POR PEDRO COTRIM
No processo de preparação para o próximo Congresso da ACEGE, que se realizará nos dias 4 e 5 de Fevereiro, o núcleo de Leiria decidiu dar palco à cultura. Num grande sortimento de pequenas associações dinâmicas e que formam grandes artistas, Acácio Faria Lopes, responsável por este núcleo distrital, destaca a SAMP – Sociedade Artística Musical de Pousos. Nascida em 1873, esteve continuamente em actividade até aos dias de hoje, tendo em Eça de Queirós um dos fundadores.
Paulo Lameiro, o orador convidado por Acácio Faria Lopes, tem uma genealogia particular, e o responsável distrital entrega-nos um resumo biográfico que transcrevemos.
É casado e tem dois filhos. O seu avô materno era o Zé Barbeiro, que cortava a barba e o cabelo aos homens que trabalhavam a terra de sol a sol. E o avô paterno era o Banheiro Bacalhau, pescador da arte xávega da praia de Vieira de Leiria. Corre portanto no seu sangue esta arte de sofrimento, e este cruzamento peculiar coloca Paulo Lameiro na via da arte e também na do serviço ao outro.
Lameiro é natural de Pousos, Leiria. É musicólogo, pedagogo, comunicador e criativo. Iniciou a carreira como barítono. Integrou o coro do teatro nacional de São Carlos. Foi professor no conservatório nacional, no Orfeão de Leiria e nas escolas de artes da SAMP em Pousos. E é a partir desta sua terra natal que desenvolve desde 1992 projectos de educação e de produção artística para a primeira infância, de que se destacam o Berço das Artes, os Músicos de Fraldas, o Pinhal das Artes os concertos para bebés.
Tem vindo a interessar-se mais recentemente pelas práticas artísticas com várias comunidades, nomeadamente de reclusos, com a Ópera na Prisão. Faria Lopes destaca igualmente as iniciativas com idosos, nas Novas Primaveras, e com as gentes de etnia cigana com a Roma do Lis.
Em relação aos doentes crónicos e terminais, Lameiro fundou o primeiro laboratório europeu de musicoterapia no hospital de Santo André. Foi também membro fundador e integrou o primeiro Conselho Científico do Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa, tendo publicado estudos da especialidade em várias revistas. Foi ainda fundador e maestro titular durante 12 anos da Schola Cantorum Pastorinhos de Fátima.
Neste momento acumula também, além das actividades artísticas, a responsabilidade pela candidatura de Leiria a cidade Europeia da Cultura para 2027. Recebeu vários galardões e prémios que, pela sua quantidade, Faria Lopes garante serem impossíveis de elencar. Perante esta circunstância, o responsável distrital destaca os que recebeu da Fundação Calouste Gulbenkian, do Município de Leiria e da SAMP.
Paulo Lameiro aqui está, em discurso directo.
PAULO LAMEIRO
“Em primeiro lugar, agradeço o convite da ACEGE, pela mão do Acácio. Regozijo-me por este encontro em que, no final de um dia de trabalho, tendes tempo e ainda disponibilidade interior para abordar a fé, que imagino presente em todos os que estão a partilhar este ecrã.
O Acácio mencionou há pouco o facto de eu ser neto de um barbeiro dos Pousos e de um pescador da praia da Vieira. A fé que eu recebi originou um cruzamento de duas tradições muito distintas. A fé da minha mãe e da minha família materna é aquela que por vezes designamos como fé beata, fé de sacristia, fé do terço, fé da missa, fé dos ritos onde nos encontramos. Do meu pai recebi uma fé que é a fé do mar, a fé das gentes que conhecem um infinito maior, que têm um Deus maior, um Deus que não se descreve por palavras.
O meu pai ainda hoje me fala sobre as orações de pessoas que não têm fé. Os pescadores, os homens, não vão à missa nas praias, vão apenas as mulheres. Os homens não vão, mas rezam imenso quando lançam as redes, e do meu pai guardei este olhar mais introspectivo para o tempo, para os grandes valores e para um Deus que não se mede e que seja talvez mais misterioso. É uma catequese porventura mais profunda, mais solidária, e eu sou fruto dela. No fundo, são estas duas correntes genéticas que me constroem.
