Sínodo dos Bispos: síntese final da diocese de Leiria-Fátima

O texto da síntese diocesana será oficialmente apresentado na assembleia diocesana de início do próximo ano pastoral e estão previstas assembleias vicariais para concretizar e pôr em marcha este caminho de renovação eclesial.

APRESENTAÇÃO

A diocese de Leiria-Fátima apresenta a síntese final da Consulta ao Povo de Deus, efetuada no âmbito da fase diocesana do Sínodo dos Bispos “Por uma Igreja sinodal: comunhão participação e missão”.

DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO

Depois de constituída a equipa diocesana em julho de 2021, o mês de setembro foi dedicado a apresentar à diocese o documento preparatório e a metodologia entretanto definida para percorrer este caminho. Um dos pontos essenciais passou pela eleição dos delegados sinodais, em representação das paróquias, órgãos diocesanos, departamentos e movimentos eclesiais e outras realidades diocesanas. A 14 de outubro, o bispo diocesano publicou a Nota pastoral “Caminho sinodal, graça e imperativo para a Igreja”. A abertura oficial, realizada na Sé no dia 17 seguinte, constou de duas partes: uma sessão solene com intervenções do bispo diocesano, do responsável pelo processo sinodal e de um membro da equipa diocesana; celebração solene da Eucaristia, com participação especial dos delegados sinodais.

A recolha de informação fez-se através do documento orientador intitulado “Consulta ao Povo de Deus”. A partir do documento preparatório, nomeadamente dos 10 núcleos temáticos (nº 30), a equipa diocesana elaborou 5 propostas de encontros sinodais, com os seguintes títulos: 1. Companheiros de viagem; 2. Ouvir, tomar a palavra e dialogar; 3. Celebrar; 4. Corresponsáveis na missão; 5. Participar, discernir, decidir. Todos os encontros obedeciam ao mesmo esquema: 1. Oração oficial do Sínodo, 2. Texto de introdução ao tema, 3. Escuta da Palavra de Deus, 4. Questionário, 5. Momento de silêncio e escuta da voz interior, 6. Momento de partilha individual, 7. Momento de diálogo, 8. Síntese da partilha e propostas de futuro, 9. Breve oração conclusiva, 10. Convívio fraterno/chá. Foram impressos e distribuídos 3.500 exemplares do documento, além de estar sempre disponível em formato digital no site da diocese.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

As reuniões dos grupos sinodais decorreram entre janeiro e abril. Durante esse período, foram disponibilizados formulários online para que os delegados sinodais ou moderadores dos grupos submetessem as respetivas sínteses. O quadro abaixo apresenta a quantidade de contributos recebidos e o número de participantes.

Questionário 1Questionário 2Questionário 3Questionário 4Questionário 5
Respostas309253228199131
Participantes31602987230020991532

A partir da breve identificação dos grupos, pedida no momento da submissão das respostas, é possível concluir que: 1) mais de 90% das respostas foram dadas por pessoas com fortes ligações e envolvimento nas comunidades cristãs; 2) foram muito poucos os jovens que se reuniram para este efeito e submeteram as suas respostas; 3) terão participado nesta consulta ao Povo de Deus cerca de 3500 pessoas. Convém ainda acrescentar que não estão contabilizadas neste quadro as cerca de 1500 pessoas (crianças, adolescentes e respetivas famílias) que participaram num questionário específico lançado pelo Serviço da Catequese no contexto da campanha de advento.

Como forma de trabalho interno, a equipa sintetizou as largas centenas de páginas de respostas num documento de 20 páginas, a partir do qual preparou os materiais de reflexão para a assembleia diocesana. A síntese de conteúdos que se apresenta a seguir é resultado da reflexão quer dos grupos que fizeram o percurso sinodal quer da assembleia diocesana, e está dividida nas 5 propostas de reflexão já apresentadas.

  1. COMPANHEIROS DE VIAGEM

Este título agrupa o primeiro e o último núcleo temático do documento preparatório: “Na Igreja e na sociedade, estamos no mesmo caminho, lado a lado. A espiritualidade do caminhar juntos é chamada a tornar-se princípio educativo para a formação da pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades.” O objetivo principal desta primeira proposta era, pois, levar a refletir sobre aquilo que somos como Igreja, sobre os momentos mais marcantes deste caminho, sobre quem caminha e quem não caminha, sobre quem é deixado à margem e quem se autoexclui, sobre o que fazer para uma maior relação da Igreja diocesana com as dinâmicas sociais e culturais que a rodeiam.

