É uma das primeiras ordens fundadas em território nacional e tem uma longa história, relacionada sobretudo com o ensino. Extinta em 1834, a congregação dos “Crúzios” foi restaurada em 1976, por iniciativa da Obra dos Santos Anjos.
Apostolado sacerdotal
antes do início da nacionalidade
O primeiro Mosteiro dos Cónegos Regulares da Santa Cruz foi fundado em Coimbra, 8 anos antes da fundação de Portugal como reino, no ano 1131, por um grupo de doze sacerdotes. Dentre eles, Teotónio foi eleito primeiro prior, que por seu exemplo de vida santa, sábio governo e animação espiritual promoveu a vida religiosa na comunidade e atraiu numerosas vocações de todo o país para os “Crúzios”.
Falecido em 18 de fevereiro de 1162, São Teotónio é o primeiro Santo português a ser canonizado e é celebrado na Liturgia como reformador da vida religiosa em Portugal. Já nos primeiros anos, os “Crúzios” assumiram várias paróquias em Coimbra e no território de Leiria, onde se ergueria o futuro Santuário de Fátima. No decorrer do tempo, formou-se um grande território eclesiástico sob a jurisdição do Prior-Mor de Santa Cruz, até que em 1545 o Papa Paulo III erigiu a atual diocese de Leiria-Fátima.
A partir do ano 1527, procedeu-se a uma reforma do Mosteiro da Santa Cruz de Coimbra. Outros mosteiros de Cónegos de Portugal associaram-se a este, constituindo a Congregação da Santa Cruz, sob a guia do Mosteiro de Coimbra.
A reforma do estudo claustral da Ordem em Coimbra levou à fundação do “Collegium Sapientiae”, que por séculos permaneceu um importante centro cultural e académico, especialmente na área da Teologia e da Liturgia. Ao mesmo tempo, este “Collegium Sapientiae” esteve relacionado com a Universidade de Coimbra, onde lecionavam muitos professores da Ordem. Devido à sua espiritualidade mariana, que remonta às origens, a Ordem sempre defendeu a doutrina da Imaculada Conceição. Embora fossem enviados missionários para as Índias, para a África e para o Brasil, a Ordem estabeleceu as suas casas somente em Portugal. Por ocasião da supressão de todas as Ordens religiosas em Portugal, no ano de 1834, também a Ordem da Santa Cruz foi suprimida pelo governo civil. O último membro faleceu em 1903, D. Joaquim da Boa Morte.
Restauração
A restauração da Ordem foi empreendida no ano de 1976 por membros da “Obra dos Santos Anjos” (Opus Sanctorum Angelorum), cuja espiritualidade harmonizava integralmente com a dos Crúzios. No ano de 1979, a Congregação para os Religiosos formalizou a restauração da Ordem, permitindo-lhe acrescentar ao seu património espiritual e apostólico a devoção particular aos Santos Anjos, proveniente da referida obra, de acordo com a comprovada tradição da Igreja.
Atualmente, a Ordem dos Cónegos Regulares da Santa Cruz está presente na Europa (Portugal, Áustria, Alemanha e Itália), na América Latina (Brasil, Colômbia e México) e na Ásia (Índia e Filipinas). Ao lado dos sacerdotes, os irmãos religiosos têm lugar importante na vida e na missão da Ordem, servindo nos Mosteiros e no apostolado. Estão ligadas à Ordem dos Cónegos Regulares a Congregação das Irmãs da Santa Cruz, a Comunidade das Auxiliares Missionárias da Santa Cruz e diversas associações de fiéis, de sacerdotes e de leigos.
Carisma e ação
Pela profissão dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, os Irmãos da Ordem da Santa Cruz procuram dar uma resposta integral ao amor de Deus que foi revelado em Cristo crucificado.
A Ordem segue a regra de Santo Agostinho, que antepõe este amor como fim principal: “Antes de tudo, irmãos queridos, amai a Deus e, em seguida, ao próximo, visto serem estes os principais mandamentos que nos foram dados”.