Irei partilhar convosco alguns projectos que tenho desenvolvido nos últimos trinta anos e que acrescentarão significado ao que acabo de enunciar. A cultura e as artes têm um papel extraordinário nas nossas vidas, mas a maior parte de nós olha para ambas como um consumo que complementa aquilo que é verdadeiramente importante na nossa vida. Podemos deitar mão ao exemplo da escola: as áreas e as disciplinas culturais são sempre conteúdos de enriquecimento curricular. Nunca são verdadeiramente «currículo», que é constituído por matemática e português, sendo que a cultura, na realidade, aparece sempre como uma espécie de complemento.
Por exemplo, nós apenas consumimos cultura ao fim-de-semana ou à noite. Em alguns países que temos como um pouco mais avançados que o nosso os concertos não são à noite, são à hora de almoço ou ao final do dia. Ninguém perde tempo à noite para assistir a um concerto nem vai aos fins-de-semana ver exposições. O fim-de-semana é para estar em família, é para jardinar, é para passear. É um tempo para nos encontrarmos.
A cultura tem realmente este lugar na nossa educação do sul da Europa e esta circunstância torna-se profundamente importante. Os tempos mudaram desde a minha juventude quando disse aos meus pais que queria ir para o conservatório. Hoje em dia, qualquer criança ou jovem ou criança que diga aos pais quer ser actor ou músico ou bailarino ou pintor terá uma aceitação menos melindrosa. Até há alguns anos prevalecia esta ideia de que ser artista não era verdadeiramente uma cidadania em plenitude.
Por tudo isto gostava de vos contar um pouco sobre os projectos com que fui crescendo, porque fui percebendo que a cultura será porventura o nosso ponto de contacto mais poderoso, não só de uns com os outros, mas mesmo com a fé. A arte e o belo constituem seguramente o caminho mais poderoso para dialogar e contemplar um Deus, e talvez muito mais que as fórmulas que teimamos em repetir para aceder a esse mesmo Deus.
Temos o nosso Tolentino, um bibliotecário no Vaticano, português e intelectual de escol. Na sua raridade, é bom que tenhamos na Igreja vozes que percebam e que testemunhem que um dos caminhos privilegiados para aceder ao mais profundo de nós está mais próximo da arte e do belo do que de fórmulas e ritos.
Eu discuto muito com a minha irmã. É missionária e está neste momento na floresta amazónica. Os meus pais testemunham muitas vezes estas «discussões» por via do rito e pela catequese sob formas tão distintas. Mas a verdade é que a minha irmã está no terreno, de armas e bagagens ao dispor da militância, e de vez em quando encontramo-nos e percebemos ambos como é que a militância e o belo por vezes se ajustam para nos amparar.
Vou partilhar agora algumas actividades da SAMP, por ser efectivamente a instituição mencionada pelo Acácio e por eu estar envolvido numa série de projectos. A SAMP, uma instituição que conheci em criança e onde adquiri um conjunto de aprendizagens enquanto cidadão, enquanto pai e enquanto filho e que constituem hoje a energia que alimenta um conjunto de projectos de trabalho.
Trabalho com uma equipa espantosa. As pessoas são mais importantes que todos os projectos e ideias. Todos os anos esta equipa trabalha com pessoas em estado terminal, com reclusos, com pessoas que sofrem de doenças oncológicas ou de dor crónica, com crianças com necessidades especiais e também com pessoas normais, se é que há de facto pessoas normais, como costumamos dizer. É uma equipa pequenina. De facto, fazemos questão de todos os anos nos encontrarmos aqui no Carvalhal da Curvachia para nos lembrarmos que tudo o que importa demora muito tempo e que não é possível transformar esta ideia de transformação.