O que dizemos?

Os planos pastorais que têm guiado a nossa diocese nos últimos anos têm sido uma expressão positiva deste caminhar juntos. Este «caminho em conjunto» está a acontecer hoje na nossa Igreja local e este processo sinodal, com a constituição de grupos de encontro é, em si mesmo, uma forma de o expressar, uma vez que proporciona o encontro, a partilha e a comunhão dentro da Igreja. De facto, há um caminho que já está a ser feito pela forma como os vários grupos e organismos nas paróquias e serviços se coordenam e interagem entre si e com os outros. No entanto, há quem refira que há dificuldades em caminhar juntos, uma vez que quem participa são sempre os mesmos. Por isso, em alguns casos, este caminho acaba por ser individual, marcado por grandes dificuldades na vivência da fé, especialmente nas famílias. Tal constatação não espelha o convite que o Espírito Santo nos faz para estarmos abertos aos outros e sermos agentes de mudança. Só assim conseguiremos renovar a Igreja e iremos mais longe neste caminho sinodal.

Um dos grupos mais afastado da Igreja é o dos jovens. A maioria dos que frequentaram a catequese, ao terminar o seu percurso, abandona a prática religiosa e são poucos os que, depois disso, se envolvem nos grupos, movimentos ou serviços paroquiais. Não sentem motivação e consideram que a religião não é uma dimensão importante para as suas vidas. Há também jovens que se desencantaram com a Igreja, não se reveem nela ou não se sentem acolhidos e aceites. As comunidades têm tido dificuldade em encontrar líderes que os cativem e os ajudem a manter a sua participação ativa na Igreja. Foi referida frequentemente a urgência de fazer algo de diferente, de criar novos “espaços” e procurar líderes que ajudem a recuperar aqueles que são o presente e o futuro da Igreja.

São muitas as pessoas que estão à margem das dinâmicas propostas e vividas pela Igreja. Há grupos que referem que não é a Igreja que as deixa à margem, mas sim elas que se colocam nessa posição. No entanto, há quem refira a situação oposta: é mesmo a Igreja que não cria condições, que se mostra indiferente a determinadas realidades humanas e não se abre para aceitar algumas realidades sociais. As paróquias e os serviços eclesiais não conseguem ser construtores de pontes e deixam à margem muitos dos que estão e se sentem afastados.

A cultura atual tem colocado a Igreja perante grandes desafios. De facto, o individualismo e o materialismo são duas das suas caraterísticas principais que conduzem a uma grande desvalorização do ser e, mais ainda, do ser em relação. Tal situação torna mais difícil ver no outro um irmão e estar atento a ele, repercute-se na vivência eclesial e leva a um afastamento cada vez maior da prática da fé cristã. É claro que a Igreja está atenta e vai fazendo também o seu percurso. São igualmente muitos os que permanecem atentos ao que vai acontecendo dentro e fora da Igreja e vão mantendo a mensagem de Jesus Cristo viva em muitos quadrantes da sociedade. Este caminho sinodal é um sinal disso mesmo.

O que propomos?

Neste primeiro tema, a principal e mais vezes repetida proposta pastoral tem o seu foco no acolhimento. É indispensável investir num contacto e convite mais pessoal e acompanhar de forma mais próxima as pessoas, mesmo entre os que já estão dentro da comunidade, criando novos espaços de diálogo, retiros e encontros formativos. Este acolhimento deve concretizar-se especialmente com aqueles que continuam nas periferias: os idosos, os viúvos, doentes, os divorciados e os homossexuais. É necessário ir ao encontro dos mais fragilizados que se encontram em situações particularmente difíceis, seja no campo sócio-económico, seja familiar (divorciados), seja de saúde. Não podemos manter uma pastoral de massas, anónima, com soluções idênticas para todos. Só com uma proximidade diária se pode ajudar cada um dos membros da comunidade a construir uma relação gratificante, verdadeiramente salvífica, com Deus e com os irmãos. Se os sacerdotes não podem, humanamente, chegar a todos, os leigos têm de se sentir responsabilizados para essa missão. Será, por isso, fundamental a criação de equipas de acolhimento nas comunidades.

