Quaresma: uma pedagogia espiritual para o essencial da vida

O essencial da nossa vida, mesmo física, não se vê.  Está dentro de nós, no nosso íntimo, no coração, na mente, na alma. De dentro de nós brota a força e a energia que nos faz viver. Ali nasce a coragem e o entusiasmo que fazem agir e construir, mas também o medo que nos ameaça e paralisa. No nosso íntimo, irrompe o amor que gera relação e comunhão de vida, mas também o ódio e a vingança que envenena e destrói laços, relações e vidas. Dentro de nós germina o bem e a virtude, mas também o mal, o vício, a violência e o pecado. Dali sai o talento para criar e edificar, mas também o poder que derruba, esmaga e destrói.

A Quaresma é um tempo de graça em que a Igreja, com uma pedagogia espiritual apropriada, nos convida a entrar dentro de nós e a discernir com clareza as raízes de bem e de mal que existem no nosso íntimo, a reforçar o que está bem e a emendar o que está mal. Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos, escreveu Antoine de Saint-Exupéry. A proposta quaresmal tem por objetivo cuidar do essencial da nossa vida: o coração e a alma, expressões da nossa dimensão espiritual.

A pedagogia quaresmal convida-nos, antes de mais, a escutar Deus, mediante a sua Palavra, o silêncio, a oração e o discernimento da sua voz, que nos declara amor e nos convida a viver a relação filial com Ele. Através do seu Espírito e de Jesus, ajuda-nos a tomar consciência da nossa vida e das nossas falhas e indica-nos o caminho de correção e de crescimento espiritual. A liturgia comunitária é igualmente uma ajuda para avivar a consciência da nossa dignidade e a aprofundar a comunhão com Deus e com os irmãos.

O segundo polo da pedagogia quaresmal é o próximo. Somos convidados a abrir os olhos, os ouvidos e o coração àqueles que nos rodeiam ou que encontramos no dia a dia.  Para quê? Para reconhecermos a mesma dignidade que nós e os tratarmos tão bem como desejamos para nós, reconhecermos as suas necessidades e os ajudarmos. Vão neste sentido as obras de justiça e de caridade que devemos praticar. Não se trata apenas de dar bens materiais, mas de nos interessarmos e de cuidarmos dos outros. Este tempo é também para melhorarmos a relação com os outros e o cuidado, especialmente às vítimas de maus tratos e injustiças, da pobreza, de sofrimento ou de solidão. Desta forma se melhora a vida em família e em sociedade.

Um outro elemento é a autodisciplina, que se exprime no jejum e na abstinência. Não se trata somente de moderação no consumo de alimentos, mas também na eliminação de juízos, comportamentos errados ou inadequados, palavras ofensivas, excessos ou dependências. É por isso uma proposta de correção de hábitos e comportamentos, em ordem a melhorar-se a si próprio e à relação com os outros.

A Quaresma, mais do que um conjunto de boas intenções, é um caminho espiritual prático, um exercício pessoal, familiar e comunitário que conduz ao essencial da vida. Leva a melhorar-se a si próprio, ao maior respeito e relação com os outros e a revitalizar a consciência da presença de Deus e do dom que é para quem nele crê, a Ele se entrega e se deixa conduzir pela sua Palavra e pelo seu Espírito. Também a criação é envolvida nesta pedagogia, como sublinha o Papa Francisco na sua mensagem: “Se o homem vive como filho de Deus, se vive como pessoa redimida, que se deixa guiar pelo Espírito Santo (cf. Rm 8, 14), e sabe reconhecer e praticar a lei de Deus, a começar pela lei gravada no seu coração e na natureza, beneficia também a criação, cooperando para a sua redenção.”

A pedagogia da quaresma visa também combater e corrigir o pecado, que é virar as costas a Deus e aos próprios semelhantes, desrespeitar-se a si mesmo à criação, como lembra o Papa Francisco: “Quando se abandona a lei de Deus, a lei do amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco. O pecado – que habita no coração do homem (cf. Mc 7, 20-23), manifestando-se como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo bem dos outros e muitas vezes também do próprio – leva à exploração da criação (pessoas e meio ambiente), movidos por aquela ganância insaciável que considera todo o desejo um direito e que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem está dominado por ela.”

Aproveitemos então a pedagogia espiritual da Quaresma para, como diz na sua mensagem o bispo de Leiria-Fátima, “renovar a nossa fisionomia e o nosso coração de cristãos”. Então este caminho leva a que nos tornemos melhores e a contribuirmos para que também a Igreja e o Mundo se aperfeiçoem e correspondam ao projeto de Deus sobre a humanidade, a história e a criação. \\

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