Ordem de Santa Clara

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Aos 18 anos, Clara de Assis cruza-se com o conterrâneo Francisco e percebe que a sua espiritualidade é a resposta aos anseios mais profundos de seguir Cristo pobre e crucificado. É por ele consagrada, em 1211, recolhendo à clausura de S. Damião, onde acolhe nesta nova Ordem outras jovens com o mesmo ideal.

 

 

“Abraçar Cristo pobre” na vida
e abraçar o mundo na oração

As origens de Clara são parecidas com as de Francisco, também ela nascida no seio de uma família de cavaleiros, pertencente à mais alta nobreza. No entanto, o fausto em que vivia não a ofuscava, procurando sempre repartir a sua abundância com os pobres. Aquele encontro com o fundador da Ordem dos Franciscanos vai levá-la a uma conversão ainda mais radical, fugindo da casa paterna para se consagrar a Deus. A sua forma de vida passa a ser observar o Evangelho nas suas mais elevadas exigências: “viver em obediência, sem próprio, em castidade”, com o ideal de “crescer cada vez mais no amor fraterno e na mútua caridade”.

O carisma da Ordem será, nessa linha, “viver em comum, em santa unidade, sob a mais alta pobreza”. Não se trata de ter ou não ter bens, mas sim assumir como bem único e absoluto a pessoa de Jesus Cristo. É esse o lema que deixa às irmãs: “Como virgem pobre, abraça a Cristo pobre”. No recolhimento da clausura, seguem-n’O em pobreza e humildade, no trabalho e na oração, no silêncio e na vida fraterna, buscando na contemplação dos mistérios divinos o Rosto de Deus.

Modelo é também Maria, protetora da Ordem sob a invocação da Imaculada Conceição, donde brota uma espiritualidade esponsal e materna, procurando abraçar a humanidade e levá-la a Deus pela oração, nas circunstâncias mais diversas e concretas, com a mãe que leva o seu filho necessitado, doente e pobre até ao Pai.

 

Rápida expansão

O seu exemplo atrai muitas outras jovens e os mosteiros multiplicam-se, dentro e fora de Itália, sendo já 65 – em Itália, França, Alemanha e Espanha – em 1253, ano da sua morte e da aprovação da sua Regra. Nas suas exéquias estiveram presentes o Papa, a Cúria Romana e uma imensa multidão, e seria canonizada dois anos depois.

A primeira fundação em Portugal surge logo no ano de 1258, na cidade de Lamego, e virão a ser cerca de 80 mosteiros espalhados pelo continente e ilhas. A lei civil da extinção das ordens religiosas, em 1834 e 1901, exterminou-os aos poucos e a República de 1910 deu-lhes o golpe final. Sobreviveram apenas três grupos de irmãs, em Lisboa, no Louriçal e na Madeira, donde se formaram mais nove mosteiros, já na segunda metade do século XX.

Dois deles surgiram na diocese de Leiria-Fátima, a partir de 1965, o Mosteiro de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, e o Mosteiro de Santa Clara e do Santíssimo Sacramento, em Monte Real.

 

Missão em oração

2015-06-09 sopra3Perguntamos como é o seu dia a dia. Levantam-se às 06h30 e a primeira oração – Laudes, Tercia, meditação e adoração ao Santíssimo exposto – começa meia hora depois, prolongando-se até às 08h30. Sempre em oração e silêncio, a comunidade dirige-se em procissão para o refeitório e toma o pequeno-almoço. Depois, cada irmã dedica-se ao respetivo trabalho doméstico, mantendo-se sempre por turnos a adoração eucarística. Às 12h00, voltam a reunir-se para a oração do Angelus e de Sexta, seguindo-se o almoço “acompanhado pela leitura do Observatório Romano, de notícias da Diocese e outras de interesse espiritual e eclesial”. A refeição termina com dois terços do Rosário e, às 14h00, o sino chama ao silêncio maior: “cada irmã recolhe à sua cela, onde pode fazer uma leitura espiritual, orar ou descansar, até à oração comunitária de Noa, pelas 15h00. A tarde continua com formação, estudo e música, e às 17h20 regressam ao coro para a terceira parte do Rosário, com outros fiéis que vêm à sua igreja a essa hora, acompanhando também a celebração da Eucaristia com o canto de Vésperas. Ainda rezam o Ofício de Leituras e preparam a liturgia e os cânticos do dia seguinte. Jantam às 20h00 e ficam em “recreio” até às 21h40, com o dia comunitário a terminar em oração de Completas.