É necessário propor atividades diferenciadas e dinâmicas que vão ao encontro dos interesses dos jovens, através do uso das plataformas digitais, de um maior contacto com a natureza e de dinâmicas de grupo que os envolvam. O escutismo é um exemplo positivo porque preconiza uma educação na fé pela ação e pelo testemunho. Precisamos de adequar a linguagem para conseguir comunicar melhor com os jovens. Um exemplo concreto onde isso deve acontecer é nas escolhas musicais para as celebrações com jovens. Todas estas propostas para os jovens precisam de ser particularmente bem preparadas, pois a qualidade é indispensável e o improviso conduz ao fracasso. Deverão ser propostas atuais e alinhadas com o mundo, ao mesmo tempo que mostram um Deus jovem, com uma mensagem de hoje, para os dias de hoje, na vida de cada um.

  1. OUVIR, TOMAR A PALAVRA E DIALOGAR

Neste tema agrupámos 4 núcleos temáticos do documento preparatório: Ouvir (II), Tomar a palavra (III), Dialogar na sociedade e na Igreja (VI), Dialogar com as outras confissões cristãs (VII). O objetivo principal era refletir sobre o método no qual assenta toda a dinâmica sinodal. A escuta é o primeiro passo, mas requer que a mente e o coração estejam abertos, sem preconceitos (II); todos estão convidados a falar com coragem e parrésia, ou seja, integrando liberdade, verdade e caridade (III); o diálogo é um caminho de perseverança, que inclui também silêncios e sofrimentos, mas é capaz de recolher a experiência das pessoas e dos povos (VI); o diálogo entre cristãos de diferentes confissões, unidos por um único Batismo, ocupa um lugar particular no caminho sinodal (VII).

O que dizemos?

A fé, a confiança e a lucidez são fruto de uma relação próxima com Deus e são o primeiro e mais essencial passo para conseguirmos falar com franqueza e responsabilidade sobre aquilo que é importante para nós. O respeito e o acolhimento fraterno são disposições de espírito que levam a um verdadeiro diálogo entre irmãos. Face ao pluralismo de ideias que caracteriza o nosso tempo, é necessário escutar e ajustar a linguagem para criar os contextos e ambientes de compreensão. A coerência, fruto de uma vida cristã comprometida, é um dos pressupostos mais importantes para falar e agir com coragem, franqueza e responsabilidade. Esta coerência precisa de estar particularmente visível no ser e agir das “hierarquias” da Igreja.

É difícil escutar, escutar verdadeiramente e com amor. Muitas vezes ouvimos, mas poucas escutamos em plenitude, pois somos influenciados e perturbados por causas exteriores a nós ou por limitações da nossa razão ou do nosso coração. O assunto (se me agrada ou não agrada), o interlocutor (se me é próximo, indiferente ou até distante ou antagónico) e o teor da mensagem (próximo ou distante das minhas convicções) são as primeiras e mais urgentes condicionantes da verdadeira escuta. Ao longo das respostas é reconhecida a necessidade de se ouvirem mais os leigos e de se promover o diálogo entre estes e os sacerdotes, não só pela necessidade causada pela redução de vocações eclesiais, mas também pela fraternidade que em Cristo os une. É reconhecida a necessidade de escutar mais as mulheres e os jovens, pois é essa a realidade do mundo em que vivemos. Reconhece-se ainda que, enquanto Igreja sempre em missão, somos enviados às periferias. Tendo já alcançado conquistas no âmbito da ação social, há ainda muito a fazer para incluir e acolher quem está à margem. 

Mais que cristãos praticantes, os cristãos são chamados a ser participantes, ativos e interventivos na sociedade de que fazem parte. A Igreja está presente onde estão presentes cristãos animados. Deu-se particular relevo às intervenções junto da pobreza, desde as Conferências de S. Vicente Paulo, a Cáritas e outras iniciativas de solidariedade. Há, contudo, contextos e realidades em que o Povo de Deus não se mistura com o mundo, ou seja, “separa-se o inseparável”: uma coisa é a Igreja e a fé, outra coisa é o mundo. Na generalidade, é evidente uma adesão ao apelo a partilhar e a caminhar juntos com toda a humanidade, porém sem se saber muito bem como o fazer.

