Perfil de José Lopes

“A Gente da Igreja” do jornal Presente desta semana: José Manuel Pereira Lopes, 29 anos, natural do Outeiro do Murtal, paróquia da Atouguia.

Ainda criança, pertenceu à Cruzada Eucarística, ao coro paroquial da Atouguia. Foi ali que fez o percurso da catequese. Aos 17 anos começou a dar catequese, que só interrompeu quando foi estudar para Lisboa, onde se formou na área do planeamento territorial. Quando regressou à paróquia, fez questão de manter a sua ligação com a comunidade.

Actualmente é catequista da adolescência, ministro extraordinário da comunhão e leitor. Ao Presente Leiria-Fátima falou da suas “origens humildes” como factor diferenciador e da fé que lhe foi transmitida de herança e que vale mais que o “euromilhões”.

Encontrámo-nos com José Lopes no final de mais um dia de trabalho, na Câmara Municipal de Ourém, onde é técnico na área do planeamento desde 2010. Quando entrou ao serviço na edilidade, ainda estava a concluir o seu mestrado, no qual defendeu uma tese que tinha aplicação prática no município de Ourém. “Na altura, a necessidade de técnicos da área serviu de porta de entrada.”

Quando nos sentamos a falar com José Lopes, a autenticidade e proximidade com que discursa faz-nos perceber, desde logo, um interlocutor assertivo, convicto e realizado em relação ao percurso que nos vai desfiando. A luta incessante, alimentada por um espírito positivo e consciente dos valores humanos que lhe transmitiram, desvela, por si só, a persistência de quem, por valor próprio, vence na vida. Esta tenacidade é, provavelmente, a marca que sobressai no imediato quando ouvimos a sua estória de vida. A par deste empenho constante, está o valor da “humildade”, que José se esforça por tornar presente em cada momento da sua vida.

 

Um factor diferenciador

José Lopes cresceu na Atouguia. Foi o terceiro e último filho “de gente pobre, humilde, muito ligada à terra, à pequena agricultura de complemento à economia familiar.” O pai é jardineiro e a mãe divide a lide doméstica com um trabalho, a tempo parcial, na área da restauração. “Estas origens humildes são o meu factor diferenciador, porque me permite olhar o mundo de uma forma diferente e com algum pragmatismo.” Pedimos para qualificar as “origens humildes” de que fala. José não hesita em responder: “o aprender a ser autónomo, o saber valorizar pequenas coisas e, sobretudo, a compreender o valor da família”. “Quando não nos podemos compensar através de algo material, aprendemos a perceber o valor das relações humanas e familiares”, acrescenta.

Sobre a sua família em concreto, José diz não ser muito afectiva, mas próxima. O brio com que se refere a esta, torna-se ainda mais evidente quando fala da figura do pai. “Tenho imenso orgulho no meu pai. Se ele tivesse tido a oportunidade que me deu, teria-a aproveitado da melhor maneira, não tenho dúvidas.” Fala das habilitações académicas. Para conseguir chegar onde chegou, em muito contribuiu o esforço da família e a sua dedicação.
Estudou onde o pai trabalhava, no Colégio de São Miguel, em Fátima. Depois das aulas, ajudava os pais nos afazeres de casa e da terra. “Nunca fui um aluno brilhante. Aos 13 anos comecei a trabalhar, nas férias escolares, numa oficina de mecânica de motos e alfaias agrícolas. O mais provável, nessa altura, era vir a ser serralheiro”, admite. Trabalho é uma palavra que faz parte do vocabulário de José. Ainda esteve numa oficina de automóveis e, aos 15 anos, serviu à mesa em cafés e restaurantes, em Fátima, ao mesmo tempo que estudava.

 

A herança familiar

Ao justificar a sua opção profissional, José fala de uma área que concilia os cálculos exactos e a variável que é o Homem, “menos tangível, por ser único e irrepetível”. A sua forma de estar na vida reflete esta dupla perspectiva. Se por um lado o seu percurso parece ter sido delineado a régua e esquadro, há aspectos que revelam a imprevisibilidade de um destino que poderia parecer mais provável. José diz ter contrariado o destino quando, com a sua perseverança, amealhou dinheiro nos trabalhos de fim-de-semana com o intuito de garantir uma vida académica que lhe abrisse portas para um futuro mais próspero.

Com esforço, atingiu a meta a que se propôs e, em 2005, entrou em Engenharia do Território, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. A estada era garantida com a ajuda de uns tios que moravam na capital, mas o resto das despesas vinha dos trabalhos que mantinha na qualidade de trabalhador estudante. Enquanto estudou, integrou-se nas comunidades paroquiais de Moscavide e dos Olivais, onde participava em várias dinâmicas pastorais e eclesiais.

Conseguiu tudo isto “com alguma folga” e graças a uma abnegação que veio com a cartilha da formação cristã que os pais lhe transmitiram. “Os meus pais conseguiram que os três filhos tirassem um curso superior porque nos ensinaram a trabalhar e a poupar num verdadeiro sentido da abnegação das coisas fúteis.” Este sentido de gratidão está presente na proximidade e na empatia que mantêm com a família.

 

As raízes cristãs

Ao falar das raízes cristãs nas quais cresceu, José lembra a oração diária do Rosário em família e a forma comprometida com que lhe foi ensinado a olhar para a fé. “Lembro-me de ir à Missa vespertina à Atouguia, todos os sábados à noite, a cerca de três quilómetros de nossa casa. Íamos sempre a pé e, ainda hoje, guardo a imagem de, em pequeno, ir às cavalitas do meu pai.” Sobre a importância dos espaços de oração em família, recorda um momento difícil pelo qual passaram recentemente, quando a irmã mais velha teve um grave problema de saúde e que foi ultrapassado pela oração da Novena e do Rosário. “É um momento importante em que paramos e consolidamos o espírito familiar. Podemos fazer poucas coisas em família, mas aquele é o nosso momento.”

Actualmente é catequista do 7.ºano e ministro extraordinário da comunhão. O trabalho com os adolescentes vem do gosto que tem em “discutir a fé com pessoas que já têm alguma maturidade para questionarem as suas crenças”. “Sempre gostei de fortalecer a minha fé com os outros e o contacto com os jovens ajuda-me neste processo.” Por privilegiar este contacto no diálogo, gostava de, um dia, dar catequese de adultos. É leitor há alguns anos e, há cerca de um ano e meio, que é ministro extraordinário da comunhão.

Aparte desta entrega pastoral, José dá ainda aulas de informática na universidade sénior de Ourém. “É algo que me realiza muito porque me sinto útil”. José fala desta entrega aos outros como algo que “é mais egoísta do que parece”. “Sinto que me faz mais bem a mim, que a elas.”

 

O percurso

José vai casar este ano e a data já está marcada. Vai morar para uma casa que era do avô e que está a reconstruir, na Atouguia, num esforço de preservar a ligação com as raízes familiares e a comunidade que o viu crescer.

A contribuir para todo este percurso estão os alicerces da fé, diz. “Costumo dizer que a fé é o meu euromilhões. Se me dessem a opção entre escolher uma fé incondicional ou ganhar o euromilhões, eu escolheria a primeira. O ganhar muito dinheiro poderia não trazer nenhum sentido para a minha vida, enquanto que a fé me ajuda a perspectivar os bons e os maus momentos com mais determinação e, sobretudo, a ter esperança e isso, é impagável!”

 

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