Perfil de José Santos

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José Santos tem 68 anos e mora no Vale de Ourém, paróquia de S. Mamede, não muito longe do sítio onde nasceu, no Casal dos Lobos. Na paróquia, já dinamizou a pastoral juvenil, foi catequista e integrou o Conselho Paroquial para os Assuntos Económicos. Atualmente, está no coro litúrgico, é ministro extraordinário da comunhão e dinamiza mensalmente a adoração ao Santíssimo Sacramento.

Marcámos encontro nos Missionários da Consolata, em Fátima, onde é jardineiro há cerca de dez anos. Antes, esteve emigrado na Alemanha e trabalhou nas faianças, mas foi na construção civil, enquanto pedreiro, que iniciou a sua atividade profissional. No serviço à comunidade, esteve sempre “por conta Dele”, porque é assim que se sente útil e realizado.

José Barreiro Santos nasceu há 68 anos em Casal dos Lobos, São Mamede. Com os seis irmãos, vivenciou o testemunho de fé dos pais. Desde cedo, concretizou esta herança numa entrega à vida eclesial. “Ainda me lembro, com 12 anos, de fazer parte de um grupo de adolescentes, que se reunia mensalmente, sob a orientação de um padre da Consolata. Chegámos a participar num encontro de jovens, que se realizou em Lisboa, em 1963.”

José cresceu com ligações fortes à vida da comunidade de Casal dos Lobos, onde dinamizou um grupo de jovens, quando só tinha 15 anos. Chegou à idade adulta numa altura em que se agudizava a guerra do ultramar. Foi cumprir o “tempo da tropa” em Angola, numa zona de conflito, depois de ter “assentado praça”, em 1967. Quando regressou, no final de 1969, começou a namorar. Já durante o período em que esteve na guerra se correspondia com aquela que viria a ser a sua esposa, em 1971. Com o casamento, foi viver para Vale de Ourém, mas, antes, esteve emigrado na Alemanha durante seis anos, período durante o qual nasceram os dois filhos mais velhos. “Comecei por trabalhar numa empresa de tecelagem. Depois, tive um ano sem poder trabalhar, por motivo de doença. No inverno de 1975, a minha mulher e os filhos regressaram de vez a Portugal. Ainda me mantive lá durante um ano a trabalhar na construção, enquanto pedreiro, profissão que já exercia antes de ter ido para o ultramar”, recorda. Nunca se sentiu ligado àquele país, confessa. A proposta de trabalho numa empresa da construção na terra natal, acabou por sentenciar o seu regresso, em 1976.

 

Aceitar o convite

Ao chegar a Portugal participou, desde logo, na vida eclesial da paróquia. Integrou o coro litúrgico, deu catequese e fez o curso de ministro extraordinário da comunhão. A frequência deste curso surgiu, em meados dos anos 80, por convite do padre Joaquim de Almeida Batista, então pároco de São Mamede. Na altura, tinha resolvido deixar a catequese, para dar “lugar aos mais novos”. “Fiquei um pouco receoso ao aceitar o convite, sobretudo pela responsabilidade que exigia. Mesmo assim aceitei e, até agora, acho que tenho cumprido com o meu dever.”

Atualmente, em cada domingo, visita 5 doentes, três antes da Missa e dois depois. A forma como nos conta a prática exigida pela função evidencia a atitude responsável e idónea com que encara esta serviço.

Aprender a viver com a dor

José Santos prepara, desde 2005, na primeira quinta-feira do mês, a adoração ao Santíssimo na paróquia. A ideia surgiu do grupo de ministros extraordinários da comunhão. “Juntámos o grupo e pensámos: e se fizéssemos alguma coisa diferente daquilo que já temos vindo a fazer? Foi-me proposto dinamizar estes momentos e eu aceitei.” Na preparação dos encontros, faz uma pesquisa de textos e contributos, para enriquecer o momento de oração e adoração.

José manteve toda esta entrega a par com os altos e baixos da vida familiar. O início dos anos 80 fazem recordar um dos momentos mais difíceis da sua vida, quando a filha de quatro anos de idade faleceu, vítima de uma leucemia aguda. O acontecimento trágico ocorreu na mesma altura em que nascia o seu filho mais novo. As feridas irreversíveis da perda sentem-se no tom da voz, que se torna mais ténue ao recordar o sucedido. A constância na fé foi a âncora que o ajudou a enfrentar o sofrimento, que entregou a Deus. “Eu tinha uma dor, isso não posso negar, mas agarrei-me à minha fé e disse-Lhe: seja como Tu quiseres!”

 

Ser agente de Deus

Chegámos ao fim da nossa conversa com um quadro geral do percurso de vida de José Santos. O à-vontade e otimismo parecem ser tonalidades sempre presentes na forma com que perspetiva os acontecimentos da sua vida. A matiz continua viva nas lembranças detalhadas dos acontecimentos que o tornaram na pessoa que hoje é. Ainda se lembra do título do hino do encontro de jovens em que participou, em 1963,: “Os jovens escolhem Deus”. Tinha 12 anos e o cântico de então fez eco nos anos de vida que se seguiram.

A fé convicta em Deus, que se propaga através de uma vida pastoral comprometida são evidentes no diálogo de José Santos. A frase que repetiu ao longo da nossa conversa define, na essência, esta entrega: “Eu estou por conta Dele e assim sinto-me útil! Em troca, recebo aquilo que sou e o que tenho…”

 

Discurso direto

Ser ministro extraordinário da comunhão

Tiramos muitas lições daqueles que visitamos, não só porque vamos levar a Sagrada Eucaristia, mas também porque, em alguns casos, somos das poucas visitas que têm, durante a semana. O principal problema com que nos deparamos é o pouco tempo que temos disponível em cada visita. Noto que, muitas vezes, as pessoas gostavam de ter mais tempo para desabafar sobre os seus problemas. Criamos uma relação próxima com estas pessoas e percebemos que a nossa presença é muito importante. 

Tudo isto faz com que tenhamos de encarar esta função com muita responsabilidade, pois acabamos por ser uma espécie de espelho para os de fora. O testemunho que possamos dar serve de exemplo para outros e, pela exposição que um ministro da comunhão tem, acabamos por ser mais apontados, para o bem e para o mal. Nesse sentido, acho que devo fazer um esforço para ser coerente com o que digo e faço.

Se me perguntar porque é que sou ministro da comunhão, a resposta imediata é: porque gosto… Mas essa não é a razão principal, que tem que ver com o facto de sentir que, através do serviço que presto, estou a ajudar alguém através de Jesus.

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