Alertou-se ainda para o facto de a forma de comunicação e inculturação da Igreja ser, à data, muito anacrónica.

O propomos?

A boa formação da consciência favorece o exame individual e existem formas de o alcançar através de celebrações penitenciais, exercícios espirituais ou outros retiros para as diferentes idade e grupos. 

A catequese deve ser vista e vivida cada vez mais como um processo assumido pelas crianças e respetivas famílias, como um percurso contínuo de crescimento na fé e espiritualidade, e de progressiva integração na comunidade cristã. Não pode ser simplesmente um tempo de formação com princípio e fim, ou uma porta de acesso aos sacramentos. O primeiro e mais central espaço de comunhão e formação será sempre a família, Igreja doméstica. Contudo a Igreja precisa de considerar as novas realidades familiares cada vez mais numerosas e ter algo para lhes dizer.

A formação não pode estar limitada às idades mais novas, mas deve ser alargada a todo o povo de Deus. Nesse sentido, é sugerida a sua descentralização para o nível da vigararia e/ou da paróquia. Nesse sentido, torna-se também necessário uma maior aposta nas novas tecnologias como forma de comunicação, divulgação e formação, de forma a permitir que se chegue o mais longe possível e se abarquem o maior número possível de públicos. Esta formação pode passar, por exemplo, pela promoção de jornadas de reflexão com pessoas de áreas distintas – tipo Atrium dos Gentios -, para ouvir o que pensam sobre a Igreja. Precisamos todos de aprender a viver numa Igreja mais aberta.

É necessário convidar todos à participação, a estabelecer diálogo com os que estão mais afastados e a abrir a Igreja ao mundo, atualizando-a com novos conteúdos programáticos. Devem ser organizados momentos de encontro, partilha e convívio. Uma possibilidade é através da recuperação de celebrações e festividades que tenham sido positivas no passado. É importante voltar a valorizar a piedade popular, bem como atividades diversas, em conjugação as comunidades civis. Tudo isto contraria a solidão e valoriza a comunidade. A comunidade cristã deve ser mais proativa ao ponto de ir ao encontro das pessoas e caminhar com elas, aceitando-as como elas são. É necessário promover o “ministério da escuta”, sem preconceitos nem julgamentos. Qualquer local ou circunstância é propício para o diálogo, para ir ao encontro do outro, novo ou velho, mais próximo ou mais afastado. É necessário criar espaços de integração para os imigrantes e excluídos. 

Há que promover o diálogo e predispormo-nos ao diálogo com o mundo, ter presença nas várias estruturas da sociedade, como a política, a economia ou a comunicação social. A Igreja deve ser e ter voz no mundo, de forma dialogante, cooperante e aberta, estimulando parcerias, por exemplo, ao nível da valorização do património cultural.

Para que a Igreja seja pensada a partir da base, torna-se necessário estimular as dinâmicas vicariais e diocesanas, como o Conselho Pastoral Vicarial ou o Conselho Diocesano de Leigos. Apelou-se à necessidade de os párocos estarem disponíveis para um esquema de “porta aberta” para direção espiritual, em tempos de cartório ou para além dele. A eles é pedido acima de tudo disponibilidade para escutar, acompanhar e coordenar, e não impor, como por vezes acontece. 

No que diz respeito ao diálogo ecuménico com as outras confissões cristãs, é necessário começar por identificar as comunidades existentes para conhecer melhor aquilo que é específico de cada uma delas e o bem que encerram. O diálogo há de sempre acontecer num profundo respeito pelo outro, pela sua diferença e identidade própria. Desta forma, descobrem-se novas maneiras de “ler” o Evangelho.

  1. CELEBRAR

O terceiro tema dizia respeito à celebração da fé, como nos indicava o documento preparatório: Caminhar juntos” só é possível se nos basearmos na escuta comunitária da Palavra e na celebração da Eucaristia.

O que dizemos?

A celebração litúrgica orienta o nosso “caminhar juntos”, quando nela nos sentimos acolhidos convenientemente, quando entendemos (devidamente ajudados pelo presidente) os seus propósitos, quando nos cativa, nos transmite ensinamentos, quando assimilamos as mensagens que nela se pretendem incutir em nós, e as trazemos nos nossos corações, para as partilhar e dar testemunho na comunidade. 

