Ana Ferreira e Nuno Prazeres estão casados há nove anos e têm dois filhos: Alexandre e Bernardo. A palavra missão é central na vida de cada um e na que agora partilham.
Vivem em Fátima, onde trabalham: ela como professora de EMRC (Educação Moral e Religiosa Católica) e ele na direção do movimento do Apostolado Mundial de Fátima. Foi a entrega missionária que os juntou e que os conduziu ao Matrimónio. Duas vidas que, abertas ao plano divino, frutificaram no amor conjugal e se tornaram família. No dom da vida que receberam, querem perpetuar o testemunho da felicidade que agora sentem em família. A Diogo Carvalho Alves
As infâncias de Ana e Nuno distam entre si mais de uma centena de quilómetros. Ela é natural da paróquia de São Domingos de Rana, do Patriarcado de Lisboa, e ele nasceu e viveu a sua infância em Boleiros, na paróquia de Fátima. Curiosamente, foi a distância que contornou a improbabilidade de um encontro e os tornou amigos em Moçambique, durante os dois anos em que estiveram em missão, ela ligada aos Leigos para o Desenvolvimento (LD) e ele aos Missionários da Consolata. Até ao encontro, Ana e Nuno seguiram trilhos distintos. Enquanto ele frequentou o seminário, ela procurava o seu caminho espiritual.
Duas vidas
Nuno é o quarto de cinco filhos. Nasceu numa família ligada ao campo. Pela proximidade à “terra dos Pastorinhos”, criou, desde cedo, uma ligação muito próxima à Mensagem de Fátima, até porque cresceu a ouvir relatos das aparições na primeira pessoa. Contava-os o avô, que foi amigo dos videntes e que presenciou o “milagre do Sol”. Deste testemunho crente, Nuno recorda a insistência na importância da oração. “O meu avô rezava o Terço todos os dias e os meus pais faziam o mesmo.” O facto de, depois de ter crescido com o testemunho do avô, ter ido trabalhar para uma associação que divulga a Mensagem de Fátima em todo o mundo, é, no seu entender, um sinal de que está a cumprir os desígnios que Deus tem para si.
Apesar da forte ligação com as raízes, Nuno cedo deixou a aldeia que o viu nascer. Os estudos no Seminário dos Missionários da Consolata e as viagens que fez no âmbito da sua formação em Teologia levaram-no até Itália e Inglaterra.
O fascínio pela missão nasceu quando, aos 12 anos, recebeu na sua terra a visita de um missionário. O convite para ajudar os mais pobres pelo mundo fez eco no seu coração e concretizou-se anos mais tarde quando, terminada a sua caminhada formativa e depois muita reflexão, abraçou a vontade que tinha em ser missionário.
Uma conversão tardia
Apesar de ter crescido numa família católica, Ana deixou, por vontade própria, ainda na adolescência, de frequentar a catequese. “Eu fazia perguntas à catequista e ela não me conseguia explicar aquilo que eu queria. Foi a partir daí que me distanciei da Igreja”.
Durante os anos seguintes, foi procurando encontrar respostas para as suas inquietações, mas sempre insatisfeita com o que ia encontrando. Um certo dia, descobriu um artigo numa revista sobre o trabalho missionário dos Leigos para o Desenvolvimento. “Aquilo despertou-me a atenção. No entanto, dizia lá que era uma organização católica e eu pensei: se calhar isto não é para mim!”. Mesmo assim, destacou a folha e guardou-a no meio de um livro. Os anos passaram e, já no final da faculdade, a folha que guardara veio parar-lhe de novo às mãos. Desta vez, resolveu contactar a organização, pedindo mais informações. Foi convidada a participar numa sessão de apresentação e percebeu então que era aquele o caminho que queria seguir. Ana recorda a primeira conversa que teve com um dos padres que acompanhavam a formação: “Eu disse-lhe que gostava muito do voluntariado, mas que era um bocado alérgica às coisas da Igreja e que nem sequer ia à Missa. Ele disse-me: não te preocupes, o que tiver que ser, será!”. Este viria a ser o ano da sua conversão, o momento em que percebeu como é que Deus entrava na história da sua vida e a convidava a fazer caminho com Ele. “No fim de um ano de formação, disponibilizei-me para fazer a vontade de Deus e parti em missão para Moçambique”.
A missão de ser família
Os percursos de vida distintos de Ana e Nuno encontram-se no “sim” que disseram à missão. Nuno tinha saído do Seminário há poucos anos e Ana estava num processo de reaproximação da Igreja e ponderava a hipótese da vida consagrada. Ana chegou a África em outubro de 2000. Oito meses depois, chegava Nuno, para integrar a equipa pastoral da mesma paróquia. A missão de cada um realizava-se, sobretudo, nas aulas que davam, na catequese e noutros serviços de promoção humana e cristã. “O dia-a-dia da missão era intenso na entrega e na partilha de vida, o que levou ao crescimento de uma grande amizade entre os dois”, conta Nuno. Os projetos em que estavam envolvidos proporcionaram-lhes uma grande cumplicidade e conhecimento mútuo. Já em Portugal, de regresso às casas das suas famílias, mantiveram o contacto um com o outro e aprofundaram a relação durante um tempo de namoro. “Começámos a perceber que Deus queria que o nosso projeto de vida fosse vivido a dois”. A sintonia de valores e sobretudo a fé que os unia em torno de um mesmo ideal foram “os ingredientes necessários” para descobrirem no Matrimónio a sua vocação.
A providência divina
A ligação com a missão é uma realidade que ainda hoje está “muito presente” na vocação familiar que assumiram. Os seus percursos de vida, que os fizeram família, dão-lhes também a fé na garantia de que Deus dá o necessário para que tudo corra como deve. A consciência desta certeza veio de uma abertura de cada um ao projeto de Deus, dizem. “As coisas podem não ter corrido como planeámos, mas Deus lá tinha os seus planos…” A família é agora a missão. A experiência enquanto missionários não se limitou a juntar no tempo as duas vidas que eram separadas pelo espaço, mas criou uma comunhão que agora querem perpetuar no dom da vida que receberam. “Queremos, pelo nosso testemunho, ajudar os nossos filhos a fazerem o seu caminho”.
É assim, juntos com Deus, que vão descobrindo a “beleza e a alegria de viver em família”.