Assumem como missão “o acolhimento fraterno de todos os que acorrem a nós com pedidos de oração, ajuda ou simples conselho, na atenção aos problemas e sofrimentos da Igreja e do mundo, assim como aos projetos e acontecimentos pastorais da Diocese e ao acompanhamento de todos pela oração”, resume a irmã Maria do Rosário, natural de Amor e abadessa da comunidade de Monte Real. Neste momento, têm em mãos a tarefa específica de fundar um mosteiro em Tunubibi, Timor-Leste.

 

Testemunho vocacional

“Um grande e belíssimo mistério de amor”

2015-06-09 sopra4A história da minha vocação é um grande e belíssimo mistério de amor. Sou natural da diocese de Beja, onde tive uma infância feliz. Enquanto a minha mãe cuidava dos quatro, ensinando a arte de amar, o meu pai, empresário agrícola, educava na obrigação de estudar e nos deveres da honestidade. Aos sábados, frequentávamos a catequese e aos domingos íamos à Missa.

Mas eu não era batizada e crescia num desejo imenso de receber este sacramento. Esperei longos anos e penso que não passou um só dia sem que sonhasse com isso. Foi quando me licenciei em Clássicas, na Universidade de Aveiro, que recebi o Batismo, a Confirmação e a Eucaristia, a 8 de maio de 1994.

Quando saí da igreja, era uma pessoa diferente. O sonho de ser professora desapareceu dos meus horizontes e uma só coisa me preenchia: o desejo de Deus. Ainda fui professora de Português, Latim e Grego, e gostei da experiência. Pratiquei natação, BTT, campismo… mas o Mistério de Deus atraía-me poderosamente e queimava-me o coração. Deus tornou-Se o meu grande e único sonho. Compreendi então que Jesus me chamava.

Um dia, telefonei para as informações a pedir o número de um amigo que morava em Carcavelos. Marquei o número e ouvi do outro lado da linha: “Irmãs Clarissas de Monte Real”. Vi nisso um sinal de Deus e a urgência de dizer “sim”. Terminei o contrato com a escola, rejeitei o convite de ficar efectiva no Algarve e despedi-me dos meus pais. Entrei na clausura a 19 de março de 2000.

Esta entrada é um momento muito solene para quem se consagra à vida contemplativa. Penetrar no Claustro de Clara foi penetrar num mundo novo, todo cheio de silêncio e mistério: entrei na escola de Nossa Senhora. Aqui, o centro da vida e da existência é Jesus Eucaristia. Sob o Seu olhar, seguindo o modelo de Maria, entregamo-nos à oração, trabalho, estudo e meditação. Tudo no Claustro é adoração e desagravo ao Santíssimo Sacramento e intercessão pela humanidade. A glória de Deus e a salvação das almas é a missão urgente que abraçamos dia a dia, com um amor sempre crescente. É também a disciplina espiritual que nos torna cada vez mais sensíveis a Deus e ao próximo.

Por isso, concluo como comecei: a minha vocação é uma história de amor; Jesus olhou para mim e eu olhei para Ele.

Irmã Ana Maria, clarissa em Monte Real

 

Números

No mundo

Casas: 900

Membros: cerca de 20.000

Em Portugal

Casas: 12

Membros: cerca de 150

Na Diocese:

Casas: 2

Membros: 38

Mais nova: 28 anos

Mais velha: 91 anos

Média etária: 50 anos

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