A Junta Regional de Leiria-Fátima, entidade que congrega todos os agrupamentos de escuteiros da Diocese, já pôs em marcha os preparativos para as comemorações do centenário da presença daquele movimento católico na região. Pedro Nogueira, o atual chefe regional, foi o porta-voz daquela associação juvenil na conferência de imprensa realizada na segunda-feira na Marinha Grande, no Edifício da Resinagem.
Um ano a lembrar 100 anos
“De outubro de 2024 a dezembro de 2025, serão 15 meses de celebração, coincidindo com o ano escolar; esperamos que este ano seja de grande alegria e felicidade, não só entre os escuteiros, mas também com toda a comunidade”, afirmou o dirigente, ante de começar a enunciar as diversas atividades que são propostas ao longo de mais de um ano. A maior parte delas já faz habitualmente parte do calendário escutista. No entanto, até mesmo essas terão um figurino diferente. Exemplo disso, é o dia do fundador, Baden-Powell, que passa a realizar-se num fim de semana e com um programa mais alargado, “com atividades espalhadas pela cidade e uma grande festa aberta à comunidade”. Mas isso será apenas em fevereiro de 2025.
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Até lá, há muito mais para fazer e celebrar. Pode afirmar-se que os festejos começam já neste mês de agosto, com a realização do ACAREG – Acampamento Regional. Entre os dias 5 e 11 de agosto irão estar na Batalha, na Quinta do Escuteiro, cerca de 1200 escuteiros. A organização contaremos com a presença do bispo diocesano, D. José Ornelas, na celebração eucarística e espera, também, a ministra da juventude, Margarida Balseiro Lopes, entre outros presidentes e vereadores.
Entre 18 e 20 de outubro de 2024, realiza-se o JOTA-JOTI (Jamboree On The Air / Jamboree On The Internet), a maior atividade escutista a nível mundial, envolvendo cerca de 2 milhões de escuteiros de todo o planeta. Aproveitando esta data e este evento, a Junta Regional de Leiria vai promover a abertura do ano escutista na Marinha Grande, com todos os 34 agrupamentos da Diocese. o JOTA-JOTI é organizado em Portugal pela Junta Central, sendo que há candidaturas para acolher o evento a nível mais local. Este ano o Agrupamento 36 da Marinha Grande candidatou-se com o apoio da Junta Regional e, por ser ano de centenário, foi acordado incluir o evento nas celebrações.
Já no próximo ano, e depois do Dia de B.P, os escuteiros fazem a sua habitual participação na peregrinação regional a Fátima, envolvendo congregações e movimentos da Igreja. Está previsto acontecer no dia 5 e 6 de abril de 2025, sendo que, de acordo com informações obtidas junto da Diocese, esta data possa ser alterada.
O Moot é outra atividade internacional organizada pela Organização Mundial do Movimento Escutista, que vai estar presente na calendarização. Portugal vai ser o país anfitrião de cerca de 5000 escuteiros. “Sabemos que há escuteiros da Região que se candidataram a organizar rotas; àqueles que passarem por cá vamos ter uma recordação para lhes dar”, informou-nos posteriormente o chefe regional.
Um dos eventos que é uma novidade, é a realização de um arraial escutista. A realizar-se no dia 21 de junho do próximo ano, esta iniciativa pretende ser uma mostra das atividades dos agrupamentos. Ainda não há local previsto para esse arraial e a Junta Regional está disponível para que ele se possa realizar em qualquer município da região. “Inicialmente pensámos em Leiria, mas como Leiria já vai ter o Dia do BP e o Dia da Região, gostaríamos que, se outro município estivesse disposto a acolher o arraial não nos importaríamos de o realizar lá”, explicou Pedro Nogueira. O chefe regional informou a propósito que Leiria tem 19 agrupamentos, Ourém tem seis, Pombal tem três, a Marinha Grande tem dois, e os outros municípios têm um cada.
Para fechar o ano em 2025, será realizado um congresso, “onde os nossos escuteiros mais jovens poderão expressar as suas opiniões sobre o futuro do escutismo na região”.