Hoje o TikTok, o Instagram, os mercados e as eleições impõem agendas que por vezes nos fazem esquecer o essencial, sendo que o que importa nas nossas vidas se faz demorar. Podemos abraçar simbolicamente este carvalho que terá uns 500 anos e cujos irmãos serviram para fazer traves nas nossas naus para nos lembrarmos que o que fazemos é muito pouco. Temos de pensar sempre a longo prazo, e quando falamos em cultura é de facto o que sucede: grandes períodos.
A SAMP é bastante reconhecida pelo trabalho com bebés, e talvez por isso o nosso primeiro projecto se chame Berço das Artes. É uma aula onde pais e mães vêm com os seus bebés. Com os bebés aprendemos a aprender; com os idosos aprendemos o que vale a pena aprender. E surgiu um facto curioso: inicialmente, quando recebemos pais, mães, avós com bebés, pensámos que estávamos a fazer aulas de música. Foi o que pensei há 30 anos e posso mesmo afirmar que tudo resultou de um problema pessoal: cheguei ao conservatório apenas aos 18 anos e não me deixaram entrar para o curso de trompete porque eu tocava muito modestamente quando comparado com as crianças de 6 e 7 anos que lá estavam.
Na minha aldeia, no entanto, o mestre da banda tinha-me dito que eu era o maior. Podia ser o maior na minha aldeia, mas percebi realmente que cheguei tarde. Não quero que na minha filarmónica isto torne a acontecer. Decidimos então começar as aulas mais cedo e a ideia pareceu um pouco leviana. Cometeram-se muitos erros pedagógicos, mas as aprendizagens foram extraordinárias, porque aquilo que inicialmente era um curso de música para bebés passou a ser um espaço de encontro de pais com bebés com outros pais e com outros bebés.
Creio que se aprende a ser pai com o próprio bebé, mas quem é pai sabe-o duma forma e quem é avô sabe-o doutra forma. Olhamos para nós próprios, para o espaço físico que nos rodeia, para o nosso trabalho, para a pessoa, para os companheiros e companheiras com quem vivemos e tudo é reequacionado. Ao trabalharmos com pais e bebés vamos sendo refrescados e é uma actualização extraordinária.
Talvez eu arrisque afirmar que tudo o que fazemos hoje, em todos os contextos, incluindo as intervenções na prisão ou o amparo a doentes em estado terminal, deriva do que aprendemos com os bebés, começando pela utilização da linguagem não-verbal. As palavras contam realmente muito pouco.
E a aprendizagem do trabalho com bebés permitiu-nos comunicar com os outros sem utilizarmos as palavras. Por vezes comprometem a mensagem, por paradoxal que isto possa parecer. Aprendemos a comunicação não-verbal e a respeitar as relações de uma forma instintiva.
Muitos destes pais foram pela primeira vez a um concerto de música clássica por ter havido um «concerto para bebés». Foi o bebé, pela sua mão, até porque de repente, nesta apressada era da informação, começa a ouvir-se dizer que «se os bebés ouvirem música clássica ficam muito inteligentes e desenvolvem uma espécie de ‘efeito Mozart’. Vamos levar os bebés!». Na realidade não é de Mozart nem de arte que falamos, mas de valores básicos da natureza humana.
E os pais continuaram a cantar e a tocar com os seus filhos. Esta relação cresceu, não se limitando ao acto de os levar à escola de música para tocarem. É comum pais e avós levarem filhos para estas aulas e dizerem: «Isto é para ti, é a tua aula de violino. Eu fico aqui a ler o jornal ou nas compras e depois venho buscar-te». Conseguimos uma coisa diferente.
Na SAMP desenvolvemos um programa em que não há encarregados de educação, não há pais. Há Josés, Catarinas, Susanas e Matildes, uns são pequeninos e bebés e vêm ao colo de outros maiores, mas todos importam nesta relação com a cultura. Estes projectos cresceram e estes atrevimentos filarmónicos desembocaram em projectos hospitalares.
