em tudo o que o rodeia, levam-nos a temer que a Inteligência Artificial, pela velocidade com que ocorre, vá apanhar parte da humanidade desprevenida, convencida de que pode confiar em facilidades que distraidamente lhe vão purgando a beleza de se maravilhar com os Céus e acreditar que estão ao seu alcance.

Sem se aperceber, o homem está a ser ultrapassado, ou melhor, atropelado, porque julga ainda controlar o que inventa. Era assim de facto quando se tratava de transformar ou destruir, consoante as perspetivas, o meio físico, moldando a natureza em função de interesses mais ou menos gananciosos. Ora, com a IA, o panorama muda radicalmente de figura, pois é o homem em si mesmo que é objeto de intervenção. A incipiência da sua evolução mental, quase infantil, confunde-o no aparato ultrassofisticado que ele mesmo monta para se iludir, quando a sua compreensão é lenta. Só converte em conhecimento o que sedimenta com o tempo, acumula e resolve demoradamente, à medida que comprova tudo na “proveta” da realidade.

Não é difícil de perceber que o homem, tal como se conhece agora, não está em condições de concorrer com a Inteligência Artificial, e estamos a enganar-nos, considerando o efeito máquina apenas repetitivo e uniforme. Temos de compreender que a tal máquina não descansa e suga todos os padrões de pensamento humanos. Condoemo-nos até, antecipando o dia em que as máquinas nos vão tirar o tapete e deixar-nos sozinhos, incapazes de resolver o que afinal começou por ser tão simples: pertencer a uma envolvência astronómica que nos abre dimensões comparadas no imaginário e concede-nos o desejo da eternidade que vemos brilhar nos Céus.


O papel central da Igreja no debate sobre a IA

É possível que o enquadramento da IA pelo Papa Leão XIV vise precisamente toda a amplitude do impacto sobre a humanidade, desde a realidade sociopolítica até às implicações nas profundidades daquilo que mais distingue o homem na sua capacidade de pensar-se, de se evadir, libertar.

De repente, a Igreja é projetada para o centro de uma questão que parecia meramente técnica, mas arrisca alterar a “genética” do homem. Por isso, é fundamental acompanhar o que o Papa e os seus ministérios vão publicando e debater no seio das comunidades, para perder a aura de curiosidade, mas ser aquilo que de facto é: uma boa ferramenta, quando bem utilizada, como todas as outras, aliás , contribuindo para o bem comum e melhor humanidade.

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