Fundada em 1923, por Luiza Andaluz, esta congregação surgiu em resposta ao ambiente hostil que vivia a Igreja pós-República. A mensagem trazida por Nossa Senhora de Fátima foi a base em que assentou o edifício da “reconquista cristã” sonhada pela fundadora, concretizada no serviço ao Santuário da Cova da Iria.
Carisma sacerdotal e mariano no Santuário
Luiza Maria Langstroth Figueira de Sousa Vadre Santa Martha Mesquita e Melo nasceu em 1877, em Santarém, filha dos terceiros viscondes de Andaluz, de quem herdou a firmeza da fé, a bondade do coração e um carácter perspicaz e empreendedor, animado pelo Espírito. Recebe a primeira missão do seu bispo aos 14 anos, decide-se pela vida religiosa aos 38, procurando a clausura do Carmelo, mas é sempre enviada ao apostolado ativo.
O desejo de fundar uma congregação surgiu como resposta ao ambiente de ódio e perseguição à Igreja que grassava desde a implantação da República de 1910. Luiza Andaluz, nome por que ficaria conhecida, queria colocar-se nas mãos de Deus para ser uma resposta apostólica aos novos tempos e desafios. Começou por lançar, com algumas amigas, a “Obra Apostólica de Santarém”, que se assumia como “obra de reconquista cristã”.
Sempre em colaboração com a hierarquia, a sua ação espalhou-se a todo o País. Quando acontecem as Aparições na Cova da Iria, logo se dispôs a acompanhar de perto os acontecimentos e conhecer a verdade dos factos. Foi assim que, a 13 de maio de 1923, Luiza e doze companheiras vão a Fátima colocar sob a protecção de Maria o segredo que levavam no coração, a nova comunidade religiosa que iriam iniciar nesse ano.
A Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima seria ereta canonicamente em 1939 e reconhecida pela Santa Sé como Instituto de Direito Pontifício em 1981. Está atualmente presente em Portugal, Moçambique, Bélgica, Luxemburgo, Angola, Brasil e Guiné-Bissau.
Carisma
Do amor ao Carmelo, a fundadora recolhe de Santa Teresa de Jesus o desejo da contemplação íntima de Deus; da sua grande devoção a São Francisco Xavier, a mística do apostolado. As Servas de Nossa Senhora de Fátima nascem, assim, dessa síntese de contemplação e ação apostólica.
A vivência do seu lema – “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a vossa Palavra” – concretiza-se na participação no mistério sacerdotal de Cristo, tomando Maria como modelo. Do sacramento do Batismo emerge o carisma sacerdotal da Congregação, que se exprime na comunhão com a hierarquia e com a Igreja em geral, a dimensão litúrgica e o amor e serviço às pessoas mais distantes do Evangelho. Na espiritualidade Mariana, privilegia a dimensão de Maria como discípula de Cristo Sacerdote.
Na diocese
A primeira comunidade formou-se temporariamente na Casa Andaluz, em Santarém, mas a Cova da Iria seria o destino natural de quem nasceu aos pés de Nossa Senhora de Fátima. Seis irmãs dedicadas à vida contemplativa e ao apoio à liturgia passaram ainda dois anos por uma casa na paróquia de Fátima, mas em 1933 a congregação instala-se definitivamente na Casa Abrigo de Nossa Senhora de Fátima, a pedido do bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva. Ali alojavam peregrinos, faziam as hóstias, arranjavam os altares, tratavam das roupas, alfaias litúrgicas e todo o trabalho relativo ao culto no Santuário. Nesse ano, Luiza Andaluz entrou para Servita, colaborando na consolidação deste grupo de voluntariado naquele recinto.
Mais tarde, as servas assumiriam o cuidado da Capelinha das Aparições (1949), acolheriam em sua casa o Seminário Menor de Leiria (1951), entre outros serviços e edifícios do Santuário, como a Casa Nova dos Retiros, hoje de Nossa Senhora do Carmo (1953), o antigo hospital e casa de retiros, hoje de Nossa Senhora das Dores, e o serviço de informações (1954). Em 1957, a Comunidade assume também os serviços internos do Seminário de Leiria, onde se manteria até final do século XX.