E chegámos ao hospital porque nas aulas de bebés apareciam pais que não sabiam que o seu bebé tinha um problema. Ao invés, julgavam, orgulhosos, que a estereotipia apresentada era uma aptidão musical. O pai a pensar «o meu filho dança tão bem, sente o ritmo tão bem», e nós a pensarmos «como vou dizer a este pai que o bebé pode ter um problema e que tem de ir a uma consulta de desenvolvimento?»
Estabelecemos uma relação com o hospital de Leiria e dela cresceu um conjunto de projectos, uns especificamente no âmbito da musicoterapia, outros no âmbito mais global da terapia pelas artes, da humanização pelas artes, sendo que um dos projectos que nasceu foi o Allegro Pediátrico. A música propriamente dita também conta. Há muitos estudos que não cabem nesta apresentação em que se comprova a evidência de o bebé ouvir ainda antes de nascer e que fizeram brotar muitos projectos ao nível da música e da pediatria. E também da detecção da doença mental.
Não precisávamos de uma pandemia para perceber o crescimento dos problemas mentais. A doença mental é um dos maiores desafios da humanidade, e por isso se desenvolveram muitos programas, tanto para doença mental aguda como crónica, sendo necessário trabalhar esta relação com os limites da sanidade. Os técnicos têm absolutamente de saber onde estão e onde estão os outros. A arte e a cultura oferecem-nos esta capacidade de nos conhecermos e nos relacionarmos com o mundo de uma forma mais extraordinária e mais espontânea.
A musicoterapia começou a ser vulgarizada, e hoje em dia a investigação e o desenvolvimento das neurociências levaram-nos a ter no hospital muitos projectos artísticos, não apenas para humanizar ou para curar, mas aplicando a arte verdadeiramente como uma ferramenta de integração, de coesão humana e social.
Um dos projectos que mais me toca destina-se a doentes mentais crónicos. Chama-se 100 Limites ao Som e convido-vos a lerem algum conteúdo disponível, uma vez que o tempo se adianta e quero ainda passar a um dos projectos fundamentais. Talvez vos possa dizer que o 100 Limites ao Som é um dos projectos em que mais nos conhecemos a nós próprios, um pouco por abranger pessoas de todas as idades e condições e porque a doença mental crónica, no internamento, é muito pior que a prisão.
E é daqui que saímos para a prisão. Temos este projecto em concreto que se chama Ópera na Prisão, estando agora na edição Traction porque entretanto se transformou num projecto europeu de investigação em realidade virtual aumentada e impacto social. Para reforçar a urgência deste projecto saliento que Leiria, além de duas prisões, tem um estabelecimento prisional para jovens entre os 16 e os 25 anos com penas muito pesadas.
Estes jovens têm-nos merecido um Ópera na Prisão com um ciclo de 3 anos. No primeiro ano os artistas vão para dentro da prisão aprender a estar com estas pessoas, contar-lhes sobre si próprios e sobre o que gostam de ouvir. É recíproco e percebemos rapidamente que não basta estar com eles. Temos de ir a sua casa, que pode ser na Amadora, na Baixa da Banheira, no Funchal ou em Bragança.
Este projeto contempla 50% de trabalho dentro da prisão e 50% fora. Trabalhamos a ópera porque talvez seja o género musical mais fácil e mais poderoso. Há muitos outros projectos que tratam o hip-hop, o street e outros géneros, mas é a ópera que mais fundo alcança na alma humana, pois trabalha a música, o teatro, a dança, a literatura, a engenharia, a tecnologia, a arquitectura e o design. E tudo a um nível muito avançado.
Neste projeto efectuamos realidade virtual aumentada com os laboratórios da Europa mais vanguardistas para um ambiente de ópera. O primeiro ano serviu para nos conhecermos. No segundo ano trabalhámos Don Giovanni, uma ópera de Mozart. O protagonista comete um crime no início e este acto é fulcral durante a totalidade da peça. A ideia que permanece é que quem com ferro mata com ferro morre, e surge-nos a questão da punição e do julgamento. Mas o que é cometer um crime?
