Entre todas as semanas do ano, a mais importante para os cristãos é a Semana Maior, que foi santificada pelos acontecimentos que a liturgia celebra, da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor – o Mistério Pascal. De facto, esta semana é o coração e o centro de toda a liturgia anual, Nela se celebra o mistério da redenção, o grande sinal do amor de Deus salvador.
O cristão entra na Semana Santa com o espírito de paz interior e recolhimento. A Quaresma foi um tempo de trabalho, disciplina, conversão, penitência… agora chegou o tempo de “descansar” na Paixão de Cristo.
Como referem as Normas sobre o Ano Litúrgico, “o sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de todo o ano litúrgico, porque a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus foi realizada por Cristo especialmente no seu mistério pascal, pelo qual, morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando restaurou a vida. A proeminência que na semana tem o Domingo, tem-na no ano litúrgico a solenidade da Páscoa” (n.º 18). E nela tem especial relevo a Vigília Pascal, o ponto culminante para o qual todo o Tríduo se orienta.
Quinta-Feira Santa
A Missa da Ceia do Senhor assinala o final da Quaresma e o início do Tríduo, na noite de Quinta-Feira Santa. Tem caráter festivo, pelo que se canta o hino de glória e tocam os sinos, e deve ser celebrada com toda a dignidade e solenidade.
Os textos bíblicos e as orações realçam que Cristo, com a instituição da Eucaristia, nos faz participar na sua Páscoa, na sua paixão, morte e ressurreição. Sublinham também a instituição do sacerdócio, sem o qual não há Eucaristia, e ainda o nexo existente entre a celebração da Eucaristia e a caridade fraterna. É neste contexto que deve ser entendido o lava-pés, um gesto que manifesta a entrega de Jesus.
No final da celebração, faz-se a trasladação do Santíssimo para um lugar conveniente, fora da igreja.
Sexta-Feira Santa
A Sexta-Feira Santa da Paixão do Senhor é constituída por uma liturgia austera e sóbria, inteiramente centrada na Cruz e na morte de Cristo. Não se celebra a Eucaristia, mas sim uma ampla Liturgia da Palavra, que culmina com a Adoração da Cruz e termina com a Comunhão.
Dia de jejum pleno, é de intenso luto e dor, mas iluminado pela esperança cristã, no convite à contemplação do amor de Deus e do extremo a que esse mesmo amor levou Jesus Cristo. Essa é a perspetiva de S. João, o evangelista do dia, que vê na Cruz a revelação da glória do Filho de Deus.
Por isso também, a veneração da Cruz não é de adoração a um símbolo de morte, mas adoração a Cristo, vencedor da morte e que transformou a cruz em símbolo da vida.
Sábado Santo
O grande Sábado Santo é um dia de serena esperança e preparação orante para a ressurreição, sem celebração da Eucaristia ou de outros sacramentos. O Ofício Divino é a única celebração possível, rezado perante o altar desnudado, presidido pela Cruz e com um acento de meditação e repouso.
Domingo da Ressurreição
“A Vigília Pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou, é considerada como «mãe de todas as vigílias», na qual a Igreja espera em vigília a ressurreição de Cristo e celebra os sacramentos”, lê-se na Instrução Geral do Missal Romano (N.º 21).
De facto, esta é a noite mais importante de todo o Ano Litúrgico. Os símbolos são abundantes e de uma grande riqueza espiritual: o fogo e a luz, que evocam a ressurreição de Jesus e a marcha de Israel no deserto guiado pela coluna de fogo; a Palavra, com salmo e oração, percorrendo as etapas da história da salvação; a água batismal, pela qual se incorporam novos filhos na Igreja e com a qual todos são aspergidos, após a renovação das suas promessas batismais; por fim, o pão e o vinho eucarísticos, que se transformam no Corpo e Sangue do Senhor ressuscitado, oferecido em alimento aos seus fiéis.
Assim, a estrutura da celebração consta de quatro grandes momentos: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. E é fundamental que a Vigília decorra em crescendo, orientando-se toda a celebração para o ponto máximo, a Liturgia Eucarística, na qual explode a jubilosa alegria pascal.
A magnífica liturgia pascal põe em relevo uma nota escatológica que indica a meta para onde nos dirigimos seguindo Cristo e que São Paulo apresenta na Carta aos Coríntios: “Sempre que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos a tua morte, Senhor, até que venhas” (1 Cor 11, 26).
Sublinha-se que a Missa do dia de Páscoa é a segunda em importância, depois da Vigília Pascal, sendo a continuação dessa mesma celebração jubilosa.
O solene Tríduo Pascal termina com as Vésperas do Domingo de Páscoa, embora na maioria das comunidades já não haja qualquer celebração durante tarde, até porque muitos pastores andam já envolvidos com a visita pascal às famílias.
Da Pessach à Páscoa
Páscoa Judaica
Pessach, palavra hebraica que significa “passagem”, é o nome do sacrifício executado em 14 de Nissan (abril), segundo o calendário judaico, e que precede a Festa dos Pães Ázimos, onde o Povo de Israel celebra e recorda a sua libertação do Egito, conforme narrado no livro do Êxodo. Apesar do nome evocar vários simbolismos, esta Pessach não era a “passagem” dos hebreus pelo Mar Vermelho, mas sim a “passagem” do anjo da morte naquela noite, matando os primogénitos egípcios e poupando os dos judeus, que tinham assinalado os umbrais das suas portas com o sangue do cordeiro imolado em sacrifício a Deus.
Atualmente, a Pessach é uma festa central do Judaísmo e serve como uma conexão entre o povo judeu e a sua história. É sobretudo uma festa familiar, onde é narrado o Êxodo e se fazem outras leituras sagradas, bênçãos, histórias, parábolas e cânticos. Durante a refeição, come-se pão ázimo e ervas amargas e utiliza-se roupa de sair para lembrar a “saída à pressa da terra do Egito”.
Páscoa Cristã
A festa cristã da Páscoa tem origem nesta festa judaica, mas tem um significado diferente. Cristo é o verdadeiro sacrifício da nova Páscoa, o Cordeiro de Deus que foi imolado para salvação e libertação de todos do pecado e da morte. A sua Paixão ocorre exatamente no dia em que os judeus celebravam a sua Pessach, criando um paralelo entre a aliança antiga, no sangue do cordeiro imolado, e a nova aliança, no sangue do próprio Jesus. Esta não foi já a “passagem” do anjo da morte, mas a “passagem” redentora de Cristo, que com Ele n os leva da morte e do pecado à vida plena em Deus.
A data da Páscoa Cristã foi fixada no primeiro concílio de Niceia, no ano de 325, para o primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera (no hemisfério Norte), que ocorre entre os dias 22 de março e 25 de abril. Deixou, assim, de corresponder à data da Pessach (dia 14 de Nissan), que seria a data exata da morte de Cristo, o que não deixou de gerar alguma contestação, especialmente, das Igrejas orientais.