[Nota da redação: e texto é o resultado dos trabalhos dos grupos que se dedicaram ao tema “Ser Igreja sinodal”, realizados na Assembleia Diocesana de Leiria-Fátima.]
A 10 de outubro de 2021, o Papa Francisco convidou toda a Igreja para o Sínodo. As Igrejas locais de todo o mundo foram motivadas a convidarem todos os Filhos de Deus (os batizados e os não batizados) a sentarem-se e, sob a inspiração do Espírito Santo, escutarem-se e refletirem no caminho que a Igreja precisa de fazer, tendo por base a Comunhão, Participação e a Missão. Entre outubro de 2023 e o ano de 2024, os Bispos estarão em Assembleia Geral Ordinária do Sínodo para, interpelados pelo Espírito Santo, refletirem sobre as conclusões das assembleias continentais.
Na sua viagem de regresso à Mongólia, alertou para o facto de que “no Sínodo não há lugar para ideologia (…), há espaço para o diálogo, para confrontar uns aos outros, entre irmãos e irmãs, e confrontar a doutrina da Igreja”
No passado sábado, dia 23 de outubro, o nosso Bispo D. José Ornelas convidou a diocese de Leiria-Fátima para nos reunirmos em Assembleia e discernir sobre o futuro da nossa Igreja Diocesana sob o tema que nos vai acompanhar ao longo deste triénio pastoral “Pelo Batismo somos Igreja viva”.
Com Jesus ao leme, inspirados pelo Espírito Santo e em ambiente jovial e alegre, em pequenos grupos, foram discutidos um conjunto de temas que reforçam a nossa missão evangelizadora e orientam para o futuro, reforçando uma das conclusões gerais do documento que vai ser trabalhado pelos Bispos em Roma: “a nossa identidade e vocação é tornarmo-nos uma igreja cada vez mais sinodal”.
Um dos temas discutidos na nossa assembleia, “Ser Igreja em Sínodo”, foi muito bem apresentado, de uma forma sucinta e bem disposta pelo padre José Augusto que desafiou os quatro grupos que participaram a refletirem sobre como é que, após este caminho sinodal, podemos transformar a nossa Igreja local? Qual o nosso papel e responsabilidade enquanto pessoas batizadas, enquanto cristãos? Qual o caminho a fazer nas nossas comunidades para voltar às origens da Igreja (“vede como eles se amam”)?
Concluiu-se que há um grande desafio inicial, fundamental: é necessário acolher.
Movidos pela alegria de acreditar em Jesus Ressuscitado, temos de nos desinstalar, de nos superar e, tal como Maria, temos de nos levantar e sair apressadamente para ir ao encontro do outro, abrir as portas das nossas igrejas para deixar entrar e sair em missão, envolver os que não são batizados, mas também aqueles que o são e que se desencantaram com a Igreja. “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15): este continua hoje a ser o desafio. Precisamos de dar um testemunho, verdadeiro, alegre, apelativo daquilo que somos e vivemos em Cristo, provocando nos outros o desejo e a necessidade de querer fazer parte da comunidade.
Temos de ser corajosos como Filipe quando encontrou Natanael, e fazer o convite “Vem e verás” (Jo 1, 45). Mas para que isto aconteça precisamos de, como Jesus, estar atentos, vigilantes, disponíveis na cabeça e no coração para olhar e escutar todos aqueles que cruzam os nossos caminhos. E acolher sem julgar. Precisamos de saber colocar-nos no lugar do outro: perceber as suas necessidades. E depois criar laços. E fazer uma pesca à linha. Bater à porta (e fazê-lo mesmo) e de forma humilde e simples convidar para um chá, um café, um jantar. Todos temos uma opinião, competências, capacidades e dons diferentes. Mas temos de ter a audácia, a coragem e a capacidade de na diferença fazer caminho juntos, respeitando-nos mutuamente. Este ato de liberdade não só fortalece laços como nos aproxima do sonho de Deus para cada um de nós.
Alguém uma vez disse algo deste género: a Igreja tem o melhor produto do mundo, o mais apelativo de todos: a salvação. Mas parece que nos falta o marketing.
Por isso as nossas comunidades têm de pensar em propostas simples, que permitam o encontro entre as pessoas, mas propostas que “saiam fora de caixa”, que surpreendam. É preciso descomplicar e desformalizar.
Eis algumas sugestões concretas:
· Promover a criação de espaços físicos de acolhimento que permitam o desenvolvimento de relações de amizade. Espaços diferentes, não institucionais para pessoas com caminhada em Igreja diferentes ou mesmo sem caminhada;
· Reforçar estruturas e espaços já privilegiados e que já existam para se poder fomentar o diálogo e a partilha. Foi sugerido o Alpha, que já está a funcionar a grande vapor nalgumas paróquias e a dar os primeiros passos noutras;
· Repensar as formas de comunicação paroquiais e diocesanas, quer internamente, quer para o exterior, a todos os níveis;
· Fazer mudanças na catequese, quer da infância, quer da adolescência (e o novo projeto de catequese proposto pelo Secretariado da Catequese já caminha neste sentido) e ter especial atenção à forma como abordamos e envolvemos as famílias.
Muito mais havia a partilhar, mas o tempo acabou por ser pouco e parece que correu muito rápido. É sempre assim quando nos sentimos verdadeiramente envolvidos.
O caminho não vai ser fácil. Temos de trabalhar muito para transformar mentalidades, sem que ninguém se sinta indesejado ou desnecessário. Mas temos que perceber que, como alguém muito bem dizia, os outros também têm sede de Deus. Ninguém se pode sentir excluído e todos temos de nos sentir comprometidos. Depois é deixar o Espírito agir em nós e a sermos audazes como Jesus.
Na noite de 5 de agosto, durante a Vigília da JMJ Lisboa 2023, que vai ficar na memória de todos, o nosso querido Papa Francisco relembrou que “na vida nada é gratuito, tudo se paga. Só há uma coisa gratuita: o amor de Jesus”. Esse Jesus que, a seguir, foi exposto para adoração e perante o qual todos ficámos rendidos e completamente arrebatados perante o silêncio de um milhão e meio de pessoas, a maioria jovens.
Inesquecíveis serão também todos os olhares e sorrisos cúmplices que foram trocados naqueles dias. O encontro e os amizades improváveis geradas entre pessoas de tantos povos e culturas diferentes, mas guiados pelo mesmo amor de Deus. O desafio, para ser verdadeiramente Igreja Sinodal é não deixar ninguém de fora e ir ao encontro de TODOS.