O SUFOCO DOS ESPINHOS

Começo por uma pergunta que talvez muitos façam, mas poucos formulam, por acanhamento ou medo de uma resposta que os comprometa: será a santidade acessível a todos? Ou de outro modo: todos podem ser santos?

O Concílio Vaticano II, num contexto em que não deixa dúvidas sobre o “todos”, diz expressamente que “todos são chamados à santidade” (LG 32).

A liturgia romana celebra hoje a festa de São Francisco de Sales: da síntese da sua biografia presente na última edição do Missal Romano, transcrevo, com a devida vénia: (São Francisco de Sales) “mostrou-se verdadeiro pastor do clero e dos fiéis, instruindo-os com os seus escritos e obras, onde propõe uma via de santidade, acessível a todas as condições sociais, fundada inteiramente no amor de Deus”.

Sem querer comentar e muito menos discutir o conteúdo desta síntese, centro-me no problema do que, da parte de Deus, é ou não é acessível ao homem: também não quero entrar em discussões teológicas que, respeitando integralmente os limites da fé no mistério de Deus, são necessárias e adequadas à crise intelectual em que vive mergulhado o nosso mundo.

Afinal, em que ficamos: a santidade é ou não é acessível a todos?

Bom. Vamos por partes: primeiramente, esclareçamos os equívocos que podem surgir da síntese citada do Missal Romano (edição portuguesa).

São Francisco de Sales, ou outro santo qualquer, sobre a santidade, poderia apenas dizer às pessoas que todos, quaisquer sejam as circunstâncias concretas da sua vida corrente, têm possibilidade de se santificar, vivendo o amor de Deus, nessas mesmas circunstâncias. Esta é, aliás, a doutrina de sempre, vivida por milhões de cristãos, antes e depois de São Francisco de Sales.

O que este santo fez, e muito bem, certamente impulsionado pelo Espírito Santo, fonte de toda a caridade pastoral, foi, com ciência e força adequadas, chamar a atenção para aquilo que, por toda uma série de práticas e estruturas, não tinha ainda sido enquadrado na literatura ascética, demasiado dependente da hagiografia ligada à vida religiosa.

Acontece, porém, que a rotina das estruturas canónicas e da teologia delas dependente, pode impedir uma determinada doutrina de conseguir impor-se às autoridades competentes, com a rapidez necessária para a sua protecção e divulgação.

Isso, porém, não deixa de ser providencial: a história ensina-nos que a vida precede a lei, e ainda bem, porque assim, quando surge a lei, não espantará senão os que andam muito distraídos.

Quando passamos uma vista de olhos, ainda que muito superficial, sobre a história da espiritualidade laical dos três últimos séculos, ela quase não existe, apesar dos esforços de tantos santos, que acabaram como fundadores de ordens religiosas que, de facto, não estavam nos seus planos iniciais. O que, aliás, aconteceu com o próprio São Francisco de Sales.

Muito distraída anda ainda hoje, grande quantidade de pessoas, mesmo depois das solenes afirmações do último concílio ecuménico, sobre a universalidade da vocação à santidade, no seio da Igreja.

Portanto, para encurtarmos razões, o que, neste campo, segundo a doutrina do Concílio, é universal, é o chamamento à perfeição da caridade: todos são chamados à santidade; mas para esta não há qualquer via de acessibilidade fora da graça de Deus: porque só Ele é santo e chama quem quer a participar da Sua santidade.

O que fica para nós, é acolher esse chamamento e, com a graça de Deus, fazer que se torne cada vez mais forte dentro de nós, com os frutos resultantes da combinação da Bondade divina com a nossa disponibilidade interior.

Segundo o meu entender, podemos aplicar aqui toda a amplitude da parábola do semeador, que lemos esta manhã, na versão de São Marcos (4, 1-20).

Vemos que se perdem, por razões várias, três quartos da semente.

Generalizamos, creio que legitimamente, o conceito de “palavra” e chamamos “espinhos” a tudo o que, de qualquer modo, faz com que sejamos infiéis a essa vocação divina, que, o Vaticano II liga ao próprio Baptismo.

A santidade não é acessível a ninguém; mas todos podem ser santos, isto é, participar na santidade de Deus, se forem fiéis, e na medida em o que o forem, à Graça.

E sejamos optimistas: porque, como afirmou há poucas décadas, um dos papas mais ilustres dos últimos séculos, nunca houve tantos santos na Igreja como hoje.

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