Falo-vos agora do Jackson, que era o líder do gangue. Os guardas prisionais escolheram-nos para o projeto do primeiro ano por esperarem que ele nunca nos deixaria pôr em marcha o projecto, pois para um estabelecimento prisional é um desafio enorme. Mas sucedeu o contrário, porque o Jackson era de facto era um líder. Era um líder dentro da prisão, e, como podem imaginar, cometeu o pior. Estava com uma pena de vinte e cinco anos, mas está agora morto.
Na primeira ópera cantava um rap em que afirmava que não nascera dentro da prisão e que não morreria dentro na prisão. Um dia as portas abrem-se e ele sai, mas não tinha ninguém cá fora à espera dele. Vai para o bairro da Cova da Moura fazer o que fazia antes de entrar e morreu com um tiro. Para tentar evitar tragédias, este projecto tem investido muito em transformar, não apenas estes rapazes e as suas famílias, não apenas os contextos laborais, mas todas as partes interessadas neste projecto.
Fizemos protocolos entre empresas. Muitas comprometeram-se em receber ex-reclusos que tinham tido um testemunho extraordinário. Pensem por uns instantes: se vocês forem pais ou mães de um ex-recluso, a última coisa que querem é que uma empresa qualquer dê emprego ao vosso filho precisamente por ele ser um ex-recluso.
Errámos ao termos feitos publicamente estes contratos, mas aprendemos e o projecto cresceu deveras. Temos hoje a Fundação Gulbenkian a apoiar-nos com a sua orquestra. Fazemos récitas aqui dentro do estabelecimento prisional, e depois deste segundo ano em que aprendemos esta ópera de Mozart, temos agora uma ópera criada de raiz com os reclusos.
O terceiro ano serve para operar a transição entre esta experiência imersiva de sentir o que é uma orquestra, o que é que está dentro de uma ópera e o que é sentir a voz humana sem amplificação, sem a electrónica que a torna maior mas mais artificial. E este terceiro ano serve para operar esta transição.
No palco sucede a ópera, nos bastidores as coisas acontecem. Há por exemplo um avô que foi pela primeira vez à Fundação Gulbenkian. Não foi ouvir a Orquestra Gulbenkian, foi ouvir o seu neto porque estava no elenco, mas este avô não sabia que o neto estava preso. Há muitas pessoas que não sabem que têm familiares presos. E foi aqui, no meio da azáfama dos bastidores, que ocorreu um perdão, uma misericórdia porventura impossível em contexto prisional. Apenas foi possível porque o avô acabara de ouvir Mozart e de ver o seu neto a cantar numa ópera inesquecível.
Os projectos de hoje na SAMP já não são apenas para bebés, para reclusos e para a comunidade cigana. Para um bebé há tempo e dinheiro, há programas, há bibliografia, há tudo. Mudar uma fralda a um bebé é uma coisa poética e tocante, mas é muito diferente fazê-lo a um pai ou um avô. Hoje o projeto que mais nos mobiliza e no qual mais investimos chama-se Aqui Contigo, destinado a cuidar de pessoas em estado terminal. É particularmente especial, como imaginam.
Nós não nos transformamos no nosso dia-a-dia. Transformamo-nos no final da nossa vida quando efectivamente processamos o que foi importante para nós. Se a comunidade que nos rodeia reconhece e partilha essa experiência de vida que dá sentido a cada uma das nossas ocasiões, estamos em paz. Celebramos o nascimento, fazemos festas familiares, mas não somos capazes de celebrar a morte: escondemo-la e sabemos escondê-la.
A morte deixou de ser algo próximo de nós, e por isso a arte, dentro dos projectos em que tenho vindo a trabalhar, é cada vez mais uma ferramenta para nos ajudar a fechar este tempo que nos cabe e que temos o privilégio de viver, esta bênção absoluta que é a vida. Tenhamos fé ou não.