Quando a Diocese foi restaurada, era pároco da Sé o padre João Francisco Quaresma, cargo que desempenhou com reconhecido mérito. Tanto que foi nomeado governador do Bispado até à chegada do novo bispo, e foi por este escolhido para primeiro vigário-geral da Diocese restaurada.
Nascido em Ílhavo, a 30 de dezembro de 1873, frequentou o Seminário de Coimbra e foi ordenado a 26 de julho de 1896. Os primeiros anos de sacerdócio foram marcados pela debilidade física, provocada por doença pulmonar, dedicando-se ao apostolado na sua terra natal, sobretudo com as crianças, os pobres e as vocações. Nesse período, fundou, na Gafanha da Encarnação, o Centro de Apostolado da Oração.
Em 1916, o bispo de Coimbra envia-o como pároco da Sé de Leiria e nomeia-o arcipreste. Há testemunhos de ter sido muito apreciado o seu trabalho pastoral, numa época em que não era fácil a missão, dado o contexto político e social adverso por parte dos republicanos mais empenhados no combate à religião. Relata o jornal “O Mensageiro” de 11-04-1917, por exemplo, que o “Grémio Gomes Freire” distribuiu um panfleto pela cidade a convidar os leirienses a não receber o pároco que se propunha fazer a visita pascal. O padre Quaresma não se intimidou e, na edição seguinte, publicou uma nota em que agradecia “imensamente (…) a todos os católicos a carinhosa recepção que fizeram ao seu humilde pastor na visita pascal. Foi um acolhimento deveras captivante que caiu profundamente na sua [do pároco] alma para sempre agradecida e a encheu de grandes consolações e grandes esperanças”.
Fruto desta reconhecida dedicação e espírito de serviço, quando a Diocese é restaurada, em janeiro de 1918, o encarregado de executar a Bula Papal, cardeal Patriarca D. António Mendes Belo, nomeia-o governador da diocese. Exerceu este cargo até agosto de 1920, quando entrou na Diocese, finalmente, o seu primeiro bispo após a restauração. Era ele D. José Alves Correia da Silva, que, não só confirmou o padre João Quaresma nos cargos que desempenhava, como o nomeou vigário geral da Diocese e Consultor Diocesano, atribuindo-lhe ainda o título honorífico de monsenhor.
A ele se deve a fundação do Apostolado da Oração e a organização da catequese, entre muitas outras iniciativas que contribuíram para devolver aos fiéis os hábitos de piedade e vida cristã. Era “muito amigo” dos sacerdotes e dos seminaristas e “criança que ouvisse a falar o P. Quaresma era criança que ficava fascinada”, conta o padre José Carreira, no seu livro sobre o clero de Leiria.
Em maio de 1940, pediu exoneração do cargo de vigário geral por motivos de saúde, regressando a Ílhavo, onde continuou a desenvolver atividade pastoral, nomeadamente na capelania da Vista Alegre.
A 8 de dezembro de 1955, o Bispo de Leiria, D. José Correio da Silva, publica a seguinte Provisão no jornal “A Voz do Domingo”: “De entre os sacerdotes desta Diocese, entendo que devo especializar o Rev. Padre João Francisco Quaresma, que encontrei como pároco da cidade de Leiria e que sempre me auxiliou na organização desta nova Diocese de que foi o primeiro Vigário Geral. Quero pois, nomeá-lo Cónego honorário da Sé de Leiria.” Esta nomeação póstuma e honorária significa bem o apreço que o primeiro bispo da Diocese restaurada manteve pelo trabalho pastoral do padre Quaresma.
Faleceu na sua terra natal, a 5 de outubro de 1957, com 84 anos de idade.
Por ocasião do centenário do seu nascimento, em 1973, uma delegação de cerca de 40 padres e leigos da Diocese de Leiria deslocou-se a Ílhavo para uma singela homenagem de gratidão à sua memória.
Luís Miguel Ferraz
Fontes: Trindade, P. João Vieira, trabalho inédito de recolha biográfica do clero de Leiria;
Carreira, P. José, “O Clero da Diocese de Leiria e o seu Passado”, 1984.
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