Região de Leiria-Fátima, uma história para contar
Num prelúdio à apresentação do programa, Pedro Nogueira fez uma breve resenha da história do escutismo na Diocese.
O movimento teve início em 1907, na Inglaterra, pela mão de Baden-Powell, quando este levou um grupo de 20 rapazes de diferentes classes e estratos sociais a acampar, numa tentativa de melhorar os padrões de caráter e saúde das crianças e jovens da época. O escutismo só chegaria a Portugal em 1913 através de experiências de vários grupos escuteiros.
Dez anos decorridos, foi o Corpo Nacional de Escutas (CNE) que, em 1923, trouxe o escutismo católico português para o país. Explica o dirigente que “no dia 27 de maio de 1923, após o arcebispo D. Manuel Vieira de Matos e Avelino Gonçalves terem assistido a um desfile de 20.000 escuteiros em Roma, trouxeram a ideia para Portugal, tendo começado em Braga e chegado a Leiria em 20 de março de 1925”.
A constituição do escutismo na Diocese de Leiria foi decretada nessa data, com Joaquim Pereira dos Reis, Sebastião da Costa Brites e Augusto dos Reis como os chefes nomeados para iniciar o processo.
“Desde então, gerações de escuteiros passaram pelos nossos agrupamentos, adicionando as suas próprias páginas à nossa longa e admirável história”, acrescentou.
A importância do escutismo na Igreja
Quem também esteve presente no encontro foi D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, por considerar o centenário do movimento uma “data muito importante e significativa para aquilo que somos hoje num mundo onde todos falamos dos jovens e temos dificuldade em mobilizá-los, em fazê-los participar nas coisas ou então participam de modo que é típico deles”. O prelado considera “que o desafio lançado pelo escutismo é importante”, pois passa por “implicar os jovens e torná-los aptos para serem agentes de transformação, a partir de uma experiência de viver em conjunto com ideais comuns”.
“Ter um movimento como o escutismo, a nível mundial, que o faz desde sempre com uma pedagogia e paixão que se sente desde os mais novos aos mais velhos, é algo notável, é transgeracional”, disse D. José Ornelas, que considera o escutismo sempre atual apesar de mais de um século de existência. Acredita que “o escutismo mantém-se relevante pelos seus ideais de estar em comum, fazer as coisas em conjunto” e, embora admitindo que nunca tenha sido escuteiro, vê-o com muito agrado, pela sua capacidade de juntar as pessoas.
O bispo de Leiria-Fátima destaca o papel agregador que o escutismo tem na Igreja. Enquadrando a sua presença no processo sinodal em curso, o CNE é “uma forma de abertura de uma Igreja que não se fecha dentro dos seus edifícios, mas que olha para o mundo; os escuteiros são intermediários desse relacionamento dinâmico e criativo”.
O prelado afirmou ainda que “os escuteiros ajudam na descoberta e sublinham temas importantes, como a ecologia”, tema ganhou importância com a Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, “que nos ensina a nos interessar vivamente pelo nosso planeta”.
Coisas que não se aprendem em mais lado nenhum
Que também esteve apresentação do programa do centenário foi o próprio anfitrião. Aurélio Ferreira, presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande acredita que “celebrar 100 anos não é algo trivial”. “Se chegámos até aqui, é porque há muito mérito envolvido, algo fundamental de se entender: a importância de 100 anos numa instituição ou organização; poucas são as que conseguem essa longevidade, mas o escutismo conseguiu, e acredito que continuará”, desenvolveu o edil.
Considera que não é a pessoa mais apropriada para falar sobre o escutismo, mas reconhece o seu valor, pois, “apesar de o meu pai não me ter colocado no escutismo, eu coloquei os meus filhos, que seguiram esse percurso”. Por isso, entende que “é uma boa escola para nós, pais e educadores, ajudando a formar bons cidadãos”. Em jeito de partilha, contou que “quando olho para a educação dos meus filhos, vejo que o escutismo foi uma parte importante; há coisas que eles aprenderam aqui que não aprenderiam em mais lado nenhum”.