Atualmente, uma comunidade continua a residir e a exercer a sua missão nas casas de retiros do Santuário, enquanto outra se estabeleceu na sua sede, a Casa Luiza Andaluz, também em Fátima.
No Santuário, as irmãs coordenam os trabalhos internos nas casas de Nossa Senhora das Dores e de Nossa Senhora do Carmo e trabalham em áreas como a tradução no serviço de comunicação, o Secretariado Nacional da Mensagem de Fátima, o apoio à liturgia, às leituras e distribuição da Comunhão, a exposição temporária de preparação do Centenário das Aparições, entre outras.
A Casa Andaluz serve, ainda, para acolher grupos de irmãs em retiros, cursos e férias, jovens em discernimento vocacional e grupos da “Família Andaluz”, movimento de leigos que partilha o mesmo carisma e nele procura aprofundar a sua vocação apostólica batismal.
Testemunho vocacional
Eu queria casar!
Nasci há 37 anos e vivi a minha infância em Macau com os meus quatro irmãos e os nossos pais, fiéis fervorosos que procuraram dar-nos uma educação cristã esmerada.
A hipótese de o Senhor me estar a chamar para a vida religiosa surgiu aos onze anos, quando frequentava o 5.º ano nos Salesianos, onde todos os dias tínhamos uns 20 minutos de oração. Certo dia, um dos sacerdotes falou-nos da importância das vocações específicas na Igreja e pediu-nos que fizéssemos uns minutos de silêncio orante. Lembro-me perfeitamente da minha imediata reação: ajoelhei-me e pedi a Nosso Senhor “que os outros fossem para padres e freiras”. Depois abri os olhos e vi todos aqueles adolescentes a rezar. Então pensei: “se toda a gente rezar o que eu rezei, às tantas, vou eu para freira”. E a impressão que senti naquele momento foi tão forte que perdurou toda a adolescência.
Aos 18 anos, entrei na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. A adaptação a um outro país foi para mim muito difícil, por isso, passei a rezar mais, à procura de equilíbrio interior. Voltei a sentir com imensa força que o Senhor me poderia estar a chamar. Mas esse chamamento incomodava-me deveras, pois eu queria casar! Acabei por falar das minhas inquietações com um sacerdote da minha paróquia e foi ele quem me indicou a Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, tendo desde então iniciado um caminho de discernimento vocacional.
As resistências à possibilidade de vocação religiosa foram imensas, especialmente porque tinha a ideia fixa de que apenas o matrimónio era a opção que oferecia a felicidade. Penso que fui capaz de dar o salto após ter feito um mês de missão no Brasil, numa favela, onde fiz uma experiência de grande alegria na doação total aos outros. Por outro lado, ficou-me claro que no mais profundo de mim ansiava por Deus e que era aquele o caminho de santidade que Ele me apontava. Foi, pois, na alegria da fé que acabei por dizer “sim” ao Senhor.
Fiz os primeiros votos em 2003. Já passei por várias comunidades em Portugal e estive em Moçambique. Presentemente, sou professora de EMRC e faço parte da equipa de pastoral vocacional da minha congregação. Agradeço muito a Deus o dom do chamamento e tomo a peito o que a nossa fundadora nos dizia: “A exemplo da candeia que te serve de emblema, não te poupes a esforços para seres, na verdade, luz e chama ardente ao serviço do Senhor”.
Irmã Eugénia Figueiredo
Números
No mundo
Comunidades: 30 em 7 países
Membros no mundo: 180
Em Portugal
Comunidades: 18
Membros: 142
Na Diocese
Comunidades: 2
Membros: 13
Mais nova: 63 anos
Mais velha: 86 anos
Média etária: 76 anos