Contudo, nem sempre isso acontece. Porquê? Os grupos referem o pouco envolvimento e intervenção da assembleia, a postura de pouca proximidade do celebrante, a pouca adequação das homilias, a fraca qualidade da animação litúrgica nos seus diferentes momentos, etc. Indiscutivelmente, a celebração da Eucaristia é o motor da comunidade, mas há muita falta de sentido de comunidade nas nossas celebrações. A Eucaristia é muitas vezes vivida de forma muito individual e pouco participada. Entra-se na igreja cabisbaixo e sai-se da igreja da mesma forma. Muitas celebrações não mexem com o interior. Continua a existir muita dificuldade em perceber e viver a celebração, que não vai muito além de uma mera rotina de gestos que se repetem sem saber porquê. A falta de conhecimento daquilo que se celebra leva ao desânimo e, em última instância, ao descrédito e afastamento. Há necessidade de formação e de tornar as celebrações vivas.

O propomos?

Em primeiro lugar, toda a assembleia deve participar de forma ativa nas celebrações, não apenas o padre. É importante o envolvimento dos participantes em diferentes tarefas e momentos celebrativos. Por isso, é necessário um maior investimento na formação dos elementos da comunidade (incluindo os jovens) para a compreensão da eucaristia, particularmente dos animadores litúrgicos. A qualidade das celebrações é fundamental, têm de ser bem preparadas, em respeito a Deus e à assembleia. Não podem ser improvisadas. 

Relativamente às homilias, os grupos refletiram que é importante assegurar a sua qualidade. Estas devem ter uma dimensão prática e conectada com a realidade concreta da vida das pessoas. Precisamos de homilias cativantes, com interação com a assembleia, de modo a captar as crianças e os adultos. O presidente precisa de olhar para a assembleia, de cativar com o olhar e utilizar uma linguagem entendível. 

É necessário investir no acolhimento e integração daqueles que participam nas celebrações eucarísticas. Para isso, é necessário criar equipas especializadas e formadas para o efeito. Aquilo que se fez em tantas celebrações durante o tempo de mais fortes restrições por causa da pandemia, não devia deixar de se fazer. 

É importante que o presidente saúde os fiéis no fim das celebrações, como acontece esporadicamente em alguns locais. Mas, haverá tempo para isso? Estamos disponíveis para diminuir o número de Eucaristias e, dessa forma, criar condições para aumentar a sua qualidade? 

  1. CORRESPONSÁVEIS NA MSSÃO

Era este o título do 5º núcleo temático do documento preparatório. A sinodalidade está ao serviço da missão da Igreja, na qual todos os seus membros são chamados a participar. 

O que dizemos?

Tomámos consciência de que há, ainda, um longo caminho a percorrer. Detetámos a passividade da maior parte dos cristãos e a vivência de um cristianismo de tradição e à espera de que a missão de evangelizar seja assumida pelos párocos, pelos catequistas e pelos grupos de leigos mais comprometidos. Verificámos mesmo que até as famílias esperam que sejam os catequistas e as organizações juvenis, como o escutismo, a fazer a evangelização dos mais novos. Também verificámos que não nos sentimos preparados para assumir em pleno a nossa vocação comum de sermos sinal vivo da Boa Nova no mundo em rápida mudança em que nos encontramos. Por isso, muitos de nós verificámos que a nossa formação é insuficiente e que necessitamos de um conhecimento mais aprofundado das razões de viver fundamentadas em Jesus Cristo. 

Dessas dificuldades, resulta o desconhecimento, a desmotivação e a falta de apoio ao desenvolvimento das vocações de serviço ao Povo de Deus, detetando-se, aqui e ali, reações negativas em relação às pessoas que aceitam comprometer-se na vida das paróquias e comunidades: não só não se estimula o crescimento do número de vocações – de todas as vocações – como também se fazem juízos depreciativos sobre as pessoas, jovens e adultas, que querem comprometer-se com o serviço do Povo de Deus. 

