Jessica Sousa nasceu em Leiria, mas foi em Santa Eufémia, paróquia de origem dos pais onde agora reside, que viveu a sua infância. Actualmente, coordena os Jovens Sem Fronteiras (JSF) ao nível regional e participa, há um ano, na coordenação nacional do movimento.
Começou a colaborar na catequese assim que recebeu o Crisma. Terminou o curso de Educação Social há pouco tempo e, como muitos jovens da sua idade, vive agora a dificuldade da procura do primeiro emprego. Entre o envio de currículos e a procura de um trabalho na área social, o tempo que sobra não é desperdiçado. Entre a coordenação do movimento e a catequese, há sempre muito para fazer. Jessica celebrou mais um aniversário na passada segunda-feira e, aos 22 anos, tem uma certeza, é a trabalhar com pessoas que se sente realizada.
Jessica tem uma ligação umbilical com a paróquia onde vive. As opções que tomou ao nível pessoal, transparecem a vontade de se manter próxima da comunidade que a viu crescer. Fez o ensino primário em Santa Eufémia e o secundário e o curso superior em Leiria. “Gosto muito de Santa Eufémia! Somos ricos ao nível histórico e humano.” Justifica as decisões que tomou pela “responsabilidade social” que sente em contribuir para a dinamização da comunidade onde vive.
Jessica é uma jovem assertiva e convicta, mas sem receios de assumir as dúvidas, próprias da descoberta na fé que vai fazendo. Na pessoa que hoje é, reconhece a importância dos pais, pela confiança e liberdade que lhe deram para “ouvir o seu coração” e “lutar por aquilo que acredita”. A comunidade em que está inserida também tem a sua quota-parte de responsabilidade. “Cresci com o testemunho de uma população acolhedora, que gosta de ajudar e se faz presente na vida paroquial.” Por fim, fala da geração da qual faz parte, com quem fez o percurso catequético. “Fomos um grupo enorme e que se motivou mutuamente para integrar diversos movimentos.” A infância, recorda-a com um sorriso. “Éramos muitas crianças e juntávamo-nos muitas vezes para brincar.”
100% Jovem sem fronteiras
Encontrámo-nos com Jessica na sala que os JSF utilizam no centro paroquial. Jessica Sousa ingressou no movimento com 14 anos, após ter recebido o Crisma. Foi num dos ensaios para a celebração do Crisma que conheceu o movimento, quando o padre Joaquim Pedrosa falou da dinâmica dos JSF que já ali existiam há alguns anos. A palavra “missão” e a possibilidade de “levar a Palavra de Deus a outras pessoas” despertou, desde logo, a atenção da ainda adolescente. “Era uma altura em que ainda estava a formar a minha identidade. Frequentava o 8.º ano e tinha de decidir que área seguir no secundário, mas já tinha uma certeza: queria trabalhar com pessoas.”
Recorda que foi a primeira experiência missionária que teve em 2008, na semana missionária que fez em Reboreda, Vila Nova de Cerveira, que firmou a sua ligação com os JSF.
Passados oito anos desde que abraçou o movimento, a entrega continua a ser total. “Nas escolhas que faço, tento dedicar-me a 100%… Se não consigo, pelo menos tento!” Para a entrevista, fez questão de vir com a camisola dos JSF, mas o brio com que fala do movimento faz crer que a veste a tempo inteiro.
“Ainda hoje tenho amigos que me perguntam: mas que vida é essa da missão à qual te dedicas tanto? Eu ainda não sei explicar, mas sei que, aqui, sinto-me bem! Acredito em Deus e sinto que Ele quer que eu esteja aqui!” Apesar desta assertividade, confessa que ainda hoje não sabe bem o que é ser missionário. No entanto, não deixa de ver num horizonte próximo participação no “projeto ponte”, que leva jovens sem fronteiras em missão para outros países.
“Foram as pessoas que me fizeram aprofundar esta ligação. Aqui, senti espaço para falar e partilhar a minha fé, sem medos nem receios. Expor as minhas dúvidas e aprofundar a minha descoberta também como cristã.”
À descoberta de um sentido
A passagem pela adolescência trouxe um período de dúvida e distanciamento. “Foi uma altura em que me coloquei todas as perguntas: Será que realmente acredito e tenho fé? Será que é por aqui que me realizo?” Ao lembrar este período, admite que nunca se afastou radicalmente, mas que entrou numa fase de “hibernação”, durante a qual procurou responder às perguntas que teimavam em surgir.
O despertar de novo trouxe uma participação mais convicta. A este propósito, conta o momento chave que a fez “dar o salto”. Ao participar num encontro nacional dos JSF, ouviu os testemunhos de amigos que tinham participado em missões, durante um mês, em África e no Brasil. Alguém lançou a pergunta “quem és tu?”. A interpelação assentava à medida nas dúvidas que se lhe colocavam. Da reflexão, surgiu uma vontade renovada e segura de que era aquela a vida que queria abraçar e que trabalhar em “missão” fazia todo o sentido. Hoje sei que a camisola com que me identifico é a da “missão”.
Trabalhar com as pessoas
As opções que fez concretizaram a vontade que desde cedo sentiu em trabalhar com pessoas, não só por ter integrado o grupo missionário, mas também pela coerência das suas opções académicas. Frequentou o curso tecnológico de Acção Social, ingressou no curso superior de Educação Social e, mais recentemente, fez o estágio curricular no núcleo distrital de Leiria da Rede Europeia Anti-Pobreza. Ali, trabalhou num projeto de intervenção escolar, através do qual deu formação para a sensibilização sobre a pobreza, a exclusão social e os valores. Esta experiência profissional alimentou ainda mais a vontade de trabalhar na área social. “É esta intervenção comunitária que me realiza.”
Uma força que impele à partilha
Perguntamos acerca da firmeza na fé que transparece. “Eu já não me vejo a não acreditar. Sinto que Deus está sempre presente na minha vida e reconheço essa presença diariamente.” Desta certeza e das responsabilidades que a sua participação eclesial exige, sente agora a vontade de aprofundar ainda mais o conhecimento que tem sobre Ele. “Ainda tenho muito para aprender e ultimamente tenho procurado descobri-Lo ainda mais, para poder enriquecer ainda mais o meu testemunho.”
É na partilha da vida com os outros que Jessica encontra o seu alento, uma consciência social que é força motriz e que a torna gente da Igreja. “Há dias em que tenho menos disposição para esta entrega, mas é nesses dias que Deus dá aquele empurrãozinho…”
Os Jovens Sem Fronteiras são um grupo de voluntariado missionário ligado à Congregação do Espírito Santo. Uma das principais acções do movimento são os projetos de missão, quer em Portugal quer no estrangeiro. No nosso país, os JSF estão distribuídos por cerca de 50 paróquias, de norte a sul do país. O lema do movimento traduz o espírito de comunhão que o caracteriza: “estar perto dos que estão longe, sem estar longe dos que estão perto”. Na Diocese, existem cinco grupos, nas paróquias: do Fárrio, do Casal dos Bernardos, da Freixianda, de Nossa Senhora das Misericórdias-Ourém e de Santa Eufémia.