Papa Francisco: A Voz de Cristo, a Voz da Esperança

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A Voz de Cristo, a Voz da Igreja, a Voz do Caminho e da Esperança: a herança do Papa Francisco

Há vozes que nos tocam de um modo quase impossível de explicar. Não chegam apenas ao ouvido — chegam à respiração, à memória, à vida inteira. A voz de Francisco foi assim: sem estrondo, mas com um eco que atravessa o tempo e, talvez, o nosso próprio coração. Uma voz habitada por outra Voz — a de Cristo — que se debruça sobre cada vida, que chama por cada nome.

É uma voz que conhece o peso dos silêncios. Francisco sabia, como poucos, que o essencial não se grita. Por isso, tanto quanto falou, escutou. Tanto quanto explicou, fez silêncio. A sua presença foi feita de pequenas aproximações: um olhar, um pedido de oração, o modo como tocava uma ferida, o modo como se inclinava diante de Maria, em Fátima. Nessas horas, compreendíamos: Deus passa pelo meio de nós, de mansinho, e a sua voz só se deixa encontrar por quem se dispõe a escutá-la sem defesas.

É também a voz da Igreja. Não da Igreja dos discursos, mas da Igreja que sofre e espera, que reza e tropeça, que aprende a humildade da escuta e o risco da compaixão. Francisco deu à Igreja um rosto mais humano e mais próximo. Uma Igreja capaz de chorar as suas feridas e, por isso mesmo, mais capaz de cuidar das feridas do mundo. Uma Igreja peregrina, que se faz casa porque aprende todos os dias a ser tenda: aberta, habitável, generosa.

E o caminho? Com Francisco, o caminho deixou de ser apenas uma metáfora e tornou-se prática diária: sair, ir ao encontro, não deixar ninguém para trás. A sua fé não se contentou com a segurança dos portos, preferiu a fragilidade dos barcos. O Papa ensinou-nos que o caminho da fé é feito a partir da escuta: escuta do Espírito, escuta dos pequenos, escuta da realidade. Porque só quem caminha com os outros pode ser testemunha credível de um Deus que Se faz viandante, que nunca abandona, que chama sempre de novo ao recomeço.

No fim — ou no princípio, quem sabe? — está a esperança. Não como ideia abstrata, mas como pulsação interior, como gesto repetido de quem se levanta. Francisco nunca nos prometeu uma vida fácil, nem uma Igreja sem lágrimas. Mas, com ele, descobrimos que a esperança é pão repartido, é luz partilhada, é abraço que levanta quem caiu. Ele soube olhar para o futuro sem medo, soube chorar as dores do presente e, sobretudo, soube acender a esperança nos outros. Mesmo agora, quando o tempo da sua presença visível se concluiu, permanece esta herança: a esperança que não falha, que nos obriga a caminhar, que faz da Igreja, de cada comunidade, de cada crente, um espaço onde Cristo continua a falar — em voz baixa, mas tão real como sempre.

E assim, ouvindo a voz de Francisco, aprendemos a escutar a Voz que importa: a de Cristo, que chama a Igreja, que chama o caminho, que chama a esperança. Uma voz que nunca nos deixa sozinhos, mesmo no silêncio. Uma voz que, afinal, é promessa e envio, bênção e travessia, começo que não conhece fim.

Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Papa jesuíta e latino-americano, apresentou-se simplesmente como “bispo de Roma”. Desde o início, mostrou um novo estilo: o pedido de oração, a renúncia à pompa, o olhar humilde da varanda de São Pedro. Francisco foi um Papa que não ocupou o centro, mas o deslocou: dos palácios para as periferias, da rigidez para a compaixão, da formalidade para o encontro.

Não se limitou a ensinar doutrina: ofereceu um modo de viver o Evangelho. Tocou as feridas do mundo e da Igreja, aproximou-se delas com ternura. Viveu cada dia como pastor, com cheiro a ovelha e coração de Cristo. Tornou-se ponte para muitos que tinham perdido a confiança e reencontraram na Igreja um espaço de escuta e acolhimento.

O sonho do Papa Francisco foi sempre este: uma Igreja onde a sabedoria se faz caminho, a profecia se faz voz, a cultura se faz ponte e a juventude se faz futuro. Por isso, reconheceu rostos portugueses: D. Manuel Clemente, teólogo e patriarca; D. António Marto, pastor mariano e profeta; D. José Tolentino Mendonça, poeta e intelectual; D. Américo Aguiar, rosto jovem da renovação.

Francisco enfrentou escândalos com firmeza e compaixão. Escutou vítimas, pediu perdão, iniciou reformas. Relembrou à Igreja que a conversão é mais forte do que o poder. Humanizou o ministério petrino. Tornou-se próximo dos que sofrem, dos que duvidam, dos que buscam.

Ensinou-nos a caminhar juntos, a escutar o Espírito e a valorizar a pluralidade dos dons. O seu magistério sinodal não é apenas método, mas uma conversão de coração. Recuperou a teologia do povo, do cuidado e da peregrinação: convidou-nos a sermos discípulos em movimento, a renunciarmos à autorreferencialidade, a sermos uma Igreja de portas abertas

O seu legado desafia-nos: assumir a missão comum do batismo, colocar os pobres no centro, renovar linguagem e gestos, integrar doutrina e misericórdia numa fé viva e comprometida.

Deixa-nos uma Igreja renovada, uma Igreja em caminho, uma Igreja atenta às periferias. Não podemos voltar atrás: temos e devemos continuar o caminho que o Papa Francisco nos ajudou a construir.

“É necessário sermos humildes, deixarmos espaço ao Senhor, não às nossas fingidas seguranças. A ternura não é fraqueza: é a verdadeira força. É a estrada que os homens e mulheres mais fortes e corajosos percorreram. Percorrei-a, lutai com ternura e com coragem… Eu sou apenas um passo.”

— Papa Francisco, Esperança: A Autobiografia

Que o próximo Papa seja alguém que escuta mais do que fala, serve mais do que governa, une mais do que divide — um pastor com o coração de Cristo, guiado pelo discernimento e pela compaixão.

O futuro da Igreja está no coração dos batizados, nas comunidades fiéis, nos jovens que sonham, nos pastores que escutam.

O caminho não termina. Continua.

Com fé.

Com coragem.

Com esperança.

E se há um dom que ficará para sempre ligado ao nome de Francisco, é este: a palavra esperança nunca mais será dissociada do Papa Francisco. Ele ensinou-nos a esperá-la, a semeá-la, a reconhecê-la até nos lugares mais improváveis. O seu nome permanece, entre nós, como promessa e envio: esperança.

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