Originalmente denominada Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas, esta Sociedade de Vida Apostólica foi fundada em Portugal, em 1930, pelo Papa Pio XI, a pedido do Episcopado Português. É constituída por padres seculares e irmãos e dedica-se à missão “ad gentes”.
Serviço das dioceses à missão “ad gentes”
Entre 1855 e 1911, o Seminário das Missões de Cernache do Bonjardim, em colaboração com o governo português, dedicou-se à formação de padres seculares incardinados nas suas dioceses para os enviar pelo mundo a evangelizar territórios do padroado português.
Nos primeiros anos da República, os bispos portugueses e os missionários seculares lutaram pela reabertura da formação missionária e a criação de um instituto missionário. Nesse trabalho destacaram-se D. António Barroso, D. João Evangelista de Lima Vidal, D. Teotónio Vieira de Castro e a Comissão de Missões do Concílio Plenário Português.
Em resposta, em 1930, o Papa Pio XI fundou a Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas, que erigiu canonicamente em 1932, pela Carta Apostólica “Suavi Sane”, colocando-a sob a especial proteção de Nossa Senhora da Conceição e de S. Francisco Xavier. Para a formação dos novos missionários, as dioceses portuguesas cederam alguns dos seus padres, tanto jovens como outros já experientes na missão “ad gentes”, tendo alguns voltado às suas dioceses e outros permanecido como missionários por toda a vida.
Hoje chamada Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN), esta comunidade de padres e irmãos missionários tem como campos de missão Moçambique (desde 1937), Angola e Brasil (desde 1970), Zâmbia (desde 1980) e Japão (desde 1998).
Carisma diocesano e missionário
Desta génese resulta um carisma marcado pelo serviço à dimensão missionária das dioceses. A SMBN assume-se como “ponte entre Igrejas”, não só pela íntima ligação dos membros às suas dioceses de origem, mas também porque trabalham sob orientação e em profunda colaboração com o bispo da Igreja local da região missionária em que se encontram.
Os Círculos Missionários nos seminários diocesanos e as Semanas Missionárias foram, durante décadas, uma força essencial na animação missionária da Igreja em Portugal. Conscientes da diversidade de vocações missionárias, das necessidades dos povos e do enorme valor do intercâmbio de experiências entre as diversas Igrejas locais, os missionários da SMBN continuam hoje a encorajar sacerdotes diocesanos, leigos e religiosas a uma experiência temporária nos campos de missão, na qualidade de associados.
Tendo como lema “A Missão, Alegria para todos”, na fidelidade à sua inspiração inicial, a SMBN considera notas essenciais da sua identidade a plena dedicação à atividade missionária “ad gentes”, tendo como fim próprio “a evangelização e a fundação da Igreja nos povos ou grupos humanos em que ainda não está suficientemente radicada”, e a vida em comunidades apostólicas.
Em Leiria-Fátima
Em 1989, a pedido do Património Nacional, a comunidade que dirigia o Seminário das Missões desde 1921 teve de deixar o Convento de Cristo, em Tomar, onde estava instalada. Com o subsídio que recebeu do governo português, adquiriu uma casa no Alto da Fazarga, em Fátima, para onde se transferiu, com o mesmo nome e personalidade jurídica de Seminário de São Francisco Xavier. Durante alguns anos, aí estiveram os seminaristas do 12.º ano, em preparação próxima para o curso universitário.
A Sociedade Missionária teve outra casa em Fátima, proveniente do legado do bispo de Cabo Verde, D. Joaquim de Barros, que é presentemente propriedade do Escutismo.
O Seminário da Boa Nova é atualmente centro de animação missionária e de acolhimento de grupos. Com uma comunidade residente diminuta, os padres dedicam-se, sobretudo, à colaboração na pastoral local e às confissões no Santuário de Fátima.
Testemunho vocacional
Perdi a luta contra Deus
Nasci em 1954, na freguesia do Souto de Carpalhosa, na diocese de Leiria. Depois de me ter recusado a entrar no Seminário Menor, aos 11 anos de idade, tive um percurso particularmente diversificado: lecionei línguas e trabalhei como tradutor na Alemanha, dediquei-me às artes plásticas na Alemanha e em Portugal e parti para a Ásia, permanecendo durante um ano na Índia, no Nepal e no Tibete.
Depois desta “luta contra Deus” – como eu defino estas duas décadas de busca, desde que me recusara a entrar no Seminário –, “perdi a batalha” quando estava num mosteiro budista no Nepal: decidi que regressaria ao meu mundo cultural europeu e seguiria a vida sacerdotal.
No entanto, ainda não chegara o tempo certo, pelo que parti para a América Latina. Mais tarde, ao avaliar estas viagens pelos dois continentes, que tiveram a duração total de três anos, considerei-as de grande importância para o meu amadurecimento humano e espiritual, assim como para a minha vocação de padre missionário.
Entrei no Seminário de Valadares em 1991, fui ordenado sacerdote a 21 de Fevereiro de 1998, na Sé de Leiria, e parti para o Japão a 10 de Março de 1998, estendendo-se, assim, o campo de ação da SMBN àquele país e ao continente asiático em geral. Após dois anos de estudo da língua japonesa, iniciei oficialmente as minhas atividades pastorais no ano 2000.
De 2004 a 2008, estudei na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, terminei o doutoramento em Teologia e regressei ao Japão. Lecionei, durante alguns anos, na Universidade Católica de Osaka e desempenhei as funções inerentes ao trabalho pastoral em paróquias, a par de responsabilidades no campo do diálogo inter-religioso e da Comissão de Liturgia da Arquidiocese de Osaka.
Em Julho de 2014, realizou-se em Portugal a XII Assembleia Geral da SMBN, na qual eu participei como delegado do grupo do Japão, tendo sido eleito superior geral.
A vocação é um mistério, pelo que dificilmente se pode responder às perguntas relacionadas com razões pelas quais se terá escolhido o caminho da vida consagrada. No meu caso específico, sei que lutei, mas saí, felizmente, vencido: quando se realiza a “luta contra Deus”, é importante que saiamos derrotados. Considero que o “dedo de Deus” atua nas nossas vidas sem que disso nos apercebamos. Ocasionalmente, o véu entreabre-se, para que a nossa esperança vença os temores e as perplexidades. É nesses momentos que sentimos a maravilha da vocação.
P. Adelino Ascenso
Números
No Mundo
Casas: 18
Membros: 102
Em Portugal
Casas: 5
Membros: 51
Diocese
Casas: 1
Membros: 3 sacerdotes
Mais novo: 56
Mais velho: 85
Média etária: 75