Foi o último padre a ser ordenado antes da extinção da Diocese de Leiria e a receber a Unção Sacerdotal das mãos de D. Manuel Correia de Bastos Pina. Foi também o último vice-reitor do Seminário antigo e voltaria a sê-lo após a restauração, fazendo a ligação perfeita entre o passado e futuro da instituição.
Na verdade, o nomeado para o cargo até foi o cónego Manuel Góis, mas este fez questão de esconder o facto, de modo a não retirar ao padre Joaquim José de Carvalho o título de “sr. vice-reitor”, que iria manter por toda a vida.
Estava bem entregue a denominação ao verdadeiro obreiro da “reconstrução” do Seminário, assim que foi noticiada a restauração do bispado. Logo em 1918, e durante os mais de dois anos decorridos até à entrada do primeiro bispo (D. José Alves Correia da Silva), foi ele quem iniciou o processo de voltar a reunir os seminaristas em Leiria, recebendo-os na sua própria casa. Entre esse primeiro grupo de sete seminaristas estava João Pereira Venâncio, que viria a ser bispo desta diocese, vindo também a ser ordenados João Ferreira Órfão e José Antunes de Faria.
Ora, situava-se essa casa do padre Carvalho na Quinta de Bela Vista, que viria a deixar à Diocese e onde, precisamente, está hoje situado o Seminário Diocesano de Leiria. É caso para dizer que, depois de passar por vários edifícios na cidade, o Seminário acabou por voltar à sua raiz e ao seu verdadeiro “dono”, que não chegou a ver esse sonho realizado. Está, no entanto, “presente” no busto colocado no largo com o seu nome, junto à entrada da quinta (na foto).
O padre Joaquim Carvalho nasceu no lugar do Arnal, freguesia da Maceira, a 23 de março de 1860, filho de Joaquim Carvalho e Inácia Suzana. Fez os seus estudos no “Seminário Conciliar de Santo Agostinho”, em Leiria, vindo a ordenar-se em setembro de 1882, já com a bula de extinção da Diocese em execução. Celebrou a primeira Missa a 30 de setembro desse ano, no Solar da Senhora da Encarnação, a que pela vida fora havia de ficar sempre tão ligado. Foi vice-reitor e reitor do Seminário de Leiria, bem como professor de Português e Latim, ali e no Liceu e na Escola Industrial da cidade. Foi provigário-geral da Diocese, nomeado pelo cardeal D. António Mendes Belo, e vigário-geral, nomeado por D. José Correia da Silva. Este primeiro bispo da Diocese restaurada iria também nomeá-lo cónego, em junho de 1943, mas não chegou a tomar posse, tendo falecido a 5 de dezembro desse ano.
“Homem forte, firme e bom em tudo, (…) um português de rija têmpera e um padre, sempre e acima de tudo, da Igreja (…), grande servidor da Igreja, da Diocese, da Nação, um autêntico e fiel servo do povo de Deus! Um modelo de padre”, assim refere o resumo biográfico escrito pelo padre José Carreira. E adianta que “nunca deixou de percorrer a cidade, entrar e sair em todas as repartições públicas ou do Estado, sair ou entrar na sua casa, que não fosse de batina, capa eclesiástica, barrete e sapatos de fivela, com a sua forte e bem atilada bengala, para arrimo, pois de tão respeitado, mesmo nos tempos de 1910, não consta que para mais dela houvesse feito outro uso”.
A sua ação estendeu-se também à participação cívica, ao ponto de ter sido presidente da Câmara de Leiria, entre 1906 e 1908, bem como presidente local do Partido Liberal e diretor do Asilo Distrital.
“Mas as árvores também morrem e esta morreu de pé”, escreve o padre José Carreira: “Interessantes os seus diálogos, no fim da vida, como preparação para a derradeira hora! Que fim tão belo e que admiráveis disposições das suas faculdades mentais: – Memória, inteligência e vontade!”.
Luís Miguel Ferraz
Fontes: Carreira, P. José, “O Clero da Diocese de Leiria e o seu Passado”, 1984; Almeida, P. José Fernandes de, “O Seminário de Leiria – Achegas para a sua história”, 1987.
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