Padre Américo, já temos saudades suas

Eram estes diálogos, às vezes curtos, que me faziam crer ser uma maneira — a melhor maneira — de ser sacerdote: com uma atenção especial com quem se cruzava, sem recriminações nem julgamentos.

O padre Américo morreu no dia em que a Diocese de Leiria-Fátima fez 105 anos que foi restaurada. Mas isso é um pormenor de somenos importância.

Ontem partiu para a casa do Pai um Homem que marcou indelevelmente o curso da história da minha vida e com quem travei uma amizade especial que se foi cimentando ao longo dos anos, sobretudo depois de um acidente grave de que conseguiu recuperar totalmente.

Segundo muitos dos que privavam com ele, até ficou melhor depois de então: o sentido de humor e a simpatia foram uma característica muito própria, com aquela pitadinha q.b. de ironia, sobretudo no que tocava a questões futebolísticas, não fosse ele de coração esverdeado e eu, um ‘papoila’, como ele gostava de referir, em alusão ao hino do meu clube de afeição.

O ano em que entrei para o Seminário foi o primeiro ano dele como reitor daquela instituição. Dez anos depois, em 94, era também ele que me chamava ao gabinete dele para me dizer “ó rapaz, isto é capaz de não ser o melhor para ti; vai experimentar outros ares”. Hoje, tantos anos depois, continuo a dizer que foi das melhores coisas que fizeram por mim, mesmo que, na altura, isso me deixasse um amargo por ter de abandonar uma “família” que construira durante uma década.

Curiosamente, foi (alguns anos) depois desse episódio que, entre nós, começou a criar-se uma amizade e simpatia especial. Se com outros, isso daria lugar a alguma acrimónia e antipatia, comigo sucedeu-se exactamente o contrário. Não sei por quê, fiquei sempre com a ideia de que ele tinha a secreta impressão de que, ao convidar-me a sair, tinha tomado a decisão errada. E seria esse o pecado que ele esforçava-se por redimir. Sem necessidade. Como disse, só tenho de lhe agradecer a coragem que me faltou a mim.

Era um regalo cruzar-me com ele. É certo que, algumas vezes, eu nem percebia o que dizia ou onde queria chegar. Lá está: a fina ironia tem destas coisas e a sua dicção muita característica também não ajudava. Mas ríamos os dois. E isso é cola que cimenta relações. E perguntava sempre pela família: como está a Sofia (quando sabia muito bem que se chamava Sónia)? e o Sr. Afonso? e o Sr. João? Eram estes diálogos, às vezes curtos, que me faziam crer ser uma maneira — a melhor maneira — de ser sacerdote: com uma atenção especial com quem se cruzava, sem recriminações nem julgamentos. E com a idade, tornou-se cada vez mais jovem, mais desprendido.

A partir de agora, vou lembrar com saudade a única homilia que ouvi que tinha uns toques de stand-up, quando ainda nem se falava nisso. O “evangelho dos porcos” era um momento alto na vida comunitária de um grupo de putos com 12, 13 anos. (Satisfaçam a vossa curiosidade aqui: Mateus 8, 28-34.) A partir de agora vou lembrar com saudade aquelas aulas de inglês e os desenhos dos taxis londrinos feitos no quadro preto. Foram episódios assim que aqueceram as salas frias e húmidas daquele edifício austero. E ainda hoje aquecem a memória.

Até sempre, padre Américo!

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