Os Santos Anjos são para os religiosos como que modelos deste amor a Deus e ao próximo, pois adoram o Senhor sem cessar nos céus (cf. Is 6,2; Ap 4,8) e vêm ao nosso encontro, por mandato de Deus, para assistir-nos a nós, que somos chamados a herdar com eles a bem-aventurança celestial (cf. Hb 1,14 e 12,22-24).
A Ordem empenha-se, de modo particular, em:
– adorar a Deus por meio de Jesus Cristo no Espírito Santo, participando no amor de Cristo com o qual Ele glorificou o Pai em nome de todas as criaturas (cf. Jo 17);
– contemplar a Palavra e a Obra salvífica de Deus, para aprender a eminente ciência de Jesus Cristo (cf. Fl 3,8) e do seu amor crucificado (cf. Ef 3,18-19);
– seguir a Jesus no caminho da Cruz, em espírito de expiação, completando o que falta às tribulações de Cristo pelo Seu Corpo que é a Igreja (cf. Cl 1,24);
– testemunhar e proclamar Jesus Cristo, único Salvador do mundo, “poder de Deus e sabedoria de Deus” (cf. 1 Cor 1,23-24), através da missão.
Estas quatro dimensões do mistério da Salvação – adoração, contemplação, expiação e missão – exprimem o carisma dos Crúzios no seu serviço a Deus e ao próximo, vivido em comunhão com os Santos Anjos.
O brasão da Ordem apresenta dois Anjos adorando a Cruz de nosso Senhor, tendo esta no centro um círculo que representa a Santíssima Eucaristia. Aos pés da Cruz encontra-se um “M”, simbolizando Maria. Este brasão resume concisamente o conteúdo da sua espiritualidade.
A sua ação actual centra-se, sobretudo, no apostolado formativo, em encontros, retiros, e apoio à pastoral local. Liturgia solene, adoração eucarística, tempos de oração pessoal e comunitária, trabalho, e, tempos de lazer e descanso. O Priorado da Santa cruz em Braga é responsável pelo apostolado da Obra dos Santos Anjos, cujo secretariado é em Fátima. Aqui está também uma comunidade das Irmãs da Santa Cruz e o instituto de ação social “Obra de Nossa Senhora da Purificação”.
Testemunho vocacional
“Comecei a namorar e cheguei a ficar noivo”
François Maria Joseph de Deken, conhecido em Portugal pelo nome de Francisco, assumiu este ano a função de superior delegado da comunidade de Fátima. Natural da diocese de Antuérpia, na Bélgica, tem 66 anos de idade e 36 de vida religiosa. Resume assim a história da sua vocação:
Logo após o estudo secundário, entrei para o Seminário, mas saí depois de um ano. Entretanto, tirei outros cursos, comecei a namorar e cheguei a ficar noivo, mas o passo do casamento não chegou a realizar-se.
Fui trabalhando numa casa de acompanhamento de crianças em dificuldades, enquanto ia conhecendo e participando nas atividades da Legião de Maria e da Legião das Pequenas Almas. Rezava e frequentava diariamente a Eucaristia e assim cresceu de novo o desejo de trabalhar na “vinha do Senhor”, desta vez não no Seminário Diocesano, mas na vida religiosa.
Foi especialmente numa peregrinação, e particularmente em Fátima, que tomei a decisão de deixar tudo para seguir o Senhor na Ordem dos Cónegos Regrantes da Santa Cruz de Coimbra, na qual entrei em 1979, pouco depois da sua restauração.
P. Francisco
Números
No mundo
Casas: 12 em função, 4 desativadas (provisoriamente)
Membros: 132 (com profissão)
Em Portugal
Casas: 2
Membros: 11
Na diocese
Casas: 1
Membros: 2 sacerdotes e 1 irmão
Mais novo: 63 anos
Mais velho: 66 anos
Média etária: 64 anos