Projeto musical inédito estreia a 3 de abril no Santuário de Fátima

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A Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima recebe, no próximo domingo, dia 3 de abril, a partir das 15h30, o projeto artístico “Tropário para uma pastora de ovelhas mansas”, uma iniciativa integrada nas comemorações do Centenário das Aparições, que reúne o trabalho de seis compositores contemporâneos desafiados a pensar Fátima do ponto de vista musical.

O projeto inicia o Ciclo Musical Ouvir Fátima e propõe uma leitura musical das memórias da Irmã Lúcia, juntando um coro – Officium Ensemble – e dois instrumentos: acordeão – Octávio Martins – e piano – João Lucena e Vale -, sob a direção artística do maestro Pedro Teixeira. E foi pensado numa relação específica com o próprio espaço da basílica onde será apresentado.

Este é um projecto compósito que nasce do desafio de construir uma obra musical a partir das memórias da Irmã Lúcia, em que cada compositor é desafiado a fazer uma leitura independente destas memórias, mas integrada numa narrativa concreta que dá uma dimensão coletiva à produção, sob a orientação de Alfredo Teixeira.

Este projeto musical, único, que faz uma leitura musical da Mensagem de Fátima, para além das leituras teológicas habituais, tem no coro o protagonista fundamental, acrescentando-lhe o acordeão e o piano, dois instrumentos improváveis que lhe dão uma dimensão “sui generis”, mas que assume uma pluralidade dos mundos sociais e culturais que atravessam a história de Fátima, ao longo destes cem anos.

A partir de um argumento próprio, centrado em dois textos fundamentais – as “Memórias da Irmã Lúcia” e “Como vejo a Mensagem através dos tempos e dos acontecimentos” – privilegia uma dimensão mais mística, que nos transporta para o mistério de Deus. Os textos escolhidos remetem para aspetos centrais da Mensagem de Fátima, mas também para as figuras desta narrativa.

O Tropário começa com uma declaração da própria Irmã Lúcia sobre o que é escrever uma memória, segue-se a aparição do Anjo, os pastorinhos, a Senhora e, depois, o adeus, a partir da despedida da Irmã Lúcia da sua terra natal, o que confere a este tropo a própria experiência do peregrino, já que a cerimónia do adeus é, porventura, a que melhor expressa a relação entre o peregrino e Fátima.

Em cada sequência, a narrativa conhece interpolações diversas, mas todos os elementos textuais, incluindo os poemas criados ou recolhidos, têm origem nas fontes referidas sem que alguma coisa seja acrescentada.

Neste trabalho artístico procurou-se, ainda, tornar o discurso mais direto mantendo a linguagem mística e bucólica de uma pastora vidente que descobre, no que a rodeia, uma transparência sobrenatural.

Cada um dos seis tropos foi pensado e composto por um compositor e o trabalho final desenvolveu-se para Coro, Piano e Acordeão. A formação coro-piano e coro-acordeão alternam sempre ao longo da peça, num verdadeiro diálogo tímbrico.

O primeiro tropo, intitulado Memória, para coro-acordeão foi composto por João Madureira; o segundo “O Anjo”, para coro-piano por Alfredo Teixeira. O terceiro tropo designado “A Senhora”, para coro-acordeão foi desenvolvido por Sérgio Azevedo; o quarto – “Francisco” – para coro-piano foi composto por Nuno Côrte-Real e o quinto – “Jacinta” – para coro-acordeão foi composto por Rui Paulo Teixeira. O sexto e último tropo foi composto por Carlos Marecos, para coro-acordeão e piano e intitula-se “Adeus”.

Fonte: Santuário de Fátima

Apresentação do Tropário

Com uma simplicidade quase desconcertante, a narrativa das “Memórias da Irmã Lúcia” impressiona pela autenticidade do caráter testemunhal que preside à motivação da escrita, pelo desapego com que a Autora a confia à interpretação da comunidade em que se insere e pela profundidade que se pode descobrir em intuições que resultam mais da intensidade do vivido e menos de esclarecimentos intelectuais. Por transportar memórias de uma experiência mística cuja carga simbólica e implicação profética são amplamente reconhecidas, este texto encontrou eco nas mais diversas sensibilidades e permitiu uma variedade enriquecedora de acessos e de aproximações.

Ao iniciar a preparação do plano de atividades para a celebração do Centenário das Aparições de Fátima, estávamos conscientes de que as memórias escritas da Irmã Lúcia tinham sido já objeto de variados estudos e de múltiplas concretizações artísticas, desde o teatro ao cinema, da pintura às artes plásticas e à dança. Parecia-nos que este era um tempo propício para desafiar músicos contemporâneos a trabalharem musicalmente os escritos da principal testemunha dos acontecimentos da Cova da Iria. Alimentámos o desejo de ver estes textos fundamentais integrados num projeto artístico com as linguagens da contemporaneidade e com um tratamento erudito equiparável ao que Fátima tem conhecido noutros âmbitos artísticos e culturais.

O interlocutor deste desejo foi Alfredo Teixeira, músico e antropólogo, que imediatamente revisitou os textos e explorou os recursos literários capazes de dar vida a uma leitura musical destes testemunhos de Lúcia. É da sua lavra a seleção dos textos e a elaboração do guião, bem como a conceção geral desta obra, na qual participam seis compositores portugueses.

Esta iniciativa inscreve-se num vasto projeto de abrir o fenómeno Fátima a abordagens multifacetadas, levando a leituras outras, que não ameaçam o que para os crentes é sagrado, mas, antes, permitem que o Sagrado habite os espaços, mais centrais ou mais periféricos, da vida dos homens e mulheres de todos os tempos.

Vítor Coutinho,
Coordenador da Comissão Organizadora do Centenário das Aparições de Fátima

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