Ainda assim, a dimensão social do apoio aos mais desfavorecidos não fica esquecida, o que indicia que os cristãos da nossa diocese continuam a viver o espírito do Bom Samaritano e que não deixam “na valeta” os irmãos mais fragilizados e em sofrimento. Há mesmo comunidades onde a visita regular e o apoio aos mais frágeis está devidamente organizada. Noutras, há ainda um longo caminho a percorrer para se garantir que “ninguém fica para trás”. Foi ainda visível que os cristãos da nossa diocese são acolhedores e hospitaleiros, abertos a receber quem vem viver para as nossas comunidades, sejam migrantes internos sejam estrangeiros que nos procuram à procura de melhores condições de vida ou em fuga da guerra ou de outras desgraças. 

O que propomos?

Precisamos de mais formação, mais descentralizada e acessível a todos, através da aposta nos meios digitais. Os grupos de Lectio Divina, catequese de adultos e escola de leigos são outros meios para o alcançar. 

Precisamos de promover as vocações sacerdotais com mais intensidade nas comunidades cristãs, nos grupos da catequese, nas aulas de EMRC, através do contacto com a realidade do Seminário.

Os leigos precisam de estar disponíveis para se envolverem, em tarefas específicas da comunidade, em qualquer uma das suas dimensões celebrativa, evangelizadora e caritativa. Neste contexto, é importante alterar mentalidades no sentido de construir uma consciência coletiva de que nem tudo tem de ser feito pelo padre e é importante que este delegue responsabilidades, proporcionando apoio, enquadramento e formação. Acolher e acompanhar é o primeiro passo, para percebermos o que cada um traz para colocar na mesa do serviço e potenciar esses dons. Só assim podemos passar ao passo seguinte, evangelizar. 

Precisamos de promover o reconhecimento comunitário do ministério dos catequistas, dos leitores, dos acólitos, animadores de comunidade, entre outros.

Deve haver uma aposta nos diáconos permanentes – inclusive o diaconado feminino -, pois esta vocação enriquece a Igreja. Não só porque não temos padres, não só porque podem ser homens casados, mas porque a Igreja é mais pobre sem eles.

Precisamos igualmente de dar passos para celebrações dominicais na ausência do presbítero, dada a sobrecarga de trabalho dos sacerdotes. Como referiu um grupo: “ao vermos a idade média dos padres a crescer e a mostrar o quanto está envelhecida, ao constarmos o número de novos seminaristas reduzir, sabemos que a continuidade das celebrações Eucarísticas nos próximos anos está em risco.”

Historicamente, as mulheres têm sido o pilar do quotidiano da vida comunitária, mesmo sem o devido reconhecimento. No entanto, é necessário dar-lhes maior protagonismo em organismos paroquiais, tais como as comissões e conselhos pastorais, de modo que a comunidade colha os benefícios da complementaridade de todos os seus membros. À hierarquia compete criar condições para a assunção dessas responsabilidades. Poderá ter de ser efetuado um caminho sinodal para potenciar uma maior participação das mulheres em todos os aspetos da vida da Igreja, inclusive refletindo a possibilidade de abertura do sacerdócio às mulheres.

  1. PARTICIPAR, DISCERNIR, DECIDIR

Este tema agrupava os temas VIII “AUTORIDADE E PARTICIPAÇÃO” e IX “DISCERNIR E DECIDIR” do documento preparatório. Uma Igreja sinodal é uma Igreja participativa e corresponsável. Num estilo sinodal, decide-se por discernimento, com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito.

O que dizemos?

Apesar de a autoridade na Igreja ser vista como uma missão confiada por Cristo e exercida muitas vezes com responsabilidade e em atitude de serviço, a larga maioria das respostas sobre esta questão assenta no pressuposto claro de que ela é da responsabilidade daqueles que receberam o sacramento da Ordem (Papa, bispos, sacerdotes), é frequentemente exercida como autoritarismo individualista e assente numa visão piramidal da Igreja. Um dos âmbitos onde a autoridade se torna mais visível é na questão doutrinal relativa a assuntos como o cumprimento dos preceitos, as questões da família, dos recasados, dos divorciados poderem ou não dar catequese.

No que diz respeito ao Conselho Pastoral, metade das respostas afirma que “nunca ouviu falar”, “não conhece”, “não sabe se existe”, “não sabe como funciona”, “não sabe para que serve”. Algumas respostas afirmam que se trata de uma experiência muito frágil, formada por um grupo demasiado fechado, sem renovação dos seus membros e com pouca relação com a comunidade. Há paróquias onde o Conselho Pastoral não funciona porque o pároco monopoliza a reflexão, impõe-se de forma autoritária e já leva as decisões tomadas. Outras respostas sublinham que é uma experiência fecunda de corresponsabilidade através da partilha de experiências vividas, onde é possível promover a participação de todos na tomada de decisões sobre a vida da comunidade.

