Diana Costa tem 20 anos e é da paróquia de Santa Eufémia. Há dois anos, o PRESENTE falou com ela no âmbito de um projeto do Santuário de Fátima que oferece uma semana de repouso aos pais que têm filhos deficientes, responsabilizando-se, através duma equipa de voluntários, a cuidar dos filhos.
Ela era uma das voluntárias. Estava lá pela quarta vez consecutiva e, só naquele ano, havia assumido dois turnos. Na altura, já não imaginava as férias sem pelo menos uma semana com aqueles jovens. “A alegria que levamos para casa compensa todo o cansaço que possamos ter”, dizia. Dois anos depois, em pleno Ano Santo da Misericórdia, fomos conhecer melhor esta jovem que dedica parte das suas férias às “periferias existenciais”.
Diana cresceu em Santa Eufémia, onde fez a catequese. Nos primeiros dois anos de vida, viveu na Cruz da Areia, ao lado do Colégio Conciliar Maria Imaculada, onde estudou.
Na família, Diana é a filha do meio. Os pais integram as Equipas de Nossa Senhora e preparam Cursos de Preparação para o Matrimónio. “Desde pequena que me lembro de irmos às reuniões em família e foi em família que crescemos na fé”. Reconhece a importância deste percurso dos pais na sua vida e, agora que namora, perspetiva-se a fazer, um dia, a mesma caminhada a dois.
Na paróquia onde vive, deu catequese durante três anos e integra atualmente o coro paroquial. Na sua vida eclesial, assim como no seu crescimento na fé, o movimento dos Focolares foi preponderante. Sente que “o sentido da partilha e da unidade entre os povos” que ali aprendeu influenciaram as opções que tomou. “Aquilo que fa- ço só faz sentido porque o partilho com os outros”, diz, convicta.
“Apaixonei-me por cuidar das pessoas”
Atualmente, Diana Costa está no 3.º ano de enfermagem, na Escola Superior de Saúde de Leiria, mas a sua vida não é só enfermagem, faz questão de dizer. “Estou ligada à música e estudo no conservatório: canto, piano e já estudei guitarra. Fiz teatro, durante muitos anos… Ainda pensei seguir a representação, profissionalmente, mas tive de fazer opções.
A opção pela enfermagem vai ao encontro do cuidar dos outros, contexto no qual conhecemos a Diana, mas a escolha desta área não foi imediata. “Ponderei medicina, mas fui percebendo que não tinha notas para entrar no curso. No final do 12.º ano, só queria música, mas depois, no contexto do voluntariado em Fátima, surgiu, naturalmente, a hipótese de enfermagem, tudo porque me apaixonei pelo cuidar das pessoas, logo a partir do primeiro ano.”
Sair da zona de conforto
Este ano, Diana vai participar como voluntária nas férias para pais com filhos deficientes pelo sexto ano consecutivo. Desde os 15 anos que dedica mais de uma semana das suas férias a este projeto e este ano gostava de disponibilizar um mês inteiro. Conheceu-o por intermédio de umas amigas, que lhe contavam histórias da experiência e que a convidaram a participar. Aceitou o desafio por curiosidade e por se querer superar a si mesma.
“Parti em direção ao desconhecido… Nunca tinha tido este tipo de contacto com pessoas com deficiência e pensei que não ia ser capaz. Depois, percebi que a aproximação é mais fácil e rápida do que podemos imaginar. Quem vai para lá, tem de sair da sua zona de conforto e de se abrir aos outros”, diz, ao lembrar o nervosismo da primeira vez, que volta a cada regresso.
“Penso sempre que vou encontrar alguém com quem não vou ser capaz de lidar, mas depois é tudo mais simples do que imaginava.”
O desafio constante deste tipo de voluntariado é um dos aspetos que motiva Diana, que guarda com carinho cada interação e partilha. Para concretizar, conta a história de um jovem a quem a deficiência profunda lhe torcia os bra- ços e as mãos, impossibilitando-o de executar tarefas mais simples, como o comer uma refeição. A relação que criou com ele partiu de um simples estender de mão.
“Tomávamos as refeições na mesma mesa e lembro-me de, nos primeiros dias, me sentir enjoada pela forma como ele comia. Uma altura em que estava junto a ele, predispus-me a dar o passo necessário e dei-lhe a mão. Sentir o quão suave era a mão dele fez crescer em mim uma vontade de o conhecer melhor. Depois, apercebi-me das reações que a música criava nele e isso também ajudou na aproximação.”
Encarar a vida de uma forma mais simples
Do tempo que ali está, diz receber em troca “o valor da vida, na simplicidade mais autêntica de um sorriso ou de um outro gesto”. Para os conseguir, é importante sair da zona de conforto e querer conhecermo-nos a nós mesmos, para sabermos o que conseguimos dar, sublinha. “No final, ficamos surpreendidos com as nossas capacidades e apercebemo-nos que aquilo que descobrimos sobre nós não é mais que o estado mais genuíno de nós mesmos”.
Após uma experiência de partilha tão intensa, “o regresso ao dia-a-dia é complicado”, diz. “Venho com vontade de a partilhar com todos, mas sinto que não tenho palavras para a descrever e acabo por não conseguir transmitir o quanto aquela experiência me enriquece. Uma semana daquelas férias mudava muita gente, porque encaravam a vida de uma forma bem mais simples.”
Um sorriso que desembrulha
Em anos anteriores, ela sentia que a chama daquilo que lá vivia se extinguia no regresso ao dia- -a-dia. “No ano passado, foi diferente”, diz, ao falar das visitas que tem feito a jovens deficientes nas suas casas ou instituições, ao longo do ano.
Num Jubileu da Misericórdia em que o Papa convida a centrarmo-nos nas “periferias existenciais”, o voluntariado de Diana é um exemplo prático do dia-a-dia.
“Passar férias com as ‘periferias’ são as melhores férias que posso ter. É toda uma experiência humana e de fé. Daí que sinta vontade de dar o meu testemunho, para conseguir acender esta chama noutras pessoas”.
Esta semana de férias já a define. O sorriso constante que veio embrulhado à conversa faz criar laços imediatos. “É uma expressão que me é confortável”, diz, sempre a sorrir. Apesar da sua timidez natural, este sorriso desembrulha uma vida em que os outros são o presente ideal.
“Como cristã, quero percorrer o meu caminho de santidade com e para os outros, só assim faz sentido.”
Como ela própria diz, a sua vida “não é só enfermagem”, vai muito além de uma disciplina e do conforto da sua própria vida, ao encontro dos outros… Dedica- -lhes tempo das férias e isso já é motivo de sobra para sorrir e fazer sorrir.