360º é quanto gira o mundo na mão dos jovens

201 visualizações

Contando cerca de 40 anos permeados pelo dealbar deste  século podemos encontrar o que hoje consideramos dois artefactos arqueológicos que nos ilustram o tipo de evolução  que vivemos na nossa sociedade. Na escola havia colegas que se queixavam dos seus pais porque autorizavam os  professores a bater-lhes como prolongamento da “educação” que lhes davam em casa ainda que não se visse nenhum  docente aproveitar a deixa para molhar a sopa nessa altura essa possibilidade já soava como despropositada e  suscitava cautelas em certas aproximações, mas eis que passadas poucas décadas prestes a entrar para a reunião de  apresentação com os encarregados de educação em inicio de ano letivo há um deles que não se inibe de arregaçar a  manga para mostrar o bíceps ameaçando antecipadamente com um processo a professora caso tocasse no seu filho quando nem se sabia quem era nem sequer tinha falado, portanto um evidente “progresso” no que foi entendido como  cidadania ativa num Estado de direito, a tal literacia entortada de meter processos desconhecendo-se se os tribunais  têm o lugar próprio para receber tão delicadas iniciativas. 

Muita coisa mudou nestes anos e continuamos nessa senda com argumentos muito forjados dando a suspeitar de  encenações, ficando as interpretações conspirativas a cargo de quem as invocar, composições realísticas para dar  saída a interesses deixando à margem as crianças e jovens, dá ideia que se acrescenta uma complicação a cada dia que  passa quando a sua educação é tão simples como desejar-lhe o BEM maior de terem confiança no futuro, é isto que  paradoxalmente encontramos na sabedoria numa das regiões mais pobres do mundo votadas ao subdesenvolvimento  mas que muito tem a ensinar às nossas sociedades tão brilhantemente decoradas mas onde falta o essencial, um  provérbio africado diz-nos que Para educar uma criança é precisa uma aldeia, esta é uma afirmação tão alegre e  verdadeira para quem contactou com a vida genuína das pessoas das aldeias que torna chocante e irracional o que se  passa com as dificuldades que se arranjam à medida para baralhar as vistas dos jovens mais desprevenidos  acreditando na inocência de tudo o que lhes surge à frente porque julgam controlar o que se passa em 6,5 polegadas  de luz cheias de obscuridade nas suas mãos. 

O mundo parece-nos hoje um automóvel acidentado com os vidros em mil pedaços espalhados pelo chão, tudo se estilhaçou a começar pelo próprio homem tão confiante num EU que vai encolhendo até só restarem os acessórios  que o enfeitam tornando-se ele próprio o gadget que já passou de moda pronto descartar. Numa aldeia reparamos no  conjunto de pessoas e o meio que as envolve, a família a escola e a comunidade concorrem para o mesmo bem  comum de ter pessoas capazes de levar a vida para a frente dando expressão aos valores essenciais que as mantêm  próximas, embirrações à parte o mais importante é sempre o futuro e as crianças são alvo de uma atenção particular  encarregando-as até de manterem a pureza de sentimentos que permite aos adultos referenciarem-se pelo melhor que  a vida lhes dá, ora nada disto se cultiva nas grandes urbes pelo contrário sendo à força dos desgostos da maioria que  se acaba por contaminar o resto do espaço coletivo. 

O comércio de felicidades prontas a degustar é o paradigma dominante veja-se como uma só palermice animada a  cores é capaz de prometer prazer e sucesso imediato, escondendo-se os elevados custos de tão providencial pilula, a  desagregação e distúrbios causados pelas duvidas de identidade sexual, desculpe-se a expressão fora da doutrina  ideológica atual, fomentam a procura de uma satisfação individual a todo o custo fechando os jovens numa lógica  consumista em que se tornam também produtos com prazo de validade, suscitam-lhes uma ansiedade devidamente  planeada para os tornar inseguros e sempre carentes com medo de lhes faltar alguma coisa prometida nas entrelinhas  de dedos a deslizar em écrans. É assim que já vêm os relacionamentos a curto prazo, se o namoro é passageiro o  casamento é apenas mais uma experiência daquelas que se compram online, deste modo ficam incapazes de assegurar  um compromisso com alguém fogem da densidade dos olhares desconfiam de tudo pois não têm uma estrutura de  valores focada na integridade do seu próximo sem haver qualquer tipo de transação pelo meio, ingénuos acreditam em explicações tão científicas assegurando que o casamento “já não é assim”, as novas famílias “são diferentes”, “o  mundo mudou” tudo abstrações que promovem um vazio destinado a ser ocupado por quem vende a satisfação mais  urgente. Desconhecendo as ideologias destinadas a produzir apetites na aldeia global resulta uma complexidade  difícil de descodificar pela quantidade de informação gerada e despejada num jovem sem capacidade escolher o que é  melhor para si descortinar o que é realmente importante. Estabelecer relações de confiança é uma exigência básica  em sociedade e só se consegue em meios onde a entrega e a proximidade não têm preço os jovens precisam desses  espaços sem deixarem de contactar a paranoia produtiva do mundo apresentando maravilhas alucinantes a cada  instante e deste modo saberem posicionar-se com o distanciamento próprio de uma decisão em consciência.

Partilhar

Leia esta e outras notícias na...

Receba as notícias no seu email
em tempo real

Pode escolher quais as notícias que quer receber: destaques, da sua paróquia