A larga maioria das respostas coincide neste pensamento: não existe uma cultura nem uma prática de avaliação na Igreja, tal como não existe uma efetiva prestação de contas das responsabilidades assumidas. Quando há incumprimento não existe responsabilização. A prestação de contas é referenciada exclusivamente como uma prática do conselho económico e entendida do ponto de vista contabilístico-financeiro: “as contas são publicadas e afixadas periodicamente”.

O que propomos?

É muito importante que as comunidades possam ser mais ouvidas e envolvidas na tomada de decisões, para que as mesmas sintam que a sua participação é essencial. Existe ainda muita divergência no que respeita à relação dos párocos com os membros dos Conselhos Económicos.

O sermos Igreja sinodal vai obrigar-nos a refletir seriamente sobre o lugar e a missão do ministério ordenado, dos padres, no seio das comunidades cristãs. O facto de as responsabilidades burocráticas estarem sob a inteira responsabilidade dos párocos impede-os de se dedicarem ao que é mais específico do seu ministério. Estarão disponíveis para as deixar? Haverá quem esteja disponível para as assumir? 

Esta nova imagem de padre precisa de ser construída logo a partir do seu percurso formativo nos Seminários e, depois, ser continuada na formação permanente ao longo dos anos.

De facto, ao nível paroquial, os párocos são determinantes na distribuição das tarefas e responsabilidades e, por inerência, na gestão da autoridade. Todos os fiéis são habilitados e chamados, mas é necessário criar condições para que cada um se possa questionar sobre o seu papel, criar condições para que os fiéis digam sim. Os sacerdotes precisam assumir-se como pastores entre o rebanho. 

Para ultrapassar as fragilidades identificadas na implementação dos Conselhos Pastorais, é necessário começar por deixar o Espírito Santo falar. Depois, é preciso dinamizá-los verdadeiramente, convidar pessoas de ‘fora da caixa’, renová-los com maior frequência, promover o seu funcionamento dando a conhecer com antecedência os assuntos a debater/refletir (convocatória), tratá-los previamente nos grupos a que dizem respeito e, no final, enviar a todos as conclusões. A própria diocese tem que sensibilizar os párocos, motivá-los e dar-lhes formação. Propõe-se a criação de uma comissão diocesana para se deslocar às paróquias e apresentar as vantagens da existência do Conselho Pastoral Paroquial, de modo a criar um espírito favorável para a sua criação e correta manutenção.

Uma avaliação séria das atividades é consequência de um plano pastoral que não se limite a ser um calendário de atividades, mas compreenda metas, objetivos, recursos, etc. É necessário promover a realização de momentos de avaliação em cada setor da vida pastoral, que depois a levará ao Conselho Pastoral. Só crescemos e melhoramos se refletirmos, avaliarmos e reconhecermos o que correu bem ou mal.

A nossa diocese precisa de um vigário para a pastoral, que coordene, congregue e mobilize padres e leigos para os diferentes serviços da área pastoral nesta parcela da Igreja local.

CONCLUSÃO 

A diocese de Leiria-Fátima viveu esta fase do percurso sinodal proposto pelo Papa Francisco à Igreja universal com alegria, empenho e abertura ao Espírito Santo. Foi uma experiência de Igreja muito rica, tanto na sua forma como nos seus conteúdos, como ficou bem claro nos resultados da avaliação que a equipa diocesana propôs a toda a diocese. 

A nível diocesano, está já definido que este caminho vai continuar, quer acompanhando de perto as fases seguintes do caminho sinodal, quer procurando levar desde já à prática as propostas feitas pelos grupos. Por isso, o texto da síntese diocesana será oficialmente apresentado na assembleia diocesana de início do próximo ano pastoral e estão previstas assembleias vicariais para concretizar e pôr em marcha este caminho de renovação eclesial.

Síntese Final
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Retiro especial de Natal
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Partilha da Luz da Paz de Belém
16 de Dezembro
Compreender o Documento Final do Sínodo
17